As portas giratórias entre a Food and Drug Administration (FDA) e as empresas são comuns: desde 2000, todos os comissários da FDA (o cargo mais elevado da agência), foram depois contratados para o ramo privado. Agora, e-mails internos a que a conceituada revista científica BMJ teve acesso revelam que os antigos funcionários da FDA têm luz verde para continuar a influenciar o regulador “nos bastidores”, mesmo estando já a trabalhar no setor privado. Apesar de a lei proibir atividades de lobbying direto por parte dos ex-funcionários, estes podem exercer influência de forma indireta – inclusive, a partir de grandes farmacêuticas.
A Food and Drug Administration (FDA) – o regulador do medicamento dos Estados Unidos – permite que os seus antigos colaboradores continuem a influenciar a agência de forma indireta, já enquanto trabalhadores em empresas privadas.
Em e-mails internos a que a prestigiada revista científica BMJ teve acesso, a equipa de ética da FDA terá salientado aos ex-funcionários que apesar de a lei norte-americana lhes vedar atividades de lobbying direto dentro da agência, estes podiam fazer trabalho “nos bastidores”. Num artigo publicado esta semana, o investigador e editor-sénior da BMJ, Peter Doshi, adianta que os e-mails foram obtidos ao abrigo de um pedido de liberdade de informação.
Doshi fala especificamente no caso do cientista Dorin Fink, que trabalhou no regulador norte-americano como responsável pela regulamentação das vacinas durante uma década, e sobretudo das vacinas anti-covid nos últimos três anos em que esteve na FDA – mesmo antes de aceitar um emprego na farmacêutica Moderna (a empresa farmacêutica que mais disparou os seus lucros após as autorizações de comercialização de emergência da sua vacina covid pelo regulador). Depois de ter abandonado a agência, Fink terá recebido um e-mail do regulador com orientações “adaptadas à sua situação”, e em que era ‘autorizado’ a manter atividades “nos bastidores”.
Craig Holman, um lobista para assuntos governamentais, explica ainda à BMJ que “as pessoas deixam o serviço governamental, e podem começar imediatamente a fazer lobbying e a vender”. Holman frisa até que os antigos funcionários podem conduzir campanhas de lobbying, “desde que não peguem no telefone e contactem diretamente com os seus ex-chefes”.
Além disso, é uma prática comum a passagem de altos executivos do regulador norte-americano para empresas privadas dentro da indústria, incluindo grandes farmacêuticas. Na verdade, desde o ano de 2000 que todos os funcionários que alcançaram cargos de topo dentro da FDA saltaram depois para o ramo privado.
Ver também:
Indústrias farmacêuticas financiam reguladores de medicamentos – The Blind Spot
Especialistas alertam para falhas na supervisão da FDA – The Blind Spot