Russell Brand foi-me apresentado por uma irlandesa com quem namorei durante uns três meses.
A razão da coisa não ter demorado mais que um trimestre tem que ver com o fascínio dela por rapazes como o Russell: espirituais, pacifistas, esquerdalhada old school. Na época – estamos a falar do ano de 2014 – eu estava a render-me ao mundo empresarial e toda a porcaria que tresandasse a erva repugnava-me. Acrescente-se que eu trabalhava na Pfizer, coisa que custava engolir à Irlandesa e que igualmente contribuiu para o final da relação que se previa e se confirmou breve. Da minha parte, o sionismo não se compadecia com as posições pró-palestinianas da irlandesa (judia da parte da mãe) devidamente reforçadas pelo inevitável Russell.
Para complicar o enredo, alem de idolatrar o ativista aka comediante, a irlandesa também confessou ter queda por Vladimir Putin. Eu repito: Vla-di-mir Pu-tin. Bem vistas as coisas, o Russell e o Vladimir não são tão diferentes. Ideologicamente, claro. Ambos mantém alguma ética do comunismo clássico.
Eu também, talvez. No fim de contas, não me encontro entre estranhos. Tenho histórico de miúdas com panca por gajos bizarros. Quando vivi em Barcelona, saí com uma peruana doida pelo Bono. De antemão, a moça alertou-me para as circunstâncias de uma potencial ida a um concerto dos U2: ficaríamos de pé e na primeira fila, para que a pequena, entre gritos histéricos, se babasse e descabelasse e atirasse o soutien e sei lá mais o quê para o palco.
Não sei do paradeiro da peruana. Deve andar aos caídos entre Dalkey e Davos. A irlandesa, de acordo com o plano, deixou Dublin para se dedicar aos cavalos nos verdes campos do Éire. Morro de ciúmes. Digo, da irlandesa. Quem me dera ganhar a vida a tomar conta de um par de póneis.
Nove anos volvidos, tornei-me seguidor de Russell Brand. Refiro-me ao renovado Russell. Nada tenho (nem tenho moral para) contra os anos em que desflorou donzelas como passatempo. Os neo puritanos, no entanto, não lhe perdoam.
Longe vai o tempo em que as libidinosas vivências das vedetas das artes do espetáculo eram vistas como uma aplaudível afronta à sociedade. O mulherio fazia filas de espera para ir para a cama com o carismático cantor, enquanto os moços sonhavam com um quotidiano regado a rock & roll. Além do mulherio e dos moços, ainda não se adivinhava o advento de outros géneros. Havia gays contentes por não se poder casar para curtirem os prazeres instantâneos. Os punks tinham o desplante de dizer que o futuro era uma treta, e as camadas jovens repetiam-no aos berros, estando-se nas tintas para o destino do planeta e para os problemas vindouros a que os chatos dos velhos chamavam a atenção.
Nem tudo era bonito. Isso de os novos tenderam a achar que os velhos estavam enganados somente por serem velhos já revelava a decadência do Ocidente. Mas deixemos o desrespeito intergeracional para outro artigo.
Para o efeito, atente-se ao contraste entre a malta nova de hoje, obediente, ocos ecos do sistema, e a rebeldia inerentemente instintiva nos verdes anos. Cambada de bem-comportados. A Pfizer jamais poderá inventar um sonífero tão eficiente quanto o estudante universitário do século XXI.
O amadurecimento de Russel Brand custou-lhe caro. Cabelos brancos não são bem-vindos. Bom, brancos de uma maneira geral…