Nos anos 90, quando Yeltsin era o presidente da Rússia, um major-general do Serviço Federal de Segurança do país, Boris Ratnikov, descobre uma estranha antena no gabinete do presidente, que logo se verificou não ser um equipamento de escuta. A antena estava ligada, atrás de uma estante de livros, a uma estrutura metálica coberta de lona, medindo 1,20 m por 1,20 m. O dispositivo foi prontamente retirado do local. O oficial da segurança pessoal do presidente desconhecia quem o tinha instalado, mas sabia como a antena funcionava por já a ter visto noutro local. «Essa antena era um dispositivo eletromagnético que atuava a uma distância de 10 a 15 metros e podia fazer com que uma pessoa normal parecesse um tolo. Primeiro, ela deixa as pessoas desconfortáveis e causa dores de cabeça. (…) a pessoa sente-se doente, as defesas enfraquecem, depois deixa de pensar logicamente e de se orientar no espaço e, por fim, todos os órgãos importantes são afetados», relatou ele 15 anos depois, já reformado.
Relatos similares mais ou menos estranhos foram considerados pela imprensa da época como “coisas de charlatães”, teorias da conspiração, mas na sociedade local russa começou a falar-se com frequência das chamadas “armas psicotrónicas”, que permitiriam controlar a mente de multidões e de indivíduos, por meio da indução de várias emoções – do medo à euforia.
Hoje, é do domínio público a existência de tal arma em diversos países. Neurostrike é o termo militar definido como o ato de atingir o cérebro de militares ou civis através de tecnologia não cinética. O objetivo é prejudicar o raciocínio, reduzir a consciência situacional, infligir danos neurológicos a longo prazo e perturbar as funções cognitivas normais.
Recentemente, os EUA deram o alerta: o Exército chinês está a desenvolver armas de alta tecnologia projetadas para interromper as funções cerebrais e influenciar líderes governamentais ou populações inteiras, de acordo com um relatório de três analistas de inteligência de Singapura e dos EUA. As armas podem atacar ou controlar diretamente o cérebro usando micro-ondas ou outras armas de energia direcionada, portáteis ou não, que disparam feixes eletromagnéticos. Segundo os analistas, o perigo das armas de guerra cerebral da China, antes ou durante um conflito, já não é apenas teórico.
O alerta norte-americano não pode ser considerado um mero elemento da atual guerra psicológica travada contra Pequim: uma pesquisa simples mostra que existem diversos institutos na China trabalhando no desenvolvimento de armas neuro-táticas.
Eis uma teoria da conspiração que se tornou realidade, ou melhor, que passou a ser aceite como realidade.
Como sabemos, o termo “teoria da conspiração” adquiriu, nos últimos anos, um significado depreciativo e é muitas vezes usado para rejeitar ou ridicularizar opiniões e convicções impopulares.
Segundo a visão “mainstream”, as teorias da conspiração são basicamente teorias falsas, que não se baseiam em fatos e que não são aceites pela maioria da sociedade.
Explicando muitos eventos históricos e contemporâneos de maneira alternativa à “oficial”, as “teorias da conspiração” não são propriamente teorias, mas explicações que contradizem as versões oficiais.
Mas de onde vieram afinal as chamadas teorias da conspiração?
A história destas teorias começa em 1963, quando é criada a Comissão Warren para investigar o assassinato do presidente John F. Kennedy. Uma das suas conclusões indica que “nenhum agente do governo esteve envolvido em qualquer conspiração relativa aos crimes. Lee Harvey Oswald atuou isolado, sem qualquer apoio para assassinar o presidente, e a sua única motivação era pessoal”.
Em 1964, logo após a Comissão ter publicado o relatório com as conclusões, surgiram artigos e até livros criticando e contrariando a versão oficial do assassinato.
A explicação do governo não parecia totalmente plausível e muitos acreditavam que a CIA estivesse envolvida na morte de Kennedy.
Em abril de 1967, a CIA envia um despacho para todos os seus oficiais nos diversos países do mundo. Eis alguns excertos deste documento, que só viria a ser publicado pela primeira vez em 1976 pelo New York Times, no âmbito da lei americana Freedom of Information Act (Lei da Liberdade de Informação): «Depois de a Comissão Warren ter publicado as suas conclusões sobre o assassino de JFK, foram publicados artigos e livros questionando as conclusões sobre o assassinato de John F. Kennedy. Desde o dia do assassinato do Presidente Kennedy, houve rumores sobre a responsabilidade por seu assassinato. (…) Essas teorias lançaram suspeitas sobre a nossa organização. Por exemplo, há falsas alegações de que Lee Harvey Oswald trabalhava para nós. O objetivo deste despacho é fornecer materiais para refutar e desacreditar as alegações dos autores de tais teorias da conspiração a fim de desencorajar a disseminação de tais fenómenos em outros países».
A CIA, então, instruiu os seus agentes a colocarem um ponto final a todos os debates sobre o assunto, rotulando qualquer pessoa que fizesse perguntas sobre o caso como «teóricos da conspiração».
Desta forma, o termo «teoria da conspiração» foi especificamente criado pela CIA para silenciar os críticos do Relatório Warren. Quando um tema é oficialmente rotulado como teoria da conspiração, deixa de ser falado nos principais meios de comunicação social.
Hoje, as agências de inteligência de vários países designam determinados eventos como teorias da conspiração porque pretendem impedir a publicação de notícias sobre acontecimentos perigosos ou secretos. Qualquer discussão sobre questões apelidadas “de conspiração” deve parar imediatamente na imprensa. Assim, todos os críticos devem ser privados da base para as suas afirmações. Qualquer discussão pública posterior sobre temas rotulados como teorias da conspiração é desaconselhada. As informações oficiais devem sempre afirmar que as teorias da conspiração são geradas por pessoas perigosas ou perturbadas que as querem propagar.
Desta forma, desde os anos 60, o termo «teoria da conspiração» tem sido utilizado para denunciar, denegrir ou ridicularizar alguém que levanta objeções e contraprovas à cobertura mediática. Isto cria a impressão de que aquilo que as teorias da conspiração abordam não existe, apesar de as conspirações desempenharem um papel em todos os processos históricos importantes atualmente.
Como disse um conhecido jornalista, «hoje, é claro, o termo teoria da conspiração aparece em praticamente todas as histórias do New York Times sobre a política americana. É usado, agora como então, como uma arma contra qualquer um que faça perguntas que o governo não tem vontade de responder».
De onde vem o secretismo?
Segundo uma definição mainstream do que é uma teoria da conspiração, esta seria «uma crença segundo a qual uma agência ou um grupo secreto, porém influente, é responsável por um evento inexplicável».
Muitas das explicações alternativas sobre determinados eventos (por exemplo, da mais recente «pandemia») inclui elementos de secretismo. Para um cidadão comum, esse secretismo parece algo de difícil entendimento e comprovação, o que tende a afastar a maioria das pessoas, que preferem explicações mais simples e, de preferência, as que são difundidas nos principais meios de comunicação social.
Arrisco a afirmar que o secretismo pode ser explicado pelo fato de a maioria dos eventos em causa (abordados pelas alegadas teorias da conspiração) ter origem na área militar ou dos serviços de inteligência. Como sabemos, quase todas as novas tecnologias surgem primeiramente como tecnologias militares. Cada nova arma, cada novo processo desenvolvido pelos militares, antes de ser largamente usado, é mantido em rigoroso segredo. Esse segredo é essencial para manter vantagem sobre os países adversários. Além disso, quase todas as armas de destruição em massa visam não só os exércitos adversários, mas populações inteiras desses países. É um facto que os militares das várias superpotências desenvolvem tecnologias que podem causar enorme dano, quer aos adversários, quer inadvertidamente à sua própria população. É por essa razão que os governos, os militares e os serviços secretos tentam a todo o custo que não se fale de determinados temas.
Mas, uma vez que há sempre alguma informação que escapa ao controlo, é de todo o interesse dos governos catalogar essa informação como «teoria da conspiração» para a desacreditar e não se falar nela publicamente. Com as atuais tecnologias das corporações de Internet, cuja cooperação com as agências de inteligência é sobejamente conhecida, retirar informação indesejável dos olhos do público é muito fácil.
Tal como é igualmente fácil eliminar milhares de contas nas redes sociais de cidadãos que defendem essas convicções. Para o cidadão comum do Ocidente, se algo não existe no Google, não existe mesmo. Só que existe, basta tentar obter informação fora do Google.
As outras superpotências (China, Rússia) retiram igualmente informação que não lhes é favorável dos seus principais motores de busca (Baidu na China, Yandex na Rússia).
Além disso, os serviços secretos de todas as grandes potências são conhecidos por «eliminar» figuras públicas «indesejáveis», «testemunhas comprometedoras», jornalistas demasiado curiosos ou os seus próprios agentes que tenham escapado para países «inimigos». Basta referir a morte do líder da Autoridade Palestina, Yasser Arafat em Paris, por falência múltipla de órgãos segundo o hospital, mas havendo suspeitas de morte por envenenamento atribuído à Mossad. Outros envenenamentos de agentes secretos são também conhecidos. Na maioria das vezes, os serviços de inteligência realizam operações encobertas e, quando alguma informação inadvertidamente se torna conhecida, esta é frequentemente apelidada de «teoria da conspiração».
Hoje existem muitas alegadas teorias da conspiração que vieram a comprovar-se ser verdade.
Em 1976, a Câmara dos Deputados dos EUA formou um comité bipartidário especial para voltar a investigar o assassinato de JFK, acabando por concluir que Kennedy quase certamente foi assassinado em resultado de um conluio.
Outras «teorias da conspiração» que hoje são reconhecidas como verdadeiras foram o Projeto MK-Ultra da CIA, um programa de experiências ilegais em seres humanos com objetivo de controle mental e lavagem cerebral de indivíduos. Este programa foi também revelado pela Lei da Liberdade de Informação em 1977. Outro programa secreto foi a Operação Paperclip, sobre a contratação de pelo menos 1.500 cientistas nazis pelos EUA, após a Segunda Guerra Mundial. Ou a Operação Mockingbird, o programa secreto da CIA nos anos 50 para cooptar jornalistas e divulgar «notícias» nos principais meios de comunicação social. Pelo menos estas quatro, antes de serem reveladas, eram tachadas de «teorias da conspiração». É muito provável que, daqui a poucos anos, as explicações que hoje são consideradas «teorias da conspiração» venham a ser reconhecidas como verdadeiras. Resta esperar que todos nós possamos viver até lá.
Cristina Mestre
Psicóloga e tradutora