O professor Clemente Nunes, especialista em energia, denunciou a política energética introduzida em 2006/07, que terá acabado com os mercados concorrenciais e assegurou rentabilidades garantidas a privados. Para ele, o facto de ser obrigatório o recurso, sempre que possível, às energias intermitentes, torna o sistema extremamente caro e lesivo das finanças públicas. Também os novos projetos energéticos são alvo de críticas por recorrerem ao mesmo modelo, que beneficia grandes empresas com custos elevadíssimos para o estado, consumidores e contribuintes.
No programa Negócios da Semana de José Gomes Ferreira, que contou também com a presença do engenheiro Mira Amaral, o professor, investigador e empresário, Clemente Nunes traçou um quadro negro do funcionamento do setor energético em Portugal.
Afirmou que o governo Sócrates implementou em 2006/07 um sistema de “tarifas políticas com reservas de mercado”, que originou uma divida tarifária a cargo dos consumidores.
Para ele, as tarifas foram feitas para garantir que quem investisse nelas ganhasse dinheiro e, por outro lado, o custo para garantir a estabilidade do sistema passou totalmente para os consumidores.
Ou seja, para além de se ter originado instabilidade na produção de energia, acabou-se com um modelo concorrencial de mercado.
“Introduziu-se instabilidade ao sistema e retirou-se qualquer componente direta de lei de mercado, de concorrência livre, leal, no mercado.”
Sistema do “pára, arranca”
Segundo o professor do Técnico, o país tem grande excedente de capacidade de produção energética, mas, como temos de dar prioridade às energias intermitentes, a solar e a eólica, acabamos por não a utilizar.
Para além disso, para compensar essa instabilidade, Portugal passou a importar energia em muito maior quantidade de Espanha (30% em média). Esse facto, tem a ver com a maior facilidade do mercado espanhol (muito maior que o nosso) de fornecer energia intermitentemente e apenas quando a eólica e solar não o conseguem fazer.
Mesmo assim, como sempre que existe vento ou sol suficiente, se tem de dar prioridade a essas fontes energéticas, o custo dispara.
“Este sistema do “pára, arranca” é extremamente caro”.
Ironicamente, parte dessa energia vem do carvão dado que os espanhóis reativaram as centrais a carvão, ao contrário de nós, que as encerrámos.
Sistema descontrolado
Segundo o professor, o sistema energético, apesar dos elevados preços de eletricidade, continua desequilibrado e a própria reguladora propõe que a dívida tarifária dispare até aos dois mil milhões de euros em 2024. E, conclui:
“É a declaração completa do falhanço desta política”
Problema será mais grave com o hidrogénio e as eólicas offshores
Na conversa foram ainda abordadas novas fontes de energia, que estão a ser exploradas, mas que, segundo os convidados do programa, não têm qualquer racionalidade económica, exceto para as empresas que as exploram com rentabilidades garantidas.
Hidrogénio oito a 10 vezes mais caro do que o gás natural
Clemente Nunes explicou ainda a enorme complexidade e os elevados custos da produção de energia a partir do hidrogénio. O valor desta forma de produção de energia está estimado em 340-350 euros por megawatts, cerca de oito a 10 vezes mais caro que o gás natural normal.
Eólicas offshores
Clemente Nunes recorda a informação que veio a público de que as eólicas offshores (no meio do mar) assegurariam, também elas, uma tarifa garantida com reserva de mercado.
Ambos os convidados salientaram que, dados os enormes custos a acrescentar a esse valor inicial assegurado, o resto do mundo está mesmo a desistir deste tipo de projeto, dando o exemplo de Inglaterra.
Referência:
Os grandes negócios da transição energética – SIC Notícias (sicnoticias.pt)
Fonte foto capa: Sessão no Salão Nobre do Técnico sobre medidas transversais de eficiência energética para a Indústria (2017)
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