A aprovação do primeiro fundo de índices cotados à vista de Bitcoin nos Estados Unidos pela Securities and Exchange Commission tem várias implicações ao dar-lhe estabilidade, ao torná-la uma moeda de reserva global livre e ao afirmá-la como alternativa às tão polémicas CBDC, programáveis pelos Estados em função da sua ideologia.
Ontem, a Securities and Exchange Commission – SEC (o equivalente à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários em Portugal– CMVM) aprovou o primeiro fundo de índices cotados à vista (SPOT ETF) de BITCOIN nos Estados Unidos.
O que é que isto representa em termos práticos? Significa que as instituições financeiras podem agora constituir e guardar custódia de reservas privadas de bitcoins, oferecendo co-propriedade das mesmas aos seus clientes na forma de títulos de investimento. Por outras palavras, as pessoas podem agora comprar e vender bitcoins ao balcão dos bancos, podendo esta atividade começar já na próxima quinta-feira. De que forma terá isto impacto na sociedade, na economia e no nosso sistema financeiro?
Várias implicações surgem no horizonte. Primeiro, e nas primeiras 48h, estima-se que pelas mãos da BLACKROCK, GRAYSCALE e outras, cerca de 2 mil milhões de dólares entrem no sistema financeiro cripto através destes novos ETF- Exchange Traded Fund, ou, em português, fundo de índices cotados (um valor record comparativamente a outros fundos anteriormente listados), podendo chegar a 5 mil milhões de dólares ou mais nos primeiros 30 dias, o que representará cerca de 5% de todo o mercado do ouro a nível mundial.
Segundo, o montante estimado para a campanha de marketing está pensado para cerca de 100 milhões de dólares. A partir daqui levaremos com o nome BITCOIN a par da instituição que a oferece (sob a forma do ETF) em todo o lado. Ouviremos falar da bitcoin a toda a hora em podcasts, newsletters, nos programas informativos e de opinião, nos debates, nas telenovelas, nos filmes, veremos a bitcoin em “outdoors” nas autoestradas, nas paragens dos autocarros, no metro, nas camisolas da primeira liga, ou seja, em todo o lado.
Terceiro, os gestores de ativos financeiros, com grande probabilidade, colocarão cerca de 1% a 3% dos fundos dos seus clientes no BITCOIN SPOT ETF.
Quarto, os fundos soberanos irão comprar títulos dos fundos ETF, trazendo a participação dos próprios Estados no investimento cripto.
Por último, a enorme liquidez criada no mercado irá estabilizar a volatilidade da bitcoin aproximando-a cada vez mais das características que deverá ter no futuro como uma moeda de reserva global livre, e que terá o seu papel como alternativa às tão polémicas CBDCs cujos Estados (ao contrário da bitcoin) poderão programar a seu bel-prazer consoante os seus desígnios ideológicos.
Por todas estas possibilidades, estamos hoje a viver um marco histórico e um ponto de viragem no sistema financeiro tradicional rumo a um novo paradigma digital libertário que tem ao leme a BITCOIN – uma moeda digital que não pode nem nunca poderá ser programada nem censurada por nenhum estado.
João Barradas
PhD em Exploração e conservação de Recursos Naturais, com Tese em Desenvolvimento de modelos informáticos para agricultura. Especialista em Big Data, Data Mining, Crop Modelling, Blockchain Applications in Agricultural Data Science.
Foi Investigador Associado na Universidade de Cranfield em Modelos informáticos para agricultura. Professor na Universidade Checa de Ciências da Vida, Departamento de Recursos Hídricos.