Três milhões de pessoas falharam os rastreios de cancro desde o início da pandemia no Reino Unido por suspensão ou limitação dos serviços, de acordo com a Cancer Research UK . Os números mostram que só entre abril e agosto de 2020, foram feitas menos 350 000 referências de suspeitas de cancro, face ao mesmo período em 2019.
“Em Inglaterra, houve uma queda de 39% nos sete principais testes de diagnóstico entre março e julho deste ano, o que equivale a cerca de 3,2 milhões testes a menos, face ao mesmo período do ano passado.”
“Os atrasos no diagnóstico e encaminhamento conduzirão indiscutivelmente a um excesso de mortalidade precoce do cancro; embora os números exatos sejam incertos, mais de 60 000 anos de vida poderão ser perdidos durante os próximos 5-10 anos.”
Apesar de os números estarem progressivamente a melhorar, Michelle Mitchell, diretora executiva da Cancer Research UK, afirmou:
“Sem dúvida que a Covid-19 tem tido um impacto realmente devastador nos serviços e pacientes com cancro”.
Pandemia pode gerar excesso de mortalidade nos doentes com cancro
Um outro estudo realizado em Inglaterra reporta também “reduções drásticas na procura e oferta de serviços oncológicos”, mesmo depois de reduzidas as restrições do lockdown. Este cenário pode contribuir, num horizonte temporal de um ano, “para um substancial excesso de mortalidade entre os doentes com cancro e multimorbilidades”.
“É urgente compreender de que forma a recuperação dos serviços de clínica geral, oncologia e outros serviços hospitalares pode atenuar melhor estes riscos de excesso de mortalidade a longo prazo.”
De acordo com o relatório, os números mostram uma redução das consultas urgentes (-70,4%) e do atendimento em quimioterapia (-41,5%). Esta tendência manteve-se até 31 de maio, ainda que com uma ligeira recuperação:
- Consultas urgentes: -44,5%
- Atendimento quimioterapia: -31,2%
Houve ainda um registo de excesso de mortes por cancro a curto prazo (sem Covid-19), com um pico de risco relativo (RR) de 1,17 na semana que terminou a 3 de Abril. O estudo estima que 40% a 80% dos doentes com cancro serão afetados pela pandemia a longo prazo.
“Com 40% de pessoas afetadas, estimamos que no espaço de um ano se registem mortes em excesso (diretas e indiretas) de pessoas com cancro – entre 7 165 e 17 910 – com base num risco relativo de 1,2 e 1,5, respetivamente. Cerca de 78% das mortes em excesso ocorrerão em doentes com mais de uma comorbilidade.”