O escândalo dos ‘gangs’ de violadores de origem maioritariamente paquistanesa, que vitimaram dezenas de milhares de e crianças e raparigas britânicas nos últimos 25 anos, tem causado uma onda de indignação, que explodiu após Elon Musk ter abordado o tema na rede social X. Na semana passada, a líder do Partido Conservador, Kemi Badenoch, defendeu a realização de uma investigação nacional, mas, previsivelmente, esta quarta-feira o Partido Trabalhista chumbou a proposta. Apesar da dimensão do escândalo, uma vez que Musk pediu a demissão e a detenção do primeiro-ministro britânico, vários jornais mainstream em Portugal têm posto o foco sobretudo no multimilionário, acusando-o de se ‘intrometer’ na política do país e de atacar ‘violentamente’ Keir Starmer e o Governo.
Como já se antecipava, o Partido Trabalhista, que detém a maioria no Parlamento do Reino Unido, chumbou esta quarta-feira a realização de uma investigação ao caso dos ‘gangs violadores’. Embora já tenham começado no final da década de 1990, as violações em massa de dezenas (potencialmente, centenas) de milhares de crianças e adolescentes britânicas por grupos de homens de origem maioritariamente paquistanesa, no Norte de Inglaterra, tem abanado o país na última semana, com acusações de encobrimento e inacção feitas às autoridades inglesas, e também ao actual primeiro-ministro, Keir Starmer.
Nos últimos dias, têm vindo à tona descrições horrendas das violações, com vítimas a relatarem práticas de escravidão sexual, prostituição forçada e sadismo. Muitas destas crianças e jovens eram vulneráveis e viviam em orfanatos e casas de acolhimento, e terão sido aliciadas de diversas formas, e depois, abusadas sexualmente – inúmeras vezes e, em alguns casos, por dezenas ou centenas de homens.
Depois de Elon Musk ter abordado o tema na rede social X na semana passada, e de ter inclusivamente apelado à destituição e prisão de Starmer, o escândalo está a causar indignação entre os britânicos, com muitos a considerar que não foi feita justiça às vítimas, e que se protegeu mais os agressores.
De facto, apesar de recentemente terem sido efectuadas algumas centenas de detenções, há evidências de que muitas denúncias não foram levadas a sério. Conforme noticiou ontem a BBC, quando em 2006 uma vítima, que tinha apenas 12 anos, reportou o crime às autoridades, foi-lhe dito para voltar “quando não estivesse embriagada”.
Uma das razões que têm sido apontadas para esta passividade da polícia britânica é o receio de acusações de racismo, devido à origem paquistanesa de grande parte dos perpetradores. No jornal britânico UnHerd, um antigo polícia e ex-detective do departamento anti-corrupção da Polícia Metropolitana de Londres denuncia uma “politização do policiamento e o seu papel no apoio à política de multiculturalismo imposta pelo Estado”. E afirma que o racismo, “para os serviços policiais de Chester a Penzance, continua a ser o pecado original. Do Relatório Scarman ao Inquérito Macpherson, a polícia tem servido há muito tempo como devoradora de pecados da Grã-Bretanha, devorando problemas sociais em nosso nome”.
‘Tabu’ na comunicação social portuguesa?
Se é verdade que o escândalo tem feito correr muita tinta no Reino Unido, com jornais como o Telegraph a ‘esmiuçar’ a dimensão do caso e a extensão do encobrimento, em Portugal os media mainstream, como o Expresso e o Público, têm-se focado sobretudo naquilo que dizem ser uma ‘interferência’ de Elon Musk na política britânica.
O Expresso e a SIC noticiaram até que o primeiro-ministro Keir Starmer estaria a ser uma “vítima” do empresário norte-americano.
Também no comentariado nacional, as críticas parecem recair sobretudo em Elon Musk, com um comentador na CNN a considerar que o multimilionário tem um “fetiche com a pedofilia”.
Reacção do primeiro-ministro
Em resposta às acusações de inacção e encobrimento dos casos enquanto procurador-geral do Ministério Público entre 2008 e 2013, e à enxurrada de críticas de que foi alvo, Keir Starmer retorquiu que aqueles que estão a “espalhar mentiras e desinformação”, não estão verdadeiramente interessado nas vítimas.
Ainda assim, talvez sentido o descontentamento da população, o líder do Partido Trabalhista parece querer mostrar ‘pulso firme’ em relação aos imigrantes ilegais. Esta quinta-feira de manhã, na sua página do X, afirmou: “Não haverá mais truques conservadores nem retórica vazia. A minha mensagem para os criminosos que ainda acham que podem violar as nossas fronteiras é esta: não têm onde se esconder. Nós vamos atrás de vocês”.
No entanto, a generalidade das repostas à publicação tem um tom severo e crítico do primeiro-ministro, com vários utilizadores a ironizar e a destacar o facto de os imigrantes terem sido recebidos de braços abertos no país, com quartos de hotéis e outras ‘mordomias’. Houve até quem afirmasse que Starmer é agora o “homem mais odiado” do Reino Unido.
Fontes:
The Biggest Peacetime Crime—and Cover-up—in British History
How the grooming gangs scandal was covered up
Primeiro-ministro britânico acusa Musk de “espalhar mentiras” – SIC Notícias
UK lawmakers vote against inquiry into ‘rape gang scandal’ as Musk keeps up pressure | Fox News