«Quem não sabe história está condenado a repeti-la.». Shakespeare tinha razão, já no seu tempo. Dizia ele assim «É uma infelicidade da época, que os doidos guiem os cegos.». Estou quase, quase tentada a confidenciar-lhe que noutro dia pareceu-me ver o poeta. Nem tive tempo para lhe dizer adeus porque PUFF! Desapareceu, evaporou-se de tal maneira que fiquei boquiaberta. Só depois percebi que estava a despertar de um pesadelo e sonhara com Shakespeare!
Quer dar um cheque em branco ao Estado?
Volvidos duas décadas preenchidas por «aparentes» guerras perpétuas no sistema internacional vislumbramos, com maior nitidez, a ascensão de movimentos e organizações de cidadãos para os quais o Estado é um agente de destruição social. Tal não significa, porém, que validem uma sociedade sem Estado. Validam é, sim, o papel capital da propriedade privada como elemento central de toda a organização social – sobretudo se se acredita num mundo de escassez. E quando os cidadãos do mundo descobrirem que o mundo não é de escassez? Bem, isso é outra história que teremos o gosto de desenvolver num artigo próximo.
Entretanto, pode ir lendo o livro do magnífico Jeffrey Tucker, escrito com Max Borders, e que se intitula «99 Formas para deixar o Leviatã» (o sacrossanto Estado totalitário). Deixo aqui uma dica como aperitivo – quer mesmo saber como rejeitar um Estado cada vez mais prepotente e que impõe uma ideologia? Pois, em matéria de educação, tire o miúdo da escola e escolha um outro modelo, como a escola em casa ou a escola privada. Porque, como o autor salienta, «Um mercado livre na educação produz milhares de novas formas e estruturas. Mas mesmo com liberdade limitada, a educação está a desenvolver-se no sentido de ir ao encontro das necessidades humanas e menos relativamente às prioridades políticas.» Não perca. Voltaremos a Tucker!
E é bom que vá atrás de Jeffrey porque vivemos num tempo mais fácil de detetar os ciclos inflacionários fraudulentos, e durante os quais uma vez mais constatamos uma transferência maciça de propriedade privada, com a perda irrecuperável para o cidadão.
E é mais fácil por que motivo? Por vários, de entre os quais destaco: por um lado, o aumento de literacia nas sociedades ditas ocidentais; por outro, a «cupidez» avara de quem pode; por outro lado ainda, a velocidade da circulação da informação.
Pareceu-me, pois, e muito a propósito, contribuir uma vez mais para a partilha da ciência – neste caso, a ciência da manipulação. Tem mais cinco minutos?
Os 10 Mandamentos da Manipulação
Noam Chomsky, um dos intelectuais mais importantes do século passado, identificou um conjunto de dez estratégias de manipulação utilizadas pelo poder. Vale a pena os cinco minutos e verá que não se arrepende. Provavelmente, alguns destes mandamentos já são seus conhecidos. Porém, aproveite a oportunidade para ampliar a sua capacidade analítica. Veja por si mesmo. Aqui ficam as dez estratégias.
1.«Olh’ó passarinho!» – Estratégia de distração
Imagine que está num café, encontra um amigo que já não vê há alguns meses e é surpreendida pela conversa. «Oh! O Titan (ic) afundou … Já viste?» E responde «Como? Não vi nada, não vejo televisão há três anos!». E ele continua «A sério???? Xiiii… nem sabes o que perdeste! Andas distraído …». «Se calhar tens razão!», respondo agora eu. Conclusão – a atenção dos seus amigos e de você próprio – caso esteja «pregado» à TV – é capturada para os temas que interessam a quem manda, reduzindo o tempo para pensar de uma forma profunda, e essa mesma atenção é desviada dos verdadeiros problemas.
2.«A Europa é um jardim. A selva deve chegar à Europa.» – inventar problemas com a solução na manga
Se recordar os recentes acontecimentos de sublevação por toda a França poderá encontrar neles um exemplo desta técnica. Ou seja, há várias décadas que o problema da integração vinha aumentando, agravada na última década devido a uma política migratória que transformou o jardim europeu numa selva, nas palavras do senhor Borrell, Alto Representante da União para os Negócios Estrangeiros. Não era de estranhar que a sublevação urbana ganhasse uma certa expressão até a população francesa pedir a intervenção das autoridades. Onde estamos? Simplificando, esta estratégia é vulgarmente chamada como a técnica do «problema-reação-solução».
3.«Está cada vez mais caro!» – estratégia gradativa
Ora, está lembrado do mantra «Vai ficar tudo bem»? Como o cérebro humano tem aversão à perda, esta estratégica consiste em dilatar no tempo uma medida de aceitação difícil no momento. Então, em «prol do bem comum», quem manda pedir-lhe-á um pequeno esforço. E, pouco a pouco, o esforço vai aumentando, a conta gotas, durante um período de anos sucessivos. Ficando, assim, mais difícil identificar o ciclo.
4.«Compre agora. Paga depois.» – estratégia do adiamento.
Se por acaso já reparou que os bens de consumo essencial aumentaram várias vezes e tem de «abrir os cordões à bolsa» … parabéns, está no caminho certo! Primeiro, porque está a ver bem, se calhar até bem demais. Segundo, porque é provável que a situação tenda a agravar. Ahhhhh …. Não acredita! Lamento então informar que, aos poucos e poucos, os preços ainda vão aumentar mais. Qual é então o objetivo? Ah, não quer aceitar o dinheiro digital? Pois, estou a ver. Mas deixe-me que lhe diga. A inflação poderá ser tão forte, com forte perda aquisitiva e generalizada, que a «única» saída proposta pelos bancos centrais poderá ser …. uma nova moeda. Só que … só que, muito provavelmente, esta «saída» parecer-lhe-á uma bênção caída dos céus! Aliás, esta estratégia surge em íntima associação com a anterior.
5.«Ai que lindo cidadão, tão bom aluno!» – infantilizar o público (ou, até, burrificá-lo)
Tal como Giovanni Sartori, cientista político italiano concluiu, desde o final do século XX que o «Homo Videns» substituiu o Homo Sapiens Sapiens, numa sociedade caracterizada pelo pós-pensamento e pela pós-verdade. Significa isto que o Homo Sapiens se transformou, quando perdeu parte da sua capacidade crítica no momento em que fez da televisão o novo «deus» da informação, e quando se tornou um crente com uma fé inabalável na autoridade da mensagem ouvida e televisionada.
Ora, isto significa, trocado por miúdos, que o empobrecimento do pensamento foi o produto deste novo culto: por um lado, porque a informação foi sendo submetida à seleção identificada pelo culto e pelos seus «sacerdotes»; segundo, porque as áreas do cérebro envolvidas no ver e no ouvir implicavam um esforço muito menor do que a leitura de um livro.
Ora bem, há quanto tempo não lê um livro? E os seus filhos? Ah! Pois, agora é progressista dizerem-lhe que já não precisam de ler porque a Inteligência Artificial vai resolver tudo. Pois, pois …. Continue desinformado e vai ver o que acontece. Para já, as escolas, tal como as conhecemos hoje, vão acabar, segundo ouvimos. E qual a razão? Olhe, porque está tudo muito caro! É possível ter um 3PO ou um R2D2 – os míticos robots na Guerra das Estrelas – como professor em casa, ou via internet, e os miúdos aprendem. Até aprendem melhor porque, em casa, mais motivados, vão acordar bem cedo, tomar logo o pequeno-almoço para irem aprender o que lhes interessa com o novo professor online (ou ao lado, caso tenha capacidade financeira para os adquirir). Mas atenção, ninguém se vai responsabilizar depois se não conseguirem adquirir competências para trabalhar. Se calhar ….
Por acaso já ouviu falar do Youval Harari, esse oráculo de Davos? Ai não? Se a memória não me falha, ele já tem vindo a avisar, pelo menos desde o final da década passada, que a maior «parte da malta» não vai ter trabalho, mas não faz mal, porque lhe vão dar o metaverso, jogos e, muito provavelmente, algumas substâncias para tomar. Mas depois, se os seus filhos se tornarem «obsoletos»…isso já não é culpa dele. O mais provável é, quem não tiver trabalho, também não contribui para a sociedade o que acarretará, muito provavelmente, não ter direitos políticos.
6.«Que amor!» – heurística emocional versus heurística racional
Também sabemos como o ser humano é sensível às emoções. Aliás, o povo – possuidor de uma valente e reconhecida sabedoria – não resiste a qualquer apelo à emoção. Até eu já estou emocionada quando penso em Daniel Kahneman, economista e psicólogo especialista na tomada de decisão. De uma forma magistral ensinou-nos os truques que ativam a decisão rápida – por exemplo, quando tem um impulso para gastar mais do que tem e comprar mais um vestido -, e outros truques que ativam a decisão reflexiva – e o obrigam a pensar melhor sobre a necessidade de adquirir o automóvel ou se vale a pena esperar!
Mas o povo não vive só de emoções porque também a ciência lhes reconhece um estatuto especial. Aliás, sem emoção não há cognição. Confesse. Quem é capaz de resistir a um anúncio com a imagem de um gatinho ou de um pinguim? Ou com um arco-íris, numa visão mais adequada ao novo normal?
7.«Confie. Sou especialista e a única fonte credível.» – o público deve permanecer ignorante e medíocre
Neste aspeto, afaste-se sempre das «más-línguas»! Nunca lhes dê ouvidos. E sabe a razão? Eu caí nessa tentação e acreditei «credulamente» no jornal que noticiava a alteração do programa de História em Espanha, retirando-lhe o estudo do período da «reconquista cristã». Mas espere, ainda não contei tudo. Confirma-se que, no Reino Unido, os professores ficaram boquiabertos quando leram os novos curricula da área de ciências. Ora bem! Tem acompanhado os seus filhos nestas lides da aprendizagem?
Em boa verdade, quanto mais incultas forem as sociedades menos valorizam o saber e o saber fazer. Fica tudo muito «poucochinho», sabe? Conclusão, o povo fica mais sereno porque compreende menos o que se passa à sua volta. Porque os «Ministérios da Verdade Educativa» sabem sempre o que fazer!
8.«Coitado, ele não tem culpa-» – ajude a audiência a aceitar a mediocridade.
Siga aquela máxima segundo a qual se costuma dizer «se soubermos pouco também exigiremos pouco».
Na nova escola, aprender-se-á pouco porque já não é preciso, a IA saberá. No novo hospital, a IA vai saber mais, porque os médicos já não são precisos. Ou seja, continuando, já não haverá jornalistas, nem apresentadores de televisão, nem comentadores, nem professores, nem médicos, nem enfermeiros, nem engenheiros – a IA, o novo «sabichão», fará tudo! Então, coitado, pensaremos, ele não tem culpa por não saber.
9.«Pois, assumo a minha culpa!» – deve reforçar a culpa junto da audiência
«Qual é a sua pegada de carbono diária?», perguntaram-me no outro dia. Agora faço-lhe eu a mesma pergunta. E o que me responde? Está a ver, não está? Trata-se de uma emboscada cujo objetivo é inibi-lo pelo sentimento de culpa, estratégia esta também designada por «ativismo da culpa». Ao sentir-se culpado está a depreciar-se, e a depressão associada a esta diminuição de auto-conceito inibirá a ação. Esta técnica é cada vez mais utilizada no nosso dia a dia porque as sociedades reagem melhor assumindo a sua culpa pelas desgraças, diminuindo-se assim as oportunidades para a revolta contra o sistema.
10.«Conhece-te a ti mesmo!» – a audiência tem de ser transparente
Youval Harari diz nos que a IA vai conhecer-nos melhor do que nós próprios! Não é extraordinário? Imagine a felicidade de poder «receber» os conselhos da IA. Aliás, já é um pouco o que vivemos em algumas redes sociais.
Seja criativo – questione
Procure outros que colocam perguntas. Leia Mattias Desmet. Veja James Rogusky. Siga Tucker Carlson. Espreite o que dizem pelo Instituto Brownstone ou pelo Instituto Mises. Faça uma viagem pelo Fórum Económico Mundial. Leia atentamente Jeffrey Tucker, Ron Paul, Friedrich Hayek, Lenine e Klaus Schwab. E, se já estiver de férias, veja ainda quem é Daniel Kahneman.
Manter um pensamento positivo e uma atitude esperançada, mangas arregaçadas, pés na areia, e umas bolas de Berlim a acompanhar a brisa da maré. Retomo as palavras de Isaac Asimov, uma inspiração para as férias «… existe um culto à ignorância; a pressão do anti-intelectualismo abriu caminho na nossa vida política e cultural, alimentando a falsa noção de que a democracia significa que a minha ignorância é tão válida como o teu conhecimento.» Quem não sabe história está condenado a repeti-la.