Os dirigentes das associações representativas dos festivais e dos espetáculos de música reagiram com fortes críticas à notícia da Lusa sobre o estudo do Instituto Superior Técnico (IST) que atribui 340 mil novos casos covid-19 às festas populares e aos festivais de música. Os responsáveis não entendem como é que foram obtidos os dados para o estudo, dados esses que são o oposto dos indicados pela Direção-Geral de Saúde (DGS).
Em declarações ao The Blind Spot, Ricardo Bramão, presidente da Associação Portuguesa de Festivais de Música (APORFEST) diz que a sua associação “não quis tomar uma posição oficial sobre o relatório porque, simplesmente, não o valorizámos”. “Não percebemos como é que foi feito e os autores não falaram connosco nem com os promotores. Quiseram apenas alarmar”, critica Ricardo Bramão que “não percebe como é que um estudo feito à distância pode ter fiabilidade”. O presidente da APORFEST questiona “como é que um programador cultural faz um estudo desses”, referindo-se a Henrique Oliveira, um dos responsáveis do estudo do IST e que também é programador cultural da Universidade de Lisboa.
Ricardo Bramão insiste na “falta de informação sobre como é que o estudo foi feito e que não se pode contrapor quando há desconhecimento de como os dados foram obtidos”. “Quando surge uma notícia destas, a nossa preocupação é analisar e perceber se os números fazem sentido para podermos agir”, explica, “mas o que se passa é que o estudo fala em números de casos que não têm nada a haver com os números das entidades governamentais, é uma coisa que não conseguimos entender”.
Sobre a perceção do público relativamente à notícia sobre o estudo do IST e o impacto nos festivais, Ricardo Bramão desvaloriza: “essa notícia nesta fase passa muito ao lado do público em geral, há uma grande vontade das pessoas estarem juntas e já sabem que medidas tomar para fazer a sua vida regularmente.” Bramão explica que “a questão covid é vista simplesmente como a da gripe: se as pessoas acham que estão em condições de estar no festival, vão, se não, ficam em casa”. O presidente da associação representativa dos festivais de música indica que “vê-se algumas pessoas nos festivais com máscara, o que demonstra a sua preocupação em se proteger e proteger os outros”.
Quanto à afluência do público, a APORFEST indica que “os números têm sido melhores em quase todos os festivais”. Para o seu presidente, o estudo “pode preocupar mais patrocinadores, promotores e profissionais do setor que são obrigados a fazer planos de segurança e contingência e coordenar com as autoridades caso ocorra alguma situação médica, que não tenha necessariamente a haver com covid”.
As críticas de Ricardo Bramão são também dirigidas aos órgãos de comunicação social:
“A imprensa não pega nessa questão, não ouve o contraditório e não procura perceber como é que o estudo é feito. E isso preocupa-me”.
Álvaro Covões, membro da Associação de Promotores de Espetáculos, Festivais e Eventos, deixou um alerta: “deixem de falar dos espetáculos e dos festivais como o principal mal para os casos covid-19”, disse em direto na SIC Notícias no dia 31 de julho, três dias depois da notícia sobre o estudo. O presidente da APEFE mostrou na televisão gráficos da DGS, “que os senhores do Técnico também deviam ter consultado”, que mostram o número de novos casos. “O pico [de casos] foi no período de 17 a 23 de maio e que a partir daí foi sempre a descer. Quando chegamos às festas de Santo António, estamos com metade dos casos que tínhamos no pico e quando continuamos em frente para o Rock In Rio, é sempre a diminuir”, explicou. Álvaro Covões indica que no período de 19 a 25 de junho o número de casos “desceu quase 80% e que os números da DGS demonstram que o que é indicado no estudo não aconteceu”.
O The Blind Spot analisou a 2 de agosto a incongruência dos resultados do estudo do IST relativamente aos dados da DGS indicando que o Grupo IST declara ter (quase) acertado nos 350 mil contágios apesar de casos e mortes terem caído 80%
O também diretor da Everything is New, empresa que organiza diversos festivais de música, caso do Nos Alive, reagiu prontamente à notícia sobre o estudo do IST na sua conta do Instagram. Álvaro Covões escreveu que “esses números são baseados em nada! Não existe qualquer base científica para esta análise!”. E não poupa nas críticas: “As premissas são as que eles quiseram introduzir! Muito grave por darem imagem da seriedade que não têm”. Covões remata: “sinceramente, deixem-nos trabalhar”.