Depois de ter anunciado o fim da parceria com ‘fact-checkers’ nas redes sociais da META, Mark Zuckerberg voltou a acusá-los de terem um “viés ideológico”, comparando mesmo o sistema de verificação de factos com o distópico livro de George Orwell, “1984”. No podcast de Joe Rogan, Zuckerberg também denunciou uma ‘enorme pressão’ da Administração Biden para censurar conteúdos humorísticos e verdadeiros, relacionados sobretudo com a covid-19 e as vacinas, ao ponto de “praguejarem” e “gritarem” com a sua equipa. Quanto aos média tradicionais, acredita que a confiança das pessoas “caiu a pique” nos últimos 10 anos, muito por causa da cobertura mediática da vitória de Donald Trump e da reacção à crise da covid.
Na semana passada, o anúncio de Mark Zuckerberg, CEO da META, de que a empresa iria suspender o fact-checking no Facebook, Instagram e WhatsApp, e adoptar as “notas da comunidade”, à semelhança da rede social X, para “voltar às raízes da liberdade de expressão”, causou surpresa e um misto de reacções; desde a celebração à desconfiança, com muitas críticas pelo meio. Houve, inclusive, quem acusasse Zuckerberg de se ‘curvar’ perante o presidente eleito Donald Trump.
E poucos dias depois de ter anunciado que a META abandonaria o sistema de verificação de factos, Zuckerberg revelou novos detalhes sobre a decisão em entrevista ao famoso podcaster americano Joe Rogan.
No The Joe Rogan Experience, o fundador do Facebook afirmou que o programa de fact-cheking começou “a minar muito a confiança [das pessoas], especialmente nos Estados Unidos”. No seu entender, aliás, a verificação de factos “nunca foi bem aceite” pelos utilizadores, que a viram sempre como sendo “demasiado tendenciosa” – algo patente, desde logo, na selecção dos temas-alvo. Mas além de reforçar o “viés ideológico” dos ‘fact-checkers’ (explicando não se tratar de um problema exclusivo dos EUA), equiparou mesmo este sistema com a história distópica de “1984”, escrita por George Orwell.
Para contextualizar esta inesperada mudança, Zuckerberg explicou que, apesar de inicialmente ter condescendido com algumas restrições à liberdade de expressão em casos particulares e ‘extremos’– como no início da crise covid, que qualifica como “legítima” –, mais tarde viu-se confrontado com pedidos da Administração de Biden para censurar declarações verdadeiras e conteúdos humorísticos e satíricos acerca da covid-19. A título de exemplo, recordou o pedido para retirar um meme com o actor Leonardo Dicaprio.
Contudo, o momento mais crítico, diz o director-executivo da META, deu-se na altura em que as vacinas começaram a ser disponibilizadas. “Eles pressionaram-nos imenso para mandar abaixo coisas que, honestamente, eram verdade”, admitiu, acrescentando que a gigante tecnológica recebeu instruções para eliminar “qualquer coisa que afirmasse que as vacinas poderiam ter efeitos secundários”. E, talvez mais surpreendente ainda, foi a revelação sobre membros da Administração de Biden que “praguejaram” e “gritaram” com a sua equipa para tentar que removesse estes conteúdos das plataformas.
Segundo Zuckerberg, as autoridades governamentais terão ficado tão descontentes com esta recusa em censurar conteúdos humorísticos e ‘verdadeiros’, que Joe Biden afirmou depois numa conferência de imprensa que a gigante tecnológica estava a “matar pessoas”, e várias agências começaram a investigar, e a “ir atrás”, da sua empresa. “Foi brutal”, disse.
Em retrospectiva, o CEO da META acredita que, nos últimos 10 anos, a cobertura mediática da eleição de Trump em 2016 e a resposta governamental da crise da covid fizeram com que a confiança nos media “caísse a pique”, abalroando também a confiança nos governos e instituições democráticas. Um fenómeno que considera ser “global”, reflectindo-se em eleições recentes em vários países, que culminaram com mudanças de líderes. “A reacção à covid causou provavelmente uma quebra da confiança em muitos governos no mundo”, afirmou.
Fontes: