Quase um em cada quatro casos de hospitalização Covid corresponde a um internamento devido a outra causa.
Segundo revela o The Telegraph (artigo fechado), foram disponibilizados dados que permitem, pela primeira vez, saber quantas “hospitalizações Covid” tiveram outra causa primária de admissão.
Os dados começaram a ser recolhidos no dia 18 de junho, quando foram registadas 1 154 hospitalizações Covid, das quais 882 tinham esse diagnóstico primário. Essa relação tem permanecido constante desde então, com cerca de um em cada quatro casos Covid admitidos por outras razões.
Registo de hospitalização Covid
Todas os internados são testados ao vírus e, nos casos positivos, entram para as estatísticas de hospitalização Covid. Também entram nessa categoria quem tenha teste positivo durante a estadia ou nos 14 dias antes da admissão.
O artigo dá o exemplo:
“…, aqueles que estão no hospital por diferentes razões, como uma perna partida, que de outra forma nunca teriam sabido que tinham apanhado o vírus, são contados nas estatísticas de hospitalização, juntamente com aqueles que sofrem de doença severa devido a Covid.”
Distinção “por Covid” e “com Covid”
No início deste mês, os hospitais foram instruídos a fornecer mais dados que distinguem as admissões causadas principalmente por Covid e as que não foram.
O Prof. Keith Willett, diretor de incidentes do NHS England, afirma: “Em termos leigos, isto pode ser considerado como uma divisão binária entre os que estão no hospital ‘por Covid-19’ e os que estão no hospital ‘com Covid-19’.”
O próprio Secretário da Saúde, Sajid Javid, disse à Câmara dos Comuns:
“Pedi este conselho porque é importante que tentemos analisar melhor o diagnóstico primário de qualquer pessoa que entre no hospital.”
As autoridades de saúde referiram que podem existir casos classificados como “principalmente não-Covid” e em que o vírus era um fator significativo, como um paciente cujo diagnóstico primário de AVC, mas onde Covid poderia ter aumentado o risco dessa ocorrência.
Disseram ainda que a distinção tinha sido solicitada para ajudar a analisar o impacto do programa de vacinas na redução da Covid.
Críticas à falta de transparência dos dados
O Prof. Carl Heneghan, diretor do CEBM da Universidade de Oxford, que já tinha sido importante na mudança de critérios da “Morte Covid”disse:
“Estes dados são incrivelmente importantes, e esta é a informação que devíamos ter tido há muito tempo. Há quase 18 meses que clamamos por isso.”
“O Governo poderia ter feito decisões muito diferentes sobre restrições se tivesse acesso a dados que realmente medissem a situação com precisão.”
“No auge da pandemia, em janeiro, estávamos a falar de cerca de 40.000 doentes internados – estes novos dados sugerem que, nessa altura, cerca de 10.000 estavam lá principalmente por outras razões.”
Já Greg Clark, o presidente do comité selecionado para a ciência e tecnologia da Commons, afirmou:
“Decisões muito importantes com grandes consequências para a vida e subsistência das pessoas foram tomadas sem que os dados mais relevantes sejam disponíveis, ou pelo menos publicados.
“Há já algum tempo, especialmente olhando para os lockdowns de inverno, a capacidade do SNS tem sido provavelmente o critério mais importante.”
Já esta semana, tinha sido revelado que mais de metade dos doentes classificados como hospitalizações Covid só tiveram testes positivo após a admissão.
Essa informação sugeria que um número significativo de hospitalizações Covid podia ter outras causas que não a Covid-19, como agora se confirma.