No último debate para as europeias, na CNN/TVI, Catarina Martins afirmou que o Bloco de Esquerda (BE) “envolveu-se muito” no caso ‘Pfizergate’, que revelou a negociação secreta entre Ursula von der Leyen e o CEO da Pfizer para a compra das vacinas covid. No entanto, não encontrámos qualquer registo desse envolvimento, nem sequer nos seus sites. Apesar das nossas múltiplas tentativas e de nos ter sido prometida uma resposta, o partido não esclareceu quais as ações concretas que encetou.
No último debate para as eleições europeias, transmitido a 24 de Maio na CNN/TVI, a bloquista Catarina Martins afirmou que o seu partido foi ativo no escrutínio do ‘Pfizergate’, o polémico caso da compra de 1,8 mil milhões de vacinas contra a covid-19 negociada através de mensagens de texto entre Ursula von der Leyen e o CEO da Pfizer, Albert Bourla.
Questionada pela jornalista Sara Pinto sobre medidas de combate à corrupção para a União Europeia, a cabeça de lista do Bloco de Esquerda (BE) criticou a influência dos lobbies dos combustíveis fósseis e das farmacêuticas e a falta de transparência. “A transparência é pouca. Sabemos, aliás, como a presidente da Comissão Europeia recusou revelar as mensagens que trocou com a Pfizer quando estava a negociar os preços das vacinas do covid numa comissão de inquérito que foi criada no Parlamento Europeu para isso. O Bloco de Esquerda envolveu-se muito nisso”, disse a bloquista, no debate que juntava também a AD, o PS e o PAN.
Contudo, inquirido pelo The Blind Spot, o Bloco de Esquerda disse apenas estar muito ocupado com a campanha eleitoral para as europeias e não esclareceu, até ao momento, quais foram, em concreto, as ações que tomou face ao caso que envolve a presidente da Comissão Europeia.
Também não encontrámos qualquer referência a esse “envolvimento”, mesmo após termos consultado o seu site oficial, o bloco.org, e o seu site noticioso, Esquerda.net.
O “Pfizergate”
Foi em abril de 2021 que Ursula von der Leyen negociou informalmente, e de forma direta, a compra de 1,8 mil milhões de vacinas anti-covid com o diretor-executivo da Pfizer, por um valor que se estima ser de 20 mil milhões de euros. Von der Leyen assumiu ter negociado com o CEO da Pfizer, mas recusou-se a divulgar o conteúdo das mensagens, culminando na abertura de uma investigação pela Procuradoria Europeia, que se encontra ainda a decorrer. Uma audição que deveria ter acontecido no final do mês passado foi, inclusive, adiada para dezembro.
Ações do Bloco de Esquerda
Embora se desconheça, ao certo, qual foi o papel dos eurodeputados bloquistas no escrutínio do caso Pfizergate, é certo que o partido já criticou duramente o processo de aquisição de vacinas pela União Europeia. Logo no início de 2021, Marisa Matias interrogou Ursula von der Leyen no Parlamento europeu sobre as “cláusulas lesivas” dos contratos, “que eximiam as farmacêuticas de qualquer indemnização obrigatória” em caso de reações adversas. Na altura, os bloquistas também disseram não fazer sentido que as vacinas fossem financiadas com dinheiros públicos, mas que os lucros e a gestão fossem privados.
José Gusmão, eurodeputado nesta última legislatura, seguiu o mesmo diapasão, opondo-se às patentes e à propriedade industrial das vacinas pelas farmacêuticas. Em fevereiro de 2021, chegou até a afirmar que “houve uma captura da Comissão Europeia pelo lóbi das farmacêuticas”.
Ver também:
CEO da Pfizer volta a recusar testemunhar sobre a negociação informal que levou aos mega-contratos com a União Europeia – The Blind Spot
Negócios das vacinas covid-19 na UE sob investigação – The Blind Spot
UE planeia adquirir mais 146 milhões de vacinas Covid mRNA – The Blind Spot
Comissão Europeia acusada de proteger von der Leyen do escrutínio público – The Blind Spot
Tribunal acusa von der Leyen de omitir negociações pessoais com CEO da Pfizer que levaram a contrato de 1,8 mil milhões de doses – The Blind Spot