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Canadá: denunciantes revelam incentivos da indústria de ensaios clínicos para ocultarem reações adversas

O jornal canadiano Toronto Star falou com pessoas que ganham a vida participando em ensaios clínicos de empresas privadas – “ratos de laboratório” profissionais – e aquilo que expôs é perturbador. O Canadá é o país do G7 que realiza mais ensaios clínicos per capita, mas devido à pouca fiscalização, muitos podem ter os seus resultados ‘inquinados’, uma vez que os participantes só recebem o pagamento integral se completarem os ensaios; algo que só conseguem se não relatarem efeitos secundários graves que os levem a interrompê-los. Para não terem de abdicar de mais de 15 mil dólares canadianos (cerca de 10 mil euros), há quem menorize as reações adversas que experiencia ou não as reporta de todo (até as mais graves). 

Uma reportagem do jornal canadiano Toronto Star – um dos maiores do país – expõe o lado sombrio da indústria de ensaios clínicos do Canadá, que alegadamente incentiva os participantes a mentir sobre eventuais reações adversas dos fármacos, menorizando-as ou não as reportando sequer às empresas privadas que conduzem os estudos.  

Com base no testemunho de Franco (nome fictício), são reveladas várias práticas pouco éticas, em que o dinheiro funciona como uma ‘recompensa’ para quem complete os estudos sem dar conta de efeitos secundários significativos – mesmo que os tenha tido, e que sejam graves. Aliciados por elevadas quantias que só receberão se chegarem ao fim, os participantes são motivados, indiretamente, a mentir para não terem de abdicar do pagamento, que pode ser de vários milhares de dólares. 

E não é apenas sobre os efeitos adversos dos medicamentos que os participantes mentem, permitindo que, depois, estes possam ser aprovados com base em ensaios clínicos ‘inquinados’. Com frequência, prestam também informações falsas sobre o seu estado de saúde físico e psicológico de modo a serem aceites nos estudos. Segundo a peça, alguns também ajudam outros colegas, ‘emprestando-lhes’ amostras da sua própria urina para que outros, que precisam de esconder condições de saúde, possam participar. 

Parecem estar dispostos a (quase) tudo, até a prejudicar a própria saúde, porque os ensaios clínicos são o seu ganha-pão. E muitos veem nestes estudos científicos uma forma de ganhar mais, e em menos tempo, do que com outros trabalhos ‘banais’. 

Governo canadiano não inspeciona os ensaios 

Tudo isto é feito sem uma fiscalização adequada da Health Canada, a agência de saúde canadiana. Esta entidade autoriza mais de mil estudos por ano, mas segundo o Toronto Star, apenas inspeciona uma pequena parte. De salientar que o Canadá é o país do G7 que realiza mais ensaios clínicos per capita, de acordo com dados do governo canadiano. É, também, onde 4% dos estudos clínicos feitos no mundo são realizados. Contudo, devido à falta de monitorização, todo o processo fica nas mãos das empresas privadas, que têm margem para definir os seus próprios critérios – o que pode acarretar um maior risco de potenciais danos aos participantes e aos futuros compradores dos medicamentos.  

Além disso, os pagamentos são efetuados através de um cartão de débito que não requer a abertura prévia de uma conta bancária. Deste modo, imigrantes irregulares ou pessoas com problemas com a Justiça são presas fáceis para os estudos clínicos destas empresas. Com efeito, muitos dos participantes são pessoas vulneráveis ou carenciadas, para quem estes ‘trabalhos’ podem ser uma boia de salvação.  

Fonte: 

Inside Canada’s ‘exploitative’ clinical trial industry, where study participants say they’re incentivized to lie – even about medications’ side effects 

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