Sandra Felgueiras, a jornalista que investigou a influência de políticos no caso das gémeas brasileiras, sugere que ninguém “diz não” ao Presidente Marcelo e que vários jornalistas se recusaram a pegar na história. Já em 2021, existiram denúncias de que a comunicação social ocultou a partilha ilegal de dados pessoais com regimes repressivos pela CM de Lisboa e que só reportou o caso quando ele foi noticiado por um jornal estrangeiro. A autarquia acabou condenada a pagar 1,2 milhões de euros.
No podcast Justiça Cega, Sandra Felgueiras e Luís Rosa analisaram os casos do ano. Entre os temas abordados esteve o “caso das gémeas”, envolvido em suspeitas de alterações de procedimentos devido a influências políticas, nomeadamente por parte do Presidente da República e de membros do governo.
Entre outras observações, Sandra Felgueiras destacou a subserviência dos jornalistas em relação ao presidente da República e o facto de vários colegas não terem pegado na história.
“Achas que alguém em Portugal, até a começar em jornalistas, diz que não ao presidente?
“Tu sabes quantas pessoas receberam a mesma pista que eu e que não pegaram nela? É que a história quando nos chega chega-me desta forma: “Nós já batemos na porta a várias pessoas e ninguém pegou nisto.””
Recusa da comunicação social em noticiar partilha ilegal de dados pela CM Lisboa
Em junho de 2021, o jornal Politico noticiou que as informações pessoais dos organizadores de manifestações contra regimes repressivos tinham sido partilhados com as embaixadas desses mesmos países pela Câmara Municipal de Lisboa.

Entre essas informações constavam o nome e a sua morada, que tinham sido fornecidas à autarquia no processo de requerimento das manifestações. Esses dados foram transmitidos às embaixadas da China, da Venezuela, de Angola, de Israel e da Rússia.

Mas talvez o mais revelador deste caso seja o facto de ele ter sido transmitido aos jornalistas nacionais, seis meses antes, e que ninguém tenha pegado nele.
“Falei disto aos jornalistas portugueses em janeiro, mas ninguém quis falar sobre o assunto”. – Organizadora do protesto Ksenia Ashrafullina ao Politico
Apenas quando o caso é publicado pelo Politico se torna público em Portugal e todos os grandes órgãos de comunicação o reportam.
A Câmara Municipal acabou condenada a pagar 1,2 milhões de euros, foram identificadas 225 infrações e 52 casos de envios de dados pessoais.
Referências:
Aprendemos algo com Influencer e caso das gémeas? – Observador
Lisbon has shared dissident info with repressive regimes for years – POLITICO
Lisbon admits sharing Russian dissidents’ personal data with Moscow – POLITICO
Ver também:
Editorial: A cunha morreu solteira
Em vez da erradicação prometida pelo Presidente, número de sem-abrigo duplicou
TC julga inconstitucional confinamento obrigatório fora do estado de emergência