Em maio, vários órgãos de comunicação social noticiaram um estudo ‘fantasma’ segundo o qual o Estado pouparia 245 milhões de euros com mais vacinas, que até hoje ainda não foi divulgado. De acordo o responsável pelo projeto, além de se tratar apenas de uma mera ‘análise’ (e não de um estudo), de forma alguma se poderiam tirar essas conclusões. Nas redes sociais, os próprios investigadores envolvidos desmentiram as informações então veiculadas pela imprensa, e um deles chegou até a dizer publicamente que as notícias em causa eram uma “masterclass de desinformação” e de “agenda setting”. Apesar de tudo isto, e de terem sido alertados pelo The Blind Spot, os “verificadores de factos” nacionais, como o Polígrafo, deixaram passar em branco estas notícias falsas.
Nas redes sociais, os investigadores José Miguel Diniz e Henrique Vasconcelos, ‘arrasaram’ a imprensa mainstream por ter veiculado em maio passado informações falsas sobre um suposto “estudo” da sua autoria, segundo o qual o Estado pouparia 245 milhões de euros com a inclusão de mais vacinas para adultos no Plano Nacional de Vacinação.
Na altura, Henrique Vasconcelos disse mesmo na sua página do X (antigo Twitter) que as notícias publicadas eram uma “masterclass de desinformação” e de “agenda setting”, e acusou os órgãos de comunicação social de um “aproveitamento ignóbil”. Por sua vez, José Miguel Diniz desmentiu no LinkedIn as conclusões que a comunicação social transmitiu com base no relatório. E foi perentório, afirmando: “Melhor manchete: Estado NÃO pouparia 245 Milhões por ano se vacinasse mais adultos”.
No entanto, o Polígrafo, principal ‘fact-checker’ português, e os verificadores de factos do Público (Prova dos Factos) e do Observador, não ‘verificaram’ a notícia em causa, mesmo depois de terem sido alertados pelo The Blind Spot no dia 11 de junho. Apesar de o Polígrafo reivindicar o objetivo de “apurar a verdade no espaço público através do escrutínio ativo dos vários protagonistas que se movem no ecossistema comunicacional”, ignorou que vários jornais tivessem transmitido informações manifestamente falsas, que nunca foram sequer corrigidas. Além disso, tal como o Público e o Observador, não deram qualquer resposta ao The Blind Spot.
Denúncia de notícia falsa
De facto, conforme noticiou o The Blind Spot a 27 de maio, não se tratava sequer de um “estudo”, mas sim de uma mera ‘análise pontual’, como assumiu um dos responsáveis pelo projeto. O gestor do Projeto + Longevidade frisou que tal poupança nunca poderia ser assumida “porque desde logo dar resposta à carga que se verifica destas doenças implicaria o óbvio investimento nas próprias vacinas, ao que se somam outros fatores (como por exemplo as taxas de eficácia das vacinas, a adesão ao ato vacinal, entre outros) que naturalmente fazem desta uma dedução inviável.”
E o “estudo”, aliás, continua sem ver a luz do dia até hoje, mesmo depois de já se terem passado quatro meses desde que foi noticiado por todos os principais títulos da imprensa nacional.
Processo-crime
De recordar que o The Blind Spot está a ultimar uma queixa-crime contra os órgãos de comunicação social (a SIC, o Diário de Notícias, a Sábado, a TSF, o Expresso e a RTP) que veicularam as informações falsas sobre o relatório. Entre várias outras possíveis infrações legais, de acordo com o Estatuto do Jornalista, artigo 14º nº 2 alínea b), aprovado pela Lei nº 1/99 de 01/01 atualizada através da Lei nº 64/2007 de 06/01, “compete aos jornalistas proceder à retificação das incorreções ou imprecisões que lhes sejam imputáveis” – algo que nenhuma das publicações em causa fez.
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