Skip to content

Países europeus com grandes diferenças de mortalidade da 1ª para a 2ª vaga

Alguns países tiveram níveis muito baixos de mortalidade Covid na primeira vaga. No entanto, na segunda os valores de mortalidade em muitos deles dispararam.

Dos 10 países com maior mortalidade Covid acumulada apenas 2 estiveram entre os 10 com maior mortalidade na primeira vaga, num total de 35 países europeus.

Um deles, a Bélgica é conhecida por ter um sistema de contagem mais abrangente e por isso ter valores significativamente superiores aos restantes países. Ainda assim, baixou de país com maior número de mortes para o 14ª na segunda época (20-21).

Destaque para Países como: a República Checa, país que passou do 7º país com menor mortalidade Covid na primeira vaga para a 2º maior; a Eslováquia que foi o com menor mortalidade na primeira e passou para o 5º maior na segunda ou a Hungria que passou da 12º menor para ser o país com maior mortalidade na segunda época.

Cinco dos países entre os dez com menor letalidade na primeira passaram para o top-10 na segunda.

Por outro lado, dos 10 países com menor mortalidade Covid acumulada apenas 3 estiveram entre os 10 com menor mortalidade na primeira vaga, num total de 35 países europeus. Esses três países são a Estónia, a Finlândia e a Noruega e parecem constituir uma exceção.

Muitos países que estavam entre os primeiros em termos de mortalidade desceram significativamente nessa lista na segunda vaga. Por exemplo, a Suécia passou do 5º maior na primeira vaga para a 9º menor na segunda; a Irlanda passou da 8ª maior para a 5ª menor e a Holanda passou da 7ª maior para a 7ª com menor mortalidade.

Excesso de mortalidade

O excesso de mortalidade é um bom indicador porque reflete o impacto geral (epidemia e medidas) e pode atenuar algumas diferenças de contagem ou testagem.

Podemos constatar que os países com maior primeira vaga, tiveram quase todos um grande pico, que rapidamente se esbateu na altura da primavera. Os países mantiveram uma mortalidade perto do normal ou ligeiramente acima da média (exceção de um pico de mortalidade da Bélgica no verão).

No Outono, os valores aumentaram na generalidade dos países mas para picos bastante abaixo da 1º vaga na maioria dos países. A Macedónia do Norte, em especial, a Bélgica e a Itália ainda tiveram picos elevados.

A partir de Fevereiro a mortalidade caiu a pique para valores próximos da mortalidade média.

Fig.- Excesso de mortalidade dos países com maior primeira vaga de Covid na Europa. Our World in Data.

Por outro lado, os países com menor mortalidade Covid na primeira vaga não registaram aumento significativos da mortalidade nessa fase. No entanto, com a chegada do Outono de 2021, quase todos esses países viram a sua mortalidade disparar e manter-se em níveis elevados durante bastante tempo.

Fig. – Excesso de mortalidade dos países com menor primeira vaga de Covid na europa. Our World in Data.

No entanto, essa tendência não foi geral. Alguns países com baixa mortalidade Covid na primeira vaga também não tiveram excesso de mortalidade Covid nem geral na segunda. Foram os casos da Noruega e da Finlândia que tiveram mesmo déficit de mortalidade.

Efeito das medidas

Uma das possibilidades sobre as diferenças entre as duas vagas, poderia ter a ver com as medidas tomadas. Será que diferentes medidas contribuíram para resultados diferentes?

Começamos por analisar os países com maior segunda vaga. Usando como referência o index de restrições de Oxford, podemos ver que o valor da maioria dos países com alta mortalidade na segunda vaga ronda os 70 pontos durante o Inverno. A Bósnia, a Bulgária e a Croácia são exceções com valores consistentemente abaixo dos 60 pontos.

Fig. – Nível de restrições de países com menor primeira vaga. Our World in Data. Nota: A Macedónia do Norte não consta desse index

Entre os 10 países com menor mortalidade Covid na 2ª vaga, os valores são mais diversos, embora tendam a ser mais baixos, a rondar mais os 60 pontos. A Irlanda e a Holanda são exceções com valores consistentemente superiores, enquanto Rússia, Bielorrússia e Finlândia têm em geral valores bastante abaixo.

Fig. – Nível de restrições de países com maior primeira vaga. Our World in Data

Pode-se verificar que as medidas na 1ª vaga são muito uniformes e na segunda também são semelhantes, embora tendencialmente menos restritivas. Isto indicia que a diferença entre vagas poderá não ser explicada por diferenças nas medidas globais.

Ideias finais

Parece, de facto, ter existido a tendência dos países inverterem a sua posição relativa no que diz respeito à mortalidade Covid da primeira para a segunda vaga. Existem algumas exceções, com baixa mortalidade em ambos os momentos. em especialmente a Finlândia e a Noruega. Sendo que tal não parece ter a ver com as medidas tomadas, mas com fatores intrínsecos dos países ou dinâmicas particulares.

Duas explicações parecem plausíveis para o que se verificou em vários países. A primeira é a hipótese de que a imunidade adquirida com a primeira vaga tenha tido já um impacto diferenciado. Isso provocaria uma maior dificuldade de propagação dos contágios em países com mais infeções na primeira vaga e assim limitado a propagação da doença.

Outra possibilidade é o facto dos países com maior mortalidade na primeira vaga terem reduzido bastante a população mais vulnerável e assim estarem menos sujeitos a aumento da mortalidade e, eventualmente, até a propagação da doença.

Uma das questões que se coloca é sobre qual o impacto que algumas medidas dirigidas para a população em geral terão tido na evolução da percentagem da população imunizada e, assim, reduzindo a imunidade comunitária.

Caso a proteção mais uniforme da população seja bem sucedida, poderemos estar a distribuir os riscos por todos até os efeitos da imunidade comunitária se começarem a fazer sentir (pela infeção natural e/ou pela vacinação). Poderá isso aumentar o risco dos grupos mais vulneráveis à infeção? Será que foi isso que se verificou em alguns países (numa 2º vaga que apanhou todo o Outono e Inverno)?

Ou, pelo contrário, será que diminuindo os riscos de contágios da população mais vulnerável pela redução dos números gerais são sempre expectáveis melhores resultados? Será que os números elevados de alguns países na segunda vaga foram apenas o resultado da incapacidade de repetir o sucesso (por mérito ou sorte) da primeira?

Algumas destas questões necessitam de uma análise com mais detalhe para que se possam tirar ilações mais definitivas.

No entanto, a análise destas diferenças pode ser um ponto importante para se perceber melhor as dinâmicas da pandemia. Por exemplo: a nível do impacto da imunidade, da proteção de grupos de risco, dos efeitos da vacinação ou da relação com a mortalidade geral.

*Texto escrito em colaboração com Eduardo Pinto Leite

Compre o e-book "Covid-19: A Grande Distorção"

Ao comprar e ao divulgar o e-book escrito por Nuno Machado, está a ajudar o The Blind Spot e o jornalismo independente. Apenas 4,99€.