Na última década, pelo menos 221 milhões de euros de fundos europeus foram utilizados para financiar ONG que promovem a ideologia da identidade de género, segundo um novo relatório. O director do centro que publicou a análise considera que está em causa uma “corrupção dos processos políticos”, uma vez que, graças ao financiamento da União Europeia, grupos activistas LGBT conseguem depois exercer pressão em Bruxelas para que se aprovem leis e directivas comunitárias – muitas vezes, à revelia da vontade da maioria dos cidadãos europeus. Entre os resultados deste lobbying estão o ensino da ideologia de género nas escolas, a introdução de “currículos LGBTQI” ou a possibilidade de mudança de género em crianças e jovens sem autorização parental.
De forma indirecta, os contribuintes europeus já financiaram a “agenda radical” da identidade de género com pelo menos 221 milhões de euros só nos últimos 10 anos. O centro de investigação MCC Brussels, que coordena diversas iniciativas no âmbito das políticas comunitárias, divulgou na semana passada um relatório que mostra como a União Europeia (UE) concede fundos a algumas ONG pró-LGBT que promovem a ideologia de género.
Mais: com o financiamento europeu a garantir a sua existência, estes grupos activistas exercem depois influência junto dos burocratas em Bruxelas para que sejam aprovadas leis e directivas que escapam ao escrutínio dos cidadãos europeus. De facto, como salienta o relatório, através deste apoio indirecto ao lobby LGBT a UE está a promover “políticas controversas que minam os direitos das mulheres, a protecção das crianças e a soberania nacional — tudo sem um debate democrático significativo”.
Intitulado “Missão Creeps: Como o financiamento da UE e ONG activistas capturaram a agenda de género”, o trabalho tem como autora a socióloga Ashley Frawley, e constitui “a primeira investigação abrangente sobre como uma pequena, mas poderosa rede de ONG moldou a política de género da UE debaixo do radar do escrutínio público”.
Do ‘bolo’ de 221 milhões de euros, uma grande parte – 64,95 milhões – foi para a ILGA, considerada a maior associação a fazer activismo na área da identidade de género. Já para o seu ‘braço’ europeu, a ILGA Europe, foram 16 milhões.
Outra grande fatia, no valor de 40,5 milhões, teve como destino alguns dos grupos activistas transgéneros mais radicais, e 26 milhões serviram para financiar investigação para promover a ideologia de género.
Deste modo, o relatório sublinha que estes grupos têm tido um “papel directo” na elaboração das políticas de género dentro dos Estados-membro. E alerta que esta influência tem sido exercida de uma forma pouco transparente, afirmando que a ILGA terá apelado aos representantes europeus para que mantivessem as suas actividades “longe dos olhares do público sempre que necessário”.
Para evidenciar a “captura” das instituições europeias em matéria de políticas de género, o documento resume ainda alguns dos contactos que estas ONG já somam com os burocratas em Bruxelas. A ILGA Europe registou 42 reuniões com comissários, 14 consultas públicas, 16 contribuições para definição de estratégias, 10 reuniões no Parlamento Europeu e três grupos de especialistas.
Por seu turno, a Transgender Europe já conta com sete reuniões com comissários europeus e oito consultas públicas.
“A influência destas organizações levanta preocupações sobre a responsabilização democrática, já que as políticas são cada vez mais ditadas por activistas não-eleitos, em vez de debates nacionais abertos”, lê-se no comunicado de imprensa da MCC Brussels.
Consequências do financiamento europeu
No relatório, apontam-se também algumas das consequências deste financiamento até agora. Nomeadamente, a “instrumentalização dos fundos para a investigação”, que estão a ser usados para justificar a alteração de certas políticas, ao invés de financiarem uma investigação científica livre de ‘vieses’ ideológicos. A título de exemplo, são referidos os projectos “Desafiando o género binário”, que terá recebido 2,4 milhões de euros, e o MEN4DEM, “um estudo de três milhões de euros que trata a masculinidade tradicional como uma ameaça à democracia”.
Mas, além destes, já se veem muitos outros efeitos, que têm sido cada vez mais alvo de contestação. É o caso da pressão para que crianças e jovens possam mudar de género sem autorização parental, obrigando os pais a consentirem sob pena de repercussões legais. Estas directrizes, que têm vindo a ser impostas em vários países europeus, somam-se ao ensino da ideologia de género nas escolas e à introdução de “currículos LGBTQI”, sem que se tenha em conta as preocupações dos pais.
Portugal, aliás, surge no relatório devido a uma decisão do Governo de António Costa, segundo a qual “as escolas podem facilitar a transição social [de género] das crianças sem o conhecimento dos pais, e a oposição dos pais pode levar à intervenção do Estado”.
Centro de investigação pede “transparência” à UE
Com estas práticas, o director-executivo da MCC Brussels, Frank Furedi, considera que está em causa uma “corrupção dos processos políticos”. “Há um processo bidireccional em que a sociedade civil é sistematicamente comprada para dar legitimidade à UE, enquanto a UE se torna cada vez mais radicalizada por ideólogos que afirmam representar a sociedade civil. Este é um processo político cada vez mais secretivo, em que o poder se torna invisível para as pessoas comuns”, afirmou.
Nesse sentido, o relatório pede mais transparência à União Europeia, exige mais “responsabilidade democrática”, e insta a UE “a garantir que as decisões políticas sejam submetidas ao debate público em vez de lobbying activista”.
“É necessário um maior escrutínio da alocação de financiamento da UE para evitar a captura ideológica. Salvaguardas devem ser implementadas para respeitar a soberania nacional, os direitos dos pais e a segurança de mulheres e crianças”, conclui.
Fontes
Why is the EU funding the gender lobby? – UnHerd
Ver também
Mega-estudo desaconselha terapia hormonal em jovens com distúrbios de género – The Blind Spot
Governo britânico proíbe escolas de ensinar a teoria de “identidade de género” – The Blind Spot