Mapa comparativo do excesso de mortalidade na Europa em junho de 2022, em percentagem. Portugal tinha o valor mais elevado (23,9), sendo a média de todos os países 6,2. Fonte: Eurostat
Entre final de fevereiro e início de setembro de 2022, a guerra na Ucrânia provocou a morte de 5178 civis. Portugal apresenta um excesso de mortalidade acumulado de 8474 mortes para o mesmo período.
O Alto Comissariado para os Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) produz relatórios periódicos sobre os danos provocados pela guerra na Ucrânia em civis. O mais recente relatório da ONU, datado de 5 de setembro, dá conta de 5718 mortes e 8199 feridos entre os civis. Nele é referido as principais causas de mortes e de ferimentos, como também as regiões onde ocorreram.
A delegação da ONU indica no seu relatório que os números atuais poderão ser consideravelmente maiores. As razões prendem-se com a dificuldade em obter informações relativas a locais onde estão a ocorrer os combates e com a verificação de alegadas vítimas.
Portugal registou nos meses de junho e julho de 2022 um excesso de mortalidade de 2106 e 2374 óbitos, respetivamente, colocando o país com uma taxa de excesso de mortalidade superior até quatro vezes à média dos países registados pela Eurostat. Desde abril que a evolução foi constante, abrandando em agosto, onde registaram-se pouco mais de 9200 óbitos em excesso. Mas, mesmo assim, agosto foi o mais mortal desde que há registos.
As autoridades de saúde nacionais não divulgaram até à data nenhum relatório que apontasse as causas para o excesso verificado. O governo indicou a 15 de agosto a necessidade de estudar as suas causas.
Para Carlos Antunes, professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, ouvido pela Rádio Renascença, a decisão do Governo de estudar o excesso de mortalidade nos últimos dois anos é um “alarmismo que não tem razão de ser”, servindo apenas para “responder à pressão pública e política” que faz com que a instituição “tenha que dar uma resposta quando não tem essa resposta”.
Paulo Jorge Nogueira, bioestatístico e professor da Faculdade de Medicina de Lisboa que estuda a mortalidade em Portugal há mais de 20 anos, prestou também o seu depoimento à Rádio Renascença. Paulo Nogueira acredita que o envelhecimento está relacionado com o aumento na mortalidade, mas defende que é necessário estudar o fenómeno por detrás das mortes acima do esperado.
Excesso de mortalidade em Espanha
Espanha tem uma população equivalente à da Ucrânia, ascendendo a mais de 40 milhões de habitantes. Segundo os dados da EuroMomo espanhola, para o mesmo período de tempo, entre março e agosto de 2022, inclusive, registaram-se cerca de 25 mil óbitos em excesso por todas as causas.
O EuroMOMO é um projeto europeu de monitorização da mortalidade, destinado a detetar e medir excessos de mortalidade relacionados com gripe sazonal, pandemias e outras ameaças de saúde pública.
Impacto das pandemias
O excesso de mortalidade é, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o melhor indicador de análise para avaliar os reais impactos de uma pandemia. A OMS define como sendo a “diferença entre o número total de mortes numa crise comparada com aquelas registadas em condições normais”. “O excesso de mortalidade relacionado com a covid-19 considera a totalidade de mortes atribuídas ao vírus, como também os impactos indiretos, como a disrupção dos serviços de saúde essenciais e das viagens”, pode ler-se no documento.
Nesta análise, foram utilizados os dados disponibilizados pelo Sistema de Informação de Certificados de Óbito (SICO), tendo sido utilizado como referência para o cálculo do excesso de mortalidade a média de óbitos registada entre 2014 e 2019.
Notícia atualizada a 13 de setembro com indicação de que o relatório da ONU indica a possibilidade de um número superior de vítimas