Os profissionais de saúde figuram entre os grupos a quem a Direcção-geral de Saúde (DGS) recomenda a vacina contra a covid-19, mas desde que a campanha sazonal arrancou, em Setembro passado, até ao final de 2024, apenas 24% se tinha vacinado. E, apesar de a época gripal ainda não ter terminado, nesta altura do ano esse número já não deverá aumentar muito. De acordo com os dados da DGS, em relação ao mesmo período de 2023, registou-se uma queda de 25% na adesão vacinal entre estes profissionais. Esta tendência está em linha com uma menor adesão da população portuguesa a estas inoculações, bem como ao que parece estar a acontecer noutros países, quer nos números gerais, quer entre os profissionais de saúde. Há alguns meses, um estudo realizado na Irlanda revelou que 44% dos profissionais de saúde não acredita que as vacinas confiram imunidade, e 33% receia que sejam mesmo prejudiciais à saúde.
A adesão às vacinas contra a covid-19 tem vindo a cair entre a população portuguesa, e os profissionais de saúde não são excepção. Desde que se iniciou a campanha sazonal, a 20 de Setembro de 2024, até ao final de Dezembro passado, apenas 38.651 vacinas tinham sido administradas àquele grupo – o que representa apenas 24% número de profissionais de saúde estimados em Portugal, que há dois anos era de cerca de 160 mil e 500, de acordo com os dados da PORDATA.
Note-se que uma vez que este sector tem registado um aumento consistente de profissionais ao longo dos anos, é possível que hoje o número seja um pouco superior.
Assim, em relação ao mesmo período de 2023, verifica-se uma queda de 25% na adesão vacinal dos profissionais de saúde, já que naquela altura, tinham sido administradas 51.452 vacinas, segundo o relatório sazonal da Direcção-geral da Saúde (DGS).
De salientar que embora esta época gripal ainda não tenha terminado, por norma a esmagadora maioria dos profissionais de saúde vacina-se até Dezembro. De facto, olhando para os números referentes ao período de 29 de Setembro de 2023 a 28 de Abril 2024 (época gripal), apenas se registaram 2.321 inoculações a partir de Janeiro. No total, nessa época, foram vacinados 52.101 profissionais de saúde em Portugal; perfazendo apenas um terço (32%).
Esta tendência não é surpreendente, no contexto de uma menor adesão vacinal por parte da generalidade da população portuguesa. Aliás, segundo noticiou esta segunda-feira o Observador, verificou-se uma redução de quase 20% nas inoculações administradas em todas as faixas etárias.
O The Blind Spot questionou a DGS sobre o número de profissionais de saúde inoculados nas épocas vacinais anteriores, mas não obteve qualquer resposta. No site oficial daquela autoridade de saúde, nos relatórios que discriminam as vacinas administradas a este sector, apenas se encontram dados a partir de Outubro de 2023.
De acordo com dados da PORDATA, em 2022 contabilizavam-se, por cada 100 mil habitantes: 578 médicos, 783 enfermeiros, 157 farmacêuticos e 113 dentistas – o que resulta em 1.529 profissionais de saúde por cada 100 mil portugueses. Tendo em conta que a população portuguesa ronda os 10,5 milhões, significa que, há três anos, havia cerca de 160,500 mil profissionais de saúde em Portugal.
Profissionais de saúde na Irlanda preocupados com efeitos secundários das vacinas covid
Longe de ser um fenómeno exclusivo de Portugal, esta crescente relutância dos profissionais de saúde em relação às inoculações covid também se tem verificado nos Estados Unidos – onde 85% rejeitou a vacina, como o The Blind Spot noticiou em Novembro passado – e noutros países europeus, com destaque para a Irlanda.
No ano passado, algumas notícias nos media irlandeses davam conta que, de acordo com um estudo, dois em cada cinco profissionais de saúde tinham receio de eventuais efeitos secundários graves, e 44% não acreditava que as vacinas conferissem protecção contra o SARS-CoV-2. Mais: um terço dos 595 profissionais inquiridos estava convencido que as inoculações seriam prejudiciais à sua saúde. E de facto, em Março de 2024, a taxa de adesão à vacinação rondava apenas os 16%.
Este receio das reacções adversas não se verificou, no entanto, em relação às vacinas contra a gripe. Apenas 17% dos inquiridos se confessou preocupado quanto a estas inoculações, e, em contraste com a covid, 71% acreditava que conferiam protecção contra a influenza.
Fontes
Vacinação gripe e COVID-19 – DGS
Ongoing ‘low’ vaccine uptake by healthcare workers – Medical Independent
Ver também
EUA: 85% dos profissionais de saúde rejeitaram a vacina contra a covid-19 – The Blind Spot