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A vitoria de Milei na Argentina: o rei-leão ou o cavalo de troia?

A vitória de Javier Milei na Argentina é, para o recém presidente, a oportunidade certa para a reconstrução do país com menos Estado e mais participação de investimento privado. A clara aproximação aos Estados Unidos da América e a Israel, e o consequente afastamento do Mercosul e dos BRICS, não cessam a questão de fundo que é se o investimento privado é apenas a implementação de um plano apátrida globalista.

“Hoje começa a reconstrução da Argentina”, são as primeiras declarações proferidas por Javier Gerado Milei no discurso da vitória, com mais de 55% dos votos, a 19 de novembro. Ou seja, um discurso de ruptura com o passado recente peronista-kircherista, e que pretende inaugurar um novo ciclo de vida política argentina. E continua, com uma das frases bíblicas que lhe são conhecidas, “Não vim guiar cordeiros, vim despertar leões.”.

O líder da coligação A Liberdade Avança, é o décimo segundo presidente argentino na recente democracia, tendo derrotado o candidato peronista Sergio Massa, que conseguiu um total de 44% dos votos. No seu discurso após o ato eleitoral, Sergio Massa felicita o novo presidente argentino e deixa uma mensagem mensagem salientando que “a convivência, o dialogo e o respeito pela paz (…) é o melhor caminho que podemos percorrer.”.

Esta vitória de uma proposta considerada anti-sistema é atribuída, segundo alguns analistas políticos, ao facto de prometer a solução esperada para uma grave crise económica, aliado ao descrédito da classe política e ao apoio dos anti-peronistas. Neste caso, foi fundamental o apoio do ex-presidente Maurício Macri e a ex-candidata presidencial Patricia Bullrich (terceira posição na primeira volta das presidenciais). Sergio Berensztein, cientista político argentino, afirma que “Desde seu surgimento na esfera pública, quando foi eleito deputado, Milei conseguiu se diferenciar com uma narrativa política muito diferente, de confronto do sistema.”.

Reconstruir a Argentina: Menos Estado e mais investimento privado

O Estado Mínimo parece ser a proposta de Milei, um desiderato que o levou à vitória. Menos ministérios, menos obras públicas e privatização das empresas estatais, prometendo também combater a “casta política”.

Numa conjuntura de longa crise económica, o novo presidente conseguiu a mobilização transversal na sociedade argentina, com forte captação do voto jovem.. Esta vitória retumbante está imbuída de um pensamento anarco-capitalista, como prefere classificar-se – e onde o Estado tem um papel mínimo -, antevendo-se a diminuição do emprego público e a redução de programas sociais de que depende uma parte da população.

Em política externa, alinhar aos EUA e a Israel

No decorrer da sua campanha afirmou sempre que os principais aliados da Argentina eram os EUA e Israel, manifestando também tendo a intenção de sair do Mercosul e não aderir aos BRICS. Relativamente a estes últimos terá afirmado “Não vou fazer acordos com comunistas porque eles não respeitam os parâmetros básicos do comércio livre, da liberdade e da democracia, é geopolítica.”.

O Mercosul é um bloco regional sul americano de natureza político-económica, fundado no ano de 1991, e ao qual pertencem os países sul americanos como o Brasil, a Argentina, o Uruguai e o Paraguai.

Em 2006 os BRICS, um grupo de natureza político-económica, eram fundados por um grupo de países como o Brasil, a Rússia, a Índia, a China e a África do Sul. A sua conceção é atribuída a Jim O’Neil, economista-chefe da Goldman Sachs, num estudo realizado em 2001. Presentemente, é um grupo em franca expansão.

A construção de um plano apátrida por detrás da intenção de privatização

Mas é precisamente o facto de ter sido membro do B20 – Grupo de Política Econnómica da Câmara de Comércio Internacional, conselheiro do G20 – e ter participado no Forum Económico Mundial, que suscita algumas apreensões nos meios políticos nacional e internacional, levando muitos a ver nele um cavalo de tróia ao serviço do projeto globalista supranacional do Forum Económico Mundial.

Fonte: Javier Milei | World Economic Forum (weforum.org)

Estas preocupações com o sentido da “reconstrução” da Argentina, amplamente divulgada durante a campanha eleitoral pode, em boa medida, estar mais alinhada com a política do “Build Back Better” americano de Biden e do “Grande Reset” de Davos, e ter menos uma inspiração liberal-libertária. Recorde-se que, em 2014 Javier Gerardo Milei participou no Forum Económico Mundial na cidade do Panamá, como economista chefe da Corporação América, num encontro dirigido ao investimento no capital humano, e onde chamou a atenção para a fraqueza do sistema educativo universitário argentino, de perfil marxista, e pouco apelativo e “adequado ao que o mercado necessita”.

Fonte: Investing in Human Capital | Javier Gerardo Milei, Chief Eco… | Flickr

Quem é Javier Gerardo Milei?

Javier Gerardo Milei é um político, economista reconhecido, gestor, professor universitário e autor com vasta obra publicada. Filosoficamente, situa-se dentro do pensamento económico da Escola Austríaca, criticando, pois, o forte peso do Estado na política argentina. Advoga, por isso,  a forte redução da despesa pública e, particularmente, a política fiscal.

Enquanto professor universitário ensinou matérias como macroeconomica, microeconomia e matemática para economistas. É também autor de vários livros, onde se destaca “O caminho do Libertário”, tendo a adquirido ainda uma presença assídua na televisão e na rádio, e  iniciou também o seu próprio programa de rádio.

Na área empresarial, destaca-se a sua carreira no setor das pensões e da consultoria financeira. Foi ainda consultor governamental no Centro Internacional para a Resolução de Litígios em Matéria de Investimentos e economista sénior no HSBC Argentina.

Em 2020, Milei entra na política e é eleito em 2021 pelo partido A Liberdade Avança. E, na recente campanha eleitoral, as propostas eleitorais passaram pela abolição do Banco Central da Argentina e uma forte redução dos impostos, assim como dos ministérios. Reconhecendo-se enquanto um liberal libertário, alinhado por princípios de natureza anarco-capitalista, é um firme apoiante da liberdade para escolher, em áreas tão diversas como a identidade do género, drogas e porte de armas, apesar de militar contra políticas anti-vida – nomeadamente na área da eutanásia e a do aborto -, assim como é manifestamente contra a política de imigração desregulada.

Reações internacionais à vitória de javier Milei

Enquanto o Presidente brasileiro não citou nominalmente o candidato argentino vitorioso, Donald Trump congratulou Milei e afirmou “  “O mundo inteiro está a ver! Estou muito orgulhoso de ti. Vão dar a volta ao vosso país e tornar a Argentina verdadeiramente grande de novo!”.

Referências

Javier Milei: o que disseram Lula e Bolsonaro sobre a vitória do novo presidente argentino | CNN Brasil

Javier Milei: quem é o polêmico presidente eleito da Argentina (infomoney.com.br)

Javier Milei And The New Libertarian Revolution In Argentina (forbes.com)

(115) “Las universidades están llenas de marxistas” Javier Milei en el Foro Económico Mundial – YouTube(115) Discurso completo de Javier Milei desde el búnker, tras el balotaje presidencial – YouTube

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