A histeria colectiva que se instalou com a série da Netflix Adolescência evidenciou a agenda insidiosa, mas inegável, e em curso há muito tempo, contra a masculinidade. Para a imprensa tradicional, que não esconde a sua militância feminista e ‘woke’, a série caiu como um presente dos céus: eis uma nova oportunidade para denegrir o sexo masculino, repreender os homens viris, esses criminosos, e, de caminho – como não podia deixar de ser –, dar a enésima missa sobre os perigos da “extrema-direita”.
Por todos os jornais, multiplicaram-se os artigos sobre os “incels”, rapazes celibatários involuntários que odeiam as mulheres e as culpam pela sua infelicidade. Isto porque o adolescente de 13 anos que, na série, mata uma colega à facada, é um suposto “incel”, que segue os conteúdos de figuras como Andrew Tate, hoje um dos mais conhecidos influenciadores da “masculinidade tóxica” nas redes sociais.
Surfando a onda de Adolescência, jornalistas, articulistas e comentadores desfizeram-se em alertas sobre o “machismo” crescente entre os jovens, a “violência de género” e os males dos “papéis” ou “estereótipos” de género.
Os propalados “estereótipos de género”, aliás, fazem parte da novilíngua da ideologia de género, que visa inculcar nas nossas mentes a falsa premissa de que os comportamentos tipicamente associados aos sexos são meras “construções sociais”; quando, na verdade, são características inatas explicadas pela biologia humana.
O Expresso, por exemplo, publicou uma peça com o título “Masculinidade tóxica, discursos misóginos e redes sociais: ‘Temos falhado com os rapazes’”. Os “psicólogos e investigadores” consultados pelo jornal apelavam à acção dos pais para combater a misoginia e a toxicidade masculina que ‘diagnosticaram’ aos jovens.
Mas, entre as dezenas de peças delirantes publicadas nos últimos dias, o Diário de Notícias (DN) destacou-se pela forma virulenta com que exibiu um ressentimento entranhado contra os homens. Para abordar a temática, a jornalista Alexandra Tavares-Teles entrevistou dois ‘ilustres’ profissionais do ramo da Psicologia e da Sexologia: a conhecida psicóloga Gabriela Moita e o também reputado psiquiatra Júlio Vaz Machado.
Ambos têm sido grandes aliados da causa LGBT; algo reconhecido até pela ILGA Portugal, que lhes concedeu o Prémio Arco-Íris. A ILGA, recorde-se, é uma “associação de defesa dos direitos de lésbicas, gays, bissexuais e transgénero”, que promove a ideologia de género desde a infância e as chamadas ‘transições’ na adolescência.
O título da reportagem do DN foi puxado de uma declaração de Gabriela Moita: “A masculinidade mata os homens”.
O lead, da autoria da jornalista, era igualmente contundente: “De um lado, fracos, feios, desistentes, solitários, sem esperança. Do outro, machos energéticos, viris. Todos violentos e misóginos. Todos carrascos e vítimas, gerados por uma construção social”.
Para compreendermos o carácter ofensivo e raivoso deste discurso sobre os homens – que, de resto, é totalmente aceite na sociedade –, é útil o exercício de aplicarmos as mesmas palavras às mulheres:
“A feminilidade mata as mulheres”. Faria sentido a alguém?
“De um lado, fracas, feias, desistentes, solitárias, sem esperança. Do outro, fêmeas energéticas, atiçadas. Todas violentas e misândricas. Todas vítimas, geradas por uma construção social”.
Será que um lead jornalístico destes, para caracterizar raparigas, gozaria da mesma aceitação? Jamais.
Gabriela Moita, para quem a masculinidade é “letal”, já foi apresentada num outro artigo do Expresso como uma profissional que “há mais de 30 anos que se dedica a refletir e a investigar sobre a forma como amamos e nos relacionamos com os outros e sobre as questões de género – em particular da comunidade LGBTQIA+”.
Numa outra entrevista, afirmou que, na sexualidade humana, “a diversidade é a regra”. De acordo com a psicóloga, que obviamente nega os mais básicos pressupostos da biologia, “o feminismo e masculino são comportamentos”, e existe na sociedade uma “ditadura do sexo”.
É muito elucidativo que o DN tenha entrevistado duas figuras que menosprezam a relevância do sexo biológico, num artigo em que os homens, e a masculinidade, são claros alvos a abater. Só para fins obscuros é que faz sentido publicar como verdades absolutas as opiniões de adeptos de uma ideologia tão subversiva como é a do género.
Como se isto não bastasse, foi escasso o recurso a números, factos e dados estatísticos. Do ponto de vista jornalístico, é impressionante, quando tentam convencer-nos de que há um fenómeno enraizado, e com efeitos amplos e violentos, associados à “manosfera”.
Na verdade, são invocados apenas dois casos de massacres supostamente cometidos por “incels” nos Estados Unidos. Escusado será dizer que, num país onde os tiroteios ocorrem, infelizmente, numa base diária, e com variadíssimos “pretextos”, perpetrados por homicidas com diferentes perfis psicológicos, dois tiroteios (e só nos EUA) não têm qualquer relevância estatística. Muito menos poderão servir de prova – pelo menos, para qualquer pessoa honesta e inteligente – da existência de um problema sistémico.
Mas, claro, a objectividade e a análise fria dos factos são dispensáveis quando o intuito é transmitir, a todo o custo, uma mensagem – com base, saliente-se, apenas numa série ficcional, que não é, de modo nenhum, representativa da realidade. Porquanto, a ligação entre o “incelismo” e o aumento da criminalidade juvenil é desprovida de fundamento e só existe mesmo na Netflix ou em cabeças preguiçosas.
De facto, esta torrente de artigos sobre Adolescência tem uma intenção: emascular os homens. Espezinhar a masculinidade, como se fosse uma enfermidade; conforme ficou cristalino com as palavras de Gabriela Moita. Dividi-la, como alguns por vezes fazem, entre “tóxica” e “não-tóxica”, é apenas um truque retórico.
A meta final é uma sociedade de homens fracos e incapazes, e de famílias destruídas, através da punição de todos os sinais e comportamentos masculinos; os quais são, mais do que saudáveis, desejáveis e necessários.
Para o avanço desta agenda, em que as feministas que proliferam nas redacções são apenas “idiotas úteis” movidas a ressentimento, Adolescência foi instrumental. Numa altura em que, de facto, há sinais de um movimento salutar de homens sem receio de assumir a sua masculinidade, uma obra como esta é muitíssimo conveniente para alimentar a rejeição e a desconfiança de tudo o que é masculino.