Quem não conhece a história está condenado a repeti-la. Há pouco menos de seis meses inquiria, em tom irónico, se não estaríamos a trilhar o caminho em direção a uma transformação social radical, rumo a uma sociedade distópica. E assim estamos, creio, no dealbar de uma sociedade tecnocoletivista e neofeudal, implementado um novo tipo de servidão, a servidão digital, e retroalimentada por uma revolução industrial de tipo eugénico. Robert Kennedy Jr. apontou, recentemente, para a importância da experiência de Milgram na compreensão da atualidade. Contudo, e pese embora esta transformação, a imaginação humana nem será digitalizada ou capturada pelo Agente Smith da «Matrix» nem ficará limitada ao «gulag» da cidade dos 15 minutos, e muito menos ficará dependente da moeda programável pelo governo (as famosas CBDC). Vai uma aposta? Aproveite para tomar um café e leia até ao fim. Hoje o artigo é mais curto e, talvez, portador de esperança sobre a imaginação humana inalcançável!
Certamente que não sou a primeira nem serei a última «cidadã do mundo» a pensar nesta possibilidade quase certa. Aliás, é meu propósito ir partilhando outras análises que hoje, e muito curiosamente, agregam personalidades inconvenientes e em espectros ideológicos às vezes opostos, mas que, como que por milagre, não só são concordantes como até mais parecem «adivinhos», na medida em que parecem adivinhar a sequência de acontecimentos do «novo normal». Recorda-se de Varoufakis e de Joel Kotkin? Kotkin, por exemplo, resume o que vivemos hoje como o resultado da concentração de poderes pelo Estado de uma forma exacerbada a partir e por causa da conjuntura pandémica. No seu livro The Coming of Neo-Feudalism. A warning to the global middle class, o dealbar da década de 20 do século XXI conhece três mudanças principais: por um lado, o empobrecimento das classes médias e das classes baixas, em resultado da extinção de milhares de pequenas, médias empresas e inúmeras profissões; por outro, a inevitável perda de rendimentos e transferência de propriedade privada, em resultado do desenvolvimento tecnológico; por outro ainda, a prosperidade crescente de um ínfimo grupo de tecno-oligarcas apoiados numa corte de especialistas tecnológicos, com ambições na regulação do mundo a partir de algoritmos. Se continuar a pesquisa na autoestrada de informação, pesquise estes dois autores e compreenderá rapidamente o que acabo de escrever.
Porém, não deixo de pensar no que poderia ter inspirado novamente uma certa agenda capitalista fascista, em pleno século XXI, sabendo nós o desastre que foram eventos como a I Guerra Mundial, o bolshevismo, a crise fascista capitalista de 1929, a experiência nazi e a II Guerra Mundial. Sobretudo se pensarmos no grau de maldade impresso a estes momentos de engenharia social associada à transferência de riqueza planeada…. É bom que recordemos este friso cronológico porque, o que posteriormente aconteceu está interligado e não como habitualmente temos pensado. Vamos procurando desmontar estes momentos de engenharia social até chegarmos ao seu output final – o presente e a agenda 2030 (que afinal não é mais do que terá sido acordado em 1992 pelos Estados membros da ONU). Vamos vendo ….
Robert Kennedy Jr., o visionário?
Ora, como tenho seguido o percurso do político norte americano Robert Kennedy Jr. (tal como leio tudo o que posso sobre o seu tio, o tal presidente norte-americano que ficou para a história pelas piores razões), ouvi-o recentemente falar de Stanley Milgram e da sua importância para compreendermos o que vivemos hoje (se a sua memória já disparou para o artigo de março, sim, é o mesmo Milgram …. Vá lá recordar o que escrevi).
O que diz Robert Kennedy Jr.de tão extraordinário? É simples. Numa jornada pública com os seus apoiantes, Robert Kennedy Jr. explica em breves palavras a experiência de daquele autor. E salienta o facto de que, nessa experiência replicada pelo psicólogo norte-americano em vários contextos, a maior parte dos participantes infligiu descargas elétricas com uma intensidade tal que poderia matar os outros participantes. Porém, cerca de trinta por cento recusou infligir tais descargas elétricas. O que Milgram concluiu, refere Robert Kennedy Jr., é simples: no caso de haver uma figura de autoridade – como ministros, professores, médicos -, cerca de 67% das pessoas aceita as ordens mesmo que tal signifique ir contra os seus valores mais sagrados, ou seja, contra tudo aquilo em que acredita. E por fim, confessa o político americano, pensa que os acontecimentos ocorridos ao longo de 2020 não foram senão uma gigantesca experiência de Milgram. Durante este tempo, teria havido várias autoridades que iam justificando a necessidade de violar a Constituição americana assim como censurar a liberdade de expressão, ou até mesmo despedir funcionários. Veja a gravação, está por aí, nas autoestradas de informação.
Agora siga-me. Existem dois filmes magníficos quando traduzem, de forma cristalina, a luta entre a escatologia do totalitarismo (nunca consegui perceber porque há-de haver sempre uns quantos que querem escravizar outros seus semelhantes…) e a indomável liberdade humana. São eles são a «Matrix» e «A grande Evasão» (é a ele que me referirei, hoje; já agora, se nunca o viu, aproveite para o ver em família). Porque, sempre que me apercebo de mais uma experiência de submissão de tipo coletivista, mais eu recordo o sorriso indomável e encantador anti-prisão de Steve MacQueen. Porque, sempre que deteto o Efeito Mr. Smith no meu vizinho mais eu recordo a intensa e libertária dos prisioneiros aliados. Mas por que motivo os neurónios dispararam em cheio para o Capitão Hilts?
A «Grande Evasão» e o poder da imaginação
Baseado numa história real, o filme «The Great Escape» mostra-nos como um pequeno número de intrépidos prisioneiros aliados planeia, ensaia e leva à prática a fuga de um campo de segurança máxima alemão. O plano de fuga passa pela construção de três túneis. E, pese embora a descoberta de dois, a fuga de seis centenas de homens ocorre num dia, pela calada da noite. Alguns são recapturados, outros são mortos, mas outros conseguem escapar. Steve, ou o magnífico e indomável Capitão Hilts, encarna uma das maiores metáforas da natureza humana, indomável e imprevisível, um elogio à criatividade humana.
Idêntica criatividade terá levado a empresa do espanhol Carlos Garcia a produzir água a partir do ar. Sabemos como as mudanças climáticas têm afetado o planeta. Particularmente em Espanha, as previsões de chuva não são boas e há zonas em risco de seca grave (em algumas zonas, a previsão de seca atinge os 60%). Ora este empresário, embora ainda não consiga resolver totalmente o problema da agricultura extensiva. Dir-me-á, porventura, que ainda falta muito para uma solução total. Talvez não … esteja atento!
Outra tanta imaginação poderá conduzir a dizermos um longo adeus às baterias de lítio! Li, algures na «net» sobre experiências em curso sobre as baterias de água. Se é verdade? Não sei, não sou engenheira. Mas um recente estudo de cientistas da Universidade Texas publicado na Nature Materials parece apontar para uma nova bateria com capacidade de armazenamento superior às de lítico em cerca de 1000%. Já acendi uma vela …. É que, se assim for, mitigamos definitivamente o estraganço do planeta Terra assim como democratizamos o uso de novos meios de transporte individual e familiar em todos os continentes.
Há mais vida para além da agenda 2030!
Não é, então, para ficarmos felizes e esperançados? Pois está claro que é sim senhor!
Então, como explicar certos fenómenos históricos? Também não sei. E por não saber, mas acreditar que pensando em conjunto vamos mais longe, aqui fica um enigma. Pode ser que em conjunto cheguemos lá (pode sempre contactar-me para o jornal). O que se terá passado na inauguração do túnel em Saint Goddard, corria o ano de 2018? Porque, em boa verdade, o que me intriga, verdadeiramente, é o facto de termos chegado às portas do inferno (está a ver como é útil ler Dante e rejeitar a cultura do cancelamento!) sem que tenhamos tido uma perceção nítida do que se estava a passar … Quer um conselho? Vá ver. Existem muitos outros enigmas que partilharei com o caro leitor.
E, já a concluir, recordo Raymond Aron quando se referia à disputa da Europa por duas versões do totalitarismo – nazismo e sovietismo: «A verdade é que é difícil admitir que se tem de fazer frente de imediato e simultaneamente a duas ameaças satânicas e que é preciso ser-se aliado de uma ou de outra. Não é agradável, era, porém, a situação histórica que com muita dificuldade tínhamos de aceitar.» (Espetador Comprometido, p.48). Um conselho amigo: leia Robert Kennedy. Siga o seu percurso e encontrará algumas chaves para descodificar a história do presente. Há mais vida para além da agenda 2030! Quem não conhece a história está condenado a repeti-la.
Mónica Rodrigues
Especialista em Geopolítica e Geoestratégia. Licenciada em História (FCSH-UN) e com um DEA em Geopolitique (Universidade de Paris). Curso Segurança Internacional (NATO/UKiel, Alemanha). Auditora do Curso de Defesa Nacional (IDN/2002). Diretora da Revista Cidadania e Defesa (AACDN). Membro da SEDES (SEDES-Setúbal). Foi professora assistente de Geopolitica/Geoestrategia e Segurança e Defesa Nacional (ULusíada).