O jornal Expresso publicou um artigo fechado que aborda a recente revisão da Cochrane sobre máscaras. Logo na frase inicial produz uma afirmação falsa ao dizer que é a primeira meta-análise do género. A título de exemplo, uma das mais fiáveis (com 10 RCTs) foi publicada em 2020 pelo CDC e serviu de guia para a OMS. Também na altura não encontrou evidência de eficácia. Durante a pandemia, o mesmo jornal publicitou uma marca portuguesa de máscaras que alegava inativar o vírus.
O artigo para assinantes do jornal Expresso que aborda a última revisão sistemática da Cochrane começa por afirmar, na introdução aberta para todos os leitores, que a sua meta-análise é a primeira do género.
“É a primeira meta-análise publicada sobre a eficácia de medidas físicas para travar ou reduzir a propagação de vírus respiratórios (…).”
Tal afirmação é falsa.
Mesmo restringindo a busca a máscaras faciais, existem inúmeras meta-análises (técnica estatística para agregar estudos). Isso pode ser rapidamente comprovado com uma pesquisa rápida no PubMed.
Revisão sistemática com meta-análise citada por CDC e OMS
A grande maioria das revisões sistemáticas incluem estudos de baixa ou muito baixa evidência, pelo que as suas conclusões têm muito baixa fiabilidade.
Apenas revisões sistemáticas com RCTs (estudos randomizados e controlados), como os que constam na revisão da Cochrane, estão no topo da evidência científica. Por esse motivo, quer o CDC quer a OMS, utilizaram uma revisão sistemática (com meta-análise) que apenas inclui RCTs como referência em relação ao uso comunitário de máscaras.
Já durante a pandemia (maio de 2020), o CDC publicou esse estudo (10 RCTs e mais de 6,500 participantes).
Tal como na recente revisão da Cochrane (cuja meta-análise sugeriu não terem qualquer efeito significativo), não encontraram evidências de eficácia.
“Realizámos meta-análise para intervenções de higiene das mãos e máscara facial e estimámos o efeito dessas medidas na prevenção da gripe confirmada laboratorialmente por razões de risco (RRs).”
“Não encontrámos evidências de que as máscaras faciais cirúrgicas sejam eficazes na redução da transmissão da gripe confirmada laboratorialmente, seja quando usadas por pessoas infetadas (controlo da fonte) ou por pessoas da comunidade em geral para reduzir sua suscetibilidade.”
Também a OMS tinha essa revisão como referência de suporte à sua conclusão sobre o tema no seu documento orientador relativo a medidas para mitigar pandemias e epidemias.
Publicidade encapotada a máscaras no Expresso
Tal como outros órgãos de comunicação social, em vez de questionarem as posições das autoridades de saúde sobre as evidências para recomendarem ou, no caso do governo, mandatarem o uso de máscara na comunidade, seguiram-nas como verdades inquestionáveis e fizeram mesmo campanha para a sua utilização.
Além disso, apesar de terem sido financiados diretamente a propósito da pandemia, tendo uma das justificações sido a “luta contra a desinformação”, contribuíram regularmente para essa “desinformação” e propagaram notícias falsas.
O jornal Expresso, como outros órgãos de comunicação social, promoveu mesmo uma marca de máscaras. Nas suas páginas, os promotores do produto fizeram a alegação (no mínimo) enganosa de que ele desativaria o vírus SARS-CoV-2 (redução de 99%).
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