Bolos, pães, massas, produtos alimentares feitos à base de batata, queijos e compotas de frutas e vegetais são alguns dos alimentos que, a partir desta segunda-feira, poderão conter pó de larvas inteiras – tratado com radiação ultravioleta, depois de as larvas fazerem, pelo menos, um dia de jejum para que tenham tempo de “descartar o seu conteúdo intestinal”. A Comissão Europeia autorizou a introdução deste ‘ingrediente’ no mercado europeu, com a justificação da menor pegada ambiental e da redução de emissões de CO2. Alguns eurodeputados tentaram travar a decisão, dizendo ser uma “afronta” aos agricultores e às tradições alimentares dos países europeus.
A partir desta segunda-feira, o pó de larvas inteiras (tenebrio molitor) poderá ser adicionado a inúmeros alimentos – nomeadamente, bolos, pães, massas, produtos alimentares feitos à base de batata, queijos ou produtos à base de queijo, e compotas de frutas e vegetais – dentro da União Europeia.
Depois de uma avaliação positiva da Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA), a Comissão von der Leyen aprovou, no final do mês passado, a introdução no mercado de pó de larvas tratado com radiação ultravioleta.
Antes do tratamento, no entanto, será necessário um período mínimo de 24 horas de jejum para que as larvas possam “descartar o seu conteúdo intestinal”.
O regulamento europeu ressalva que os rótulos dos produtos que contenham este ‘novo alimento’ terão de o identificar devidamente aos consumidores, alertando-os para possíveis reacções alérgicas a crustáceos e ácaros.
Segundo a Comissão von der Leyen, o objectivo desta medida é introduzir outras fontes nutricionais que tenham uma menor pegada ambiental na dieta dos europeus – uma vez que a sua produção liberta menos gases com efeito de estufa e requer menos água.
Assim, nos próximos cinco anos, a companhia francesa Nutri’Earth será a única fornecedora deste pó no mercado europeu, tendo adquirido os direitos exclusivos da sua comercialização; a menos que conceda autorização a outras empresas.
De acordo com o jornal Público, há ainda outros “alimentos” à base de insectos a aguardar aprovação da Agência Europeia para a Segurança Alimentar para introdução no mercado. Nomeadamente, a “farinha de mosca-soldado negra (larvas de Hermetia illucens), o ninho de zangões de abelhas melíferas (Apis mellifera) e pós proteicos das larvas do verme da farinha (Alphitobius diaperinus)”.
Oposição no Parlamento europeu
Esta autorização do pó de larvas foi, no entanto, contestada por alguns eurodeputados. Em particular, Alexander Bernhuber, do Partido Popular Europeu, e Laurence Trochu, dos Conservadores e Reformistas Europeus tentaram impedir a sua aprovação. Contudo, a objecção foi rejeitada pela Comissão do Ambiente, da Saúde Pública e da Segurança Alimentar (ENVI), com 39 votos contra, 32 a favor, e seis abstenções.
Entre as vozes que manifestaram desagrado com a medida, as de alguns políticos italianos foram mais ‘audíveis’.
Gian Marco Centinaio, vice-presidente do Senado em Itália, afirmou, segundo o jornal Il Messaggero, que “a Europa insiste em trazer larvas e outras porcarias para as nossas mesas. A votação de hoje no Comité ENVI do Parlamento Europeu é mais uma afronta contra os agricultores e as tradições alimentares dos nossos países”.
Por seu turno, Silvia Sardone, eurodeputada do grupo Patriotas pela Europa através do partido Liga, de Matteo Salvini, desafiou: “a UE quer insectos na mesa? Eles que os comam”.
Fontes
EU approves sale of UV-treated mealworm powder as novel food – The Jerusalem Post
Implementing regulation – EU – 2025/89 – EN – EUR-Lex
Portugal confirma autorização do uso de pó de larvas em alimentos | Alimentação | PÚBLICO