Quem não sabe história está condenada a repeti-la. Eu poderia hoje começar com Henri Bergson, aquele filósofo que diz assim “Felizmente, alguns nascem com sistemas imunitários espirituais que, tarde ou cedo, recusam a visão ilusória do mundo, inserida sobre eles desde o nascimento e através do condicionamento social. Começam a sentir que algo está mal e começam a procurar respostas. O conhecimento interno, e as experiências exteriores anómalas, mostram-lhe um lado da realidade que outros ignoram e, assim começa o seu caminho até ao despertar. Cada passo do trajeto vai sendo guiado pelo coração, em vez de seguir a multidão, e escolhendo o conhecimento em lugar dos véus da ignorância.».
Como chegámos aqui, hoje, assistindo do sofá de sua casa e comigo ao seu lado, à destruição do mundo tal como o conhecemos? Onde está o botão para o «Great Reject»?
Os alertas foram muitos, nem sempre evidentes, é certo. Mas, para quem quisesse ler, eles estavam todos lá. Lá onde? Pode estar a perguntar. Olhe, na dívida soberana, no somatório das dívidas soberanas e no Clube de Roma!
Como é costume, a distração paga-se caro. E estamos a pagar bem caro o espetáculo em curso sobre a transformação da sociedade atual e, no que nos diz respeito, ao processo de desindustrialização da Europa. Por isso, hoje começaria por dizer que começámos um certo espetáculo com o Clube de Roma, ou seja, iniciámos uma nova narrativa do malfadado crescimento populacional ilimitado que o transformou, caro leitor, numa praga responsável pela destruição do Planeta Terra. Esta foi a melhor construção formal de uma certa pós-verdade de todos os tempos. Mas, como teremos ocasião de ver nos próximos artigos, começámos e terminamos em Roma, de novo. Como assim?
Mítica explosão: do Clube de Roma ao Clube de Roma
Se a explosão demográfica é um mito, porque o badalado crescimento populacional vai no sentido inverso, onde ficamos? Pois, parece que o mito do crescimento ilimitado populacional ficou no papel e não passou à realidade, pese embora ser ainda o fator inspirador de políticas públicas que parecem colocar em causa a sobrevivência da espécie humana.
É o que acaba de nos dizer Paul Ehlich, entomólogo da universidade de Stanford quando escreveu A explosão demográfica. A Bomba P, conforme noticia o jornal britânico The Guardian em março deste ano. Segundo aquele investigador, o número de seres humanos, ao contrário do que se pensou desde a publicação do relatório financiado pelo Clube de Roma há algumas décadas – Os Limites do Crescimento -, vai diminuir. Como? É que, conforme novo relatório de autoria coletiva, Earth4All, e também financiado pelo Clube de Roma, as predições, afinal de contas, afirmam que «de acordo com as tendências atuais, a população mundial alcançará um máximo de 8,8 biliões antes dos meados do século, para logo declinar rapidamente.».
Façamos um parêntesis para relembrar que o Clube de Roma foi fundado em 1968 por um conjunto de elites preocupadas com o desenvolvimento sustentável e o meio ambiente. Contrataram o MIT para analisar os problemas fundamentais que podiam comprometer o desenvolvimento da humanidade tais como saúde, saneamento, poluição e energia, tecnologia e crescimento populacional. Daqui saiu a publicação de um relatório conhecido como o Relatório do Clube de Roma. E daqui saiu também a conclusão segundo a qual a Terra não comportaria o crescimento populacional se a pressão sobre os recursos naturais e energéticos não fosse alterada.
Depois de Ehlich, então não é que as previsões da Deagel apontam no mesmo sentido, com uma substantiva redução populacional até pelo menos 2025? Como? Ora bem. Olhe, por exemplo, a pandemia terá tido o seu contributo e outras poderão surgir num horizonte não muito longínquo, se acreditarmos no oráculo Gates ou nas previsões de Thedros, da OMS.
Atente bem porque, como é sabido, a desinformação é uma excelente arma de domínio público. E o pressuposto do crescimento populacional – que afinal parece estar comprometido -, é, na verdade, a pedra angular de todo um edifício conceptual que conduziu, algumas elites, a imaginar um botão para o «Great Reset» da humanidade, por forma a garantir a sustentabilidade do planeta Terra. Mas afinal, é ou não é? Se calhar já está a pensar «Tirem-me daqui!» ou «Está tudo doido!». Hehehe, pois, não está fácil, mas vamo-nos esforçar. Para já vejamos …
Depois do mito sobre a «explosão demográfica», vem a plataforma: «Somos maiores do que muitos países»
Mas veja só a habilidade da melhor parceria público-privada «de todos os tempos», como é a plataforma do Fórum Económico Mundial de Davos! É tão mágica que até o convenceu quanto à sua responsabilidade na devastação do planeta e na necessidade de comer insetos! Por acaso sabia que também é um vírus altamente perturbador do ecossistema Terra? Isso mesmo porque, nas palavras do seu líder, Karl Schwaub, Davos teria dado ao Clube de Roma a sua plataforma natural – um consórcio «natural e salutar» de empresas e de governos para a evitar a extinção do planeta. Quem diz Davos, diz também a ONU e a Trilateral, como é sabido.
O Grande Reset, apresentado ao mundo em plena época pandémica pelo mentor de Davos não é de agora. Para os mais distraídos, podemos encontrá-la em gestação uns anos antes. Se, em 2019, tivéssemos estado com atenção, teríamos assistido à participação inequívoca de Beth A. Brooke – Martiniak, (Diretora do Conselho e anterior Vice-Presidente Global de Políticas Públicas, na Ernst & Young) no Business for Social Responsability – BST/19.
Notável participação pela clareza das ideias expostas. E porque a sustentabilidade planetária exige também uma sociedade mais diversificada, aquela diretora chamava a atenção para a necessidade de construção de uma efetiva Parceria Global LGBTIQ+Igualdade, capaz de reunir organizações como a ONU, o FEM/Davos e o mundo empresarial. Ainda nas suas palavras, cerca de 270 empresas faziam já parte daquela parceria, mas o objetivo era aumentar o seu número ainda mais. Porque, e citando uma conversa tida com o Presidente norte-americano Joe Biden, as empresas seriam os atores ideais para realizarem o que o governo não conseguia, em termos de mudar o mundo quanto àquele assunto.
Onde está o botão? O Great Reset ou o Great Reject?
E o botão? Onde está? Parem que eu quero sair do «Grande Reset». Ora bem, quase a terminar esta parte, fica aqui um «cheiro» de uma recente intervenção pública de Michael Rectenwald. Falava-se, em Davos, do sistema capitalista neoliberal. Na verdade, porém, tratava-se de um conceito enganador, tão perverso como uma doninha. Puff! Porque, depois da apresentação do projeto «Great Reset» (a grande reinicialização, em língua portuguesa) no verão de 2020, constatou-se que, afinal, aquele projeto não era senão uma espécie de socialismo ou, mais concretamente, uma espécie de socialismo corporativo. E depois, para citar Rectenwald, «then very strange things began to happen.» .
Quer saber como termina a história e quais os conselhos de um notável do Instituto Von Mises? Continuamos na próxima semana. Desvendaremos como é simples, mas requer coragem e determinação. Aguarde. Eu sei que, como diz um provérbio africano, aquele que fala a verdade não tem amigos. Mas os dois também sabemos que cada um de nós é o seu melhor amigo. Por isso, não deixe o crédito por mãos alheias.
Para já, a esperança é o melhor conselheiro. Afina a análise e a previsão. Por fim, é como se estivéssemos a ouvir Virgílio Ferreira quando escreveu, um dia que, «O que mais importa não é o novo que se vê de novo no que já tínhamos visto.». Quem não sabe história está condenada a repeti-la.