O secretário de Estado dos Transportes inglês veio criticar as “cidades de 15 minutos”, considerando-as de serem um plano “sinistro”, levado a cabo por políticos locais, que visa limitar a mobilidade dos cidadãos. As cidades de quinze minutos dividem opiniões, com os seus defensores a salientarem as vantagens ambientais e os seus críticos a alertarem para os perigos de poder ser uma fase precursora para a implementação de um sistema de créditos sociais.
A ideia de ter todos os serviços perto da casa dos seus constituintes parece não ter seduzido o Secretário de Estado dos Transportes, ao referir-se ao modelo das cidades de 15 minutos, denunciando-as como uma visão distópica por impedir a mobilidade dos cidadãos.
No seu discurso durante a recente conferência do Partido Conservador no passado mês de outubro de 2023, Mark Harper afirmou que as cidades de 15 minutos não é senão um plano urbano “sinistro levado a cabo por políticos locais” que decidem o número de vezes em que o cidadão pode ir fazer compras ou pode usar o carro, defendendo que o Partido Conservador é um partido “orgulhosamente pro-carro”. Pelo contrário, atacou o Partido Trabalhista acusando-o de tornar a condução mais cara.
Fonte: 15-Minute Cities: What Are They and Why Are They Controversial? – Bloomberg
As cidades de quinze minutos
Este novo conceito de planeamento urbano, da autoria de um professor universitário e especialista em urbanismo francês, Carlos Moreno, propõe que um núcleo urbano possa ser dividido em setores dentro dos quais todos os serviços essenciais não distam mais do que 15 minutos a pé ou de bicicleta. A argumentação de fundo parece estar associada às mudanças climáticas, sendo necessário alterar o comportamento dos cidadãos para reduzir o impacto da vida humana na preservação da Terra, considerando os opositores ao projeto como um grupo de matriz ideológica de extrema-direita.
Testado em Paris e num conjunto de quarenta cidades espalhadas pelo mundo, este conceito tem, contudo, suscitado várias reações. A contra-argumentação sustenta que existem vários riscos que devem inviabilizar o projeto urbano. Por um lado, se pode criar prosperidade para algumas zonas pode, porém, condenar outras zonas, mais pobres, à perpetuação da pobreza. Por outro lado, priva os cidadãos da liberdade de circulação o que, no caso da União Europeia, é contra os princípios consignados pelo Tratado de Roma. Por outro lado, ainda, trata-se de um processo decidido de cima para baixo, não tendo havido o debate pública e a consulta pública conforme os princípios da sociedade democrática.
Na realidade, a grande preocupação de fundo com este modelo urbano prende-se com a possibilidade de ele configurar uma fase de organização social prévia à instalação de um sistema de créditos sociais, semelhante ao da antiga União Soviética ou ao que atualmente existe na China. Uma fase em direção a uma sociedade totalitária de vigilância, com o controlo total do cidadão através da privação da sua liberdade e do seu confinamento ao bairro onde reside.
Referências :
15-Minute Cities: What Are They and Why Are They Controversial? – Bloomberg
UK Transport Chief Slams ‘Sinister’ Anti-Congestion Measures – Bloomberg
Fifteen-minute cities are about convenience, not conspiracy
Ver também:
A cidade dos 15 minutos: oportunidade ou prisão? – The Blind Spot
As raízes soviéticas das cidades de 15 minutos – The Blind Spot