Com exceção dos pubs junto às paragens do Luas (que é como chamam ao elétrico aqui do sítio) no centro de Dublin, o The Gallops será porventura o que mais próximo se encontra de uma das ditas. Podia, por uma questão de marketing, ter-lhe sido dado o nome da paragem do Luas aka elétrico ali ao lado. Chamar-se-a ia Leopardstown. Mas já existe um Leopardstown Inn por aquelas bandas.
O The Gallops foi o meu “local” (que é como se chama aqui a bar do bairro) durante os tempos em que vivi no desterro de Cherrywood. Digo “desterro”, entre outras coisas, devido à ausência de coisas caseiras como os pubs. Para não falar da abundante massa de residentes estrangeiros “demasiado” estrangeiros – em evidente e estridente maior número que a prata da casa.
Voltando à nomenclatura. O The Gallops, pub tão recente que infelizmente cheira mais a tinta do que a mijo, preferiu batizar-se com um nome que remete para as corridas de cavalos no recinto famoso de…Leopardstown. Para quem, como eu, pouco conhece destes eventos, “Gallops” trata-se de um sprint de um quadrúpede, seja cavalo ou não.
Alguma gíria usa-o para designar o ato sexual. Provavelmente, rapidinha. (“We have all been there!”)
O The Gallops tinha (o pub ainda existe, penso, embora não tenha a certeza por ter deixado de o frequentar) as paredes decoradas com retratos de cavalos de corrida. Cavalos mesmo, juro. Nada de unicórnios ou éguas empoderadas pela igualdade de género.
Cavalos com Jóqueis (que é o nome que se dá em português, juro de novo) ao pessoal que monta os bichos nas respetivas corridas ou corridas de obstáculos) do sexo masculino. Todos caucasianos. Nem um Belchior escapado do presépio para amostra.
Alguns dos Irish Pub preservam o que de tradicional, senão pelo menos autêntico, ainda resta no Éire e na Europa. Nem os que erguem bandeiras ‘LGBláblá’ conseguem abafar as galopadas patrocinadas pelas Guinness ou cidras nativas.
Será esse certamente um dos motivos por que me continuo a comover com o convívio comunitário dos pubs. Lugares onde as nossas inapeláveis falhas humanas não são apenas perdoadas, mas celebradas como espetáculo. Tudo em nome da diversão, de passar um bom bocado (que é o máximo que um comum mortal pode aspirar neste mundo).
Entretanto, as estatísticas (igualmente conhecidas como censos, nome feio como o rosto de um burocrata) revelaram que o número de residentes na Irlanda consumidor de bebidas alcoólicas reduziu drasticamente. Dois fatores: a) as novas gerações trocaram a cerveja pela soja b) as invasões de indivíduos não-ocidentais.
Dublin, até há bem pouco tempo, era conhecida como a cidade que se podia atravessar de uma ponta a outra indo de pub em pub. Um mapa tornado hoje numa relíquia, para mais tarde recordar. Por enquanto, restam ainda pubs como o The Gallops. Que inspire a cavalgada celta, a ‘reconquista’.
Vitor Vicente
Escritor