Os sistemas de saúde na Austrália e na Nova Zelândia estão à beira do colapso, com a gripe, a Covid-19 e outras doenças respiratórias a adoecer os seus habitantes. O motivo mais apontado é o da pouca exposição da população a agentes infecciosos nos últimos anos.
De acordo com o The Guardian, uma mistura de doenças de inverno e carência de imunidade da população está a provocar um acréscimo de trabalhadores doentes, resultando numa taxa de absentismo em maio cerca de 50% acima da média.
Karen Price, a presidente do Royal Australian College of General Practitioners, revelou que os níveis de doença na comunidade continuaram a ser elevados desde meados de maio.
Nas clínicas, as rececionistas têm relatado abusos quando informam aos pacientes que há um maior tempo de espera para as consultas.
“Temos uma larga proporção da população que não foi exposta a qualquer vírus nos últimos dois anos, para além da Covid, da qual ainda há uma elevada transmissão comunitária”, começou por dizer Price ao explicar os fatores que impulsionaram o aumento das taxas de doença na Austrália.
“Agora que levantámos as restrições, também temos a gripe que atingiu o pico mais cedo e temos imunidade limitada”, revelou.
A presidente do Royal Australian College of General Practitioners avisou que até as pessoas sem qualquer problema de saúde e que contraíram a gripe recentemente estão a reportar estar muito doentes por mais tempo do que o normal.
“Não é que a gripe seja mais grave do que o normal, o problema é que não temos nenhuma imunidade porque não tivemos realmente uma época de gripe nos últimos dois anos. Não há imunidade de base”, afirmou.
Adicionalmente, Price disse que há vários vírus a circular na comunidade, incluindo aqueles que causam uma constipação comum e outros mais graves.
“A gripe pode ser uma uma doença muito séria para as pessoas vulneráveis”
Caos nos hospitais australianos
Segundo o The Australian, um médico de topo num dos hospitais mais movimentados da Austrália alertou para o iminente caos nas urgências, enquanto o departamento luta contra os casos de Covid e os casos de gripe.
Mark Putland, diretor de emergência do Royal Melbourne Hospital, fez a previsão na passada sexta-feira e poucas horas depois as ambulâncias de Victoria foram obrigadas a declarar código vermelho devido à falta de pessoal.
“A procura é maior do que nunca. Nós e todos os hospitais à volta de Victoria estão com dificuldades devido à falta de acesso às camas”, começou por dizer à 3AW.
Putland sublinhou que o aumento dos casos de gripe e de Covid está a resultar em milhares de casos diários, muitos dos quais estão a infiltrar-se no sistema hospitalar.
“O que me preocupa é a época do ano em que estamos – no final do outono – em que já estamos neste estado. É uma preocupação pensar como será no inverno”, finalizou.
Caos nos hospitais neozelandeses
A NZ Herald avança que a Nova Zelândia tem vários hospitais no país extremamente ocupados, como o Hospital de Dunedin que fechou todas as divisões aos visitantes devido à Covid-19 ou o Hospital Hawke’s Bay que teve 33 pacientes com gripe na passada sexta-feira, três vezes mais do que no início dessa semana.
Em Middlemore, o presidente Mark Gosche revelou que o seu Hospital esteve quase sempre na capacidade máxima durante a pandemia.
“Temos muitas doenças de inverno que nos afetam neste momento. A Covid-19 manteve-se teimosamente a um nível que afeta todas as partes do hospital… e a comunidade e o setor primário que serve os condados de Manukau estão a sentir muita pressão também”, afirmou.
Os profissionais de saúde também têm lutado contra estas doenças.
Nas últimas semanas, 14% dos mais de 3500 profissionais de saúde no Hospital Regional de Wellington e 4% dos mais de 1600 no Hospital Hutt têm estado ausentes.
Mortalidade na Austrália e Nova Zelândia (comparada com últimos cinco anos pré-pandemia)
Tendo estes países várias semelhanças geográficas e demográficas, e seguindo uma política com semelhanças no combate à pandemia (Zero-Covid durante largos meses), existe interesse em analisar a sua mortalidade geral durante os últimos anos.
Em 2020, a Austrália apresentou um ligeiro excesso de mortalidade geral (1.236), enquanto a Nova Zelândia teve uma mortalidade muito semelhante à média dos últimos 5 anos (-169).
Em 2021, o excesso de mortalidade foi de 10.379 na Austrália e de 2.095 na Nova Zelândia, o que corresponde a uma taxa aproximada dado que a Austrália tem sensivelmente cinco vezes mais população (26 milhões contra 5 milhões).
Já em 2022, ambos os países iniciaram o ano com valores significativamente maiores de excesso de mortalidade (a Austrália com 5.090, apenas nos primeiros dois meses, e a Nova Zelândia com 1.984, até a semana 19).