A presidente da União Europeia, von der Leyen, dirigindo-se ao primeiro-ministro japonês referiu-se à ameaça do uso de armas nucleares pelos russos. No entanto, ao fazer o paralelismo com as bombas lançadas no Japão, omitiu o autor desses ataques nucleares. O Ministério dos Negócios Estrangeiros russo foi um dos que condenou essa omissão e classificou as declarações de “perigosas” e “mentirosas”.
Ursula von der Leyen, no seu discurso proferido durante a recente cerimónia dos prémios do Conselho do Atlântico, no passado dia 21 de setembro em Nova Iorque, refere a dificuldade vivida na atualidade “especialmente num tempo em que a Rússia ameaça usar de novo as armas nucleares” e invocando a lembrança da tragédia de Hiroxima.
Ao dirigir-se a Fumio Kisid, primeiro-ministro japonês, esta lembrança do evento nuclear de Hiroxima parece deixar em aberto uma similitude entre duas situações de aniquilação total, a atual e a de 1945, junto da opinião pública, ao omitir o responsável pelo uso do poder nuclear no Japão, mas não deixando de referir o poder nuclear que atualmente ameaça, ou seja, a Rússia.
Nas palavras da presidente da Comissão Europeia:
“V. Exa., caro Primeiro-Ministro, (…) Muitos dos seus familiares perderam a vida quando a bomba atómica arrasou Hiroxima. Cresceu com as histórias dos sobreviventes. E queria que nós ouvíssemos as mesmas histórias, que enfrentássemos o passado e aprendêssemos algo sobre o futuro. Foi um começo sóbrio para o G7 e que não esquecerei, especialmente numa altura em que a Rússia ameaça usar armas nucleares mais uma vez. É hediondo. É perigoso. E, à sombra de Hiroxima, é imperdoável.”.
A reação ao discurso de von der Leyen foi imediata, e a crítica surge a propósito da imprecisão linguística, na medida em que parece sugestionar sobre um padrão de uso do poder nuclear sem distinguir, claramente, as origens diferentes do seu uso. Porque, de facto, os factos históricos revelam que é dos Estados Unidos a responsabilidade pelo uso do poder nuclear no Japão, no fim da II Guerra Mundial.
A Rússia, através da porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova, também denunciou a ausência de “qualquer menção aos EUA” e classificou as declarações sobre as supostas intenções de Moscovo como “desprezíveis e perigosas”, além de falsas.
Ver também:
Von Der Leyen Speech Suggests Russia Dropped Nuke On Hiroshima | ZeroHedge
Mónica Rodrigues
Especialista em Geopolítica e Geoestratégia. Licenciada em História (FCSH-UN) e com um DEA em Geopolitique (Universidade de Paris). Curso Segurança Internacional (NATO/UKiel, Alemanha). Auditora do Curso de Defesa Nacional (IDN/2002). Diretora da Revista Cidadania e Defesa (AACDN). Membro da SEDES (SEDES-Setúbal). Foi professora assistente de Geopolitica/Geoestrategia e Segurança e Defesa Nacional (ULusíada).