A valorização do talento é um dos aspetos principais a considerar se queremos resolver um problema, complexo e multifacetado, como é a falta de professores. O abandono da profissão, verificado na atualidade, precisa de uma visão estratégica e não de medidas avulsas e paliativas.
A falta de professores é um problema que afeta não apenas o sistema educacional, mas também a sociedade como um todo. Este problema complexo é multifacetado e resulta de uma série de fatores interligados.
Primeiro é importante destacar que o absentismo docente, embora seja frequentemente retratado de forma sensacionalista pelos media (moços de recados dos poderes instituídos), não é tão prevalente como pode parecer à primeira vista. Um estudo recente sobre o tema revelou que a taxa de absentismo dos professores é de aproximadamente 4%, inferior à média da administração pública, que é de 7%. A maioria das faltas de longa duração concentra-se em apenas 10% dos docentes, muitos dos quais enfrentam doenças graves e incapacitantes. O envelhecimento da força de trabalho docente também é um fator significativo, com mais de 20% dos professores a ultrapassar os 60 anos e a enfrentar condições de saúde que os impedem de continuar a trabalhar.
Além disso, a pandemia de Covid-19 exacerbou ainda mais a situação, levando a um aumento nas faltas de curto e longo prazo devido a doenças relacionadas com o vírus e com outras condições de saúde. Muitos professores ainda estão a lidar com as sequelas da infeção e com o risco contínuo de contrair doenças contagiosas, como a gripe A.
No entanto, a falta de professores não é apenas um problema de saúde. Outros fatores, como a aposentação em massa e a falta de atratividade da profissão, contribuem significativamente para o déficit de docentes. No início de cada ano letivo, há uma escassez significativa de professores nas escolas, com um número substancial de alunos sem os professores necessários para todas as suas turmas. Embora haja um pequeno número de novos professores que entram no sistema em cada ano, isso não é suficiente para compensar as aposentações.
Além disso, a falta de valorização da profissão de professor e a falta de incentivos para atrair jovens para a carreira docente são desafios importantes que precisam ser abordados. Muitos dos que abandonaram a profissão, cerca de 20.000, e os jovens que concluem o ensino secundário, precisam ser atraídos para os cursos de formação de professores por meio de políticas e medidas que reconheçam e valorizem o papel fundamental dos professores na sociedade. A devolução integral do tempo de serviço subtraído deveria ser um começo, assim como evitar as recentes trapalhadas com a Caixa Geral de Aposentações (CGA).
Uma solução potencial para mitigar a falta de professores foi a bolsa de docentes com horários completos, conhecida como “Reserva de Recrutamento”, para serem alocados nas escolas quando surgirem necessidades. No entanto, é crucial notar que muitos grupos de recrutamento já estão esgotados, o que torna essa solução menos viável. Insuficiente, portanto. A contratação de professores não profissionalizados é uma medida temporária para lidar com o problema imediato, mas não resolve a falta de professores a longo prazo, e contraria de forma grosseira as recentes recomendações da OCDE.
Para enfrentar o problema da falta de professores de forma eficaz, é necessário adotar uma abordagem abrangente que inclua medidas para valorizar a profissão, atrair novos talentos e rejuvenescer a força de trabalho docente. Isso pode ser alcançado por meio de políticas que ofereçam melhores condições de trabalho, oportunidades de desenvolvimento profissional e salários competitivos, além de programas de recrutamento direcionados para jovens interessados na carreira docente.
Em suma, a falta de professores é um problema complexo que requer uma abordagem holística e colaborativa por parte das autoridades educacionais, governamentais e da sociedade em geral. A valorização da profissão de professor em termos materiais e sociais, bem como o investimento em medidas para atrair e reter talentos são fundamentais para garantir a qualidade e a sustentabilidade do sistema educacional.
Paulo Fanha
Professor de Ciências Físico-químicas
Jogador/treinador/professor de xadrez