Lançado há menos de um ano, o Kanou Capital é um fundo que aposta na “transição verde”, mas o seu fundador disse à revista Bloomberg que, por agora, o sector das energias limpas está “morto”. Nishant Gupta considera que, actualmente, não se consegue retorno financeiro com o investimento nas energias renováveis, embora continue a acreditar que a transição energética é o futuro. O índice S&P Global Clean Energy, que mede o desempenho das 30 maiores empresas no sector das energias limpas à escala global, caiu 20% no ano passado.
O fundador de um ‘hedge fund’ sediado em Londres que se dedica à transição energética para as energias ‘limpas’, considera que o sector está “morto” – pelo menos, por agora. Em declarações à revista Bloomberg, Nishant Gupta, fundador e director de investimentos da Kanou Capital, referiu que, actualmente, não se obtém retorno financeiro investindo-se em energias renováveis.
“Todo o sector – solar, eólico, de hidrogénio, células de combustível – qualquer coisa ‘limpa’ está morta por enquanto”, afirmou. As empresas que apostam na queima limpa de hidrogénio, por exemplo, têm enfrentado custos elevados, que baixam as perspectivas de crescimento.
Gupta lançou o fundo há menos de um ano, mas confessa-se pessimista com o panorama actual.
Em 2024, o S&P Global Clean Energy Index, o índice que mede o desempenho das 30 maiores empresas no sector das energias limpas à escala global, caiu 20%. Em contraste, refere a Bloomberg, o índice S&P 500, que abrange as 500 maiores empresas cotadas na Bolsa de Valores dos Estados Unidos, cresceu 16%.
Um ‘percalço’ conjuntural?
Segundo a Bloomberg, este impasse na “transição verde” explica-se com a conjuntura internacional actual. Com os Estados Unidos, a maior economia do mundo, a recuarem em relação às políticas ambientalistas sob presidência de Donald Trump, os problemas que o conflito russo-ucraniano representou para o sector da Energia e a Economia na União Europeia estagnada a braços com um cenário inflaccionista e com taxas de juro ainda elevadas, a indústria das energias ditas ‘verdes’ tem-se ressentido. E tudo isto estará a levar os investidores a recuar.
No entanto, Gupta sublinha que continua a acreditar na necessidade de uma transição para as energias limpas e na viabilidade do projecto verde no futuro. No site do fundo que lidera, aliás, é essa a mensagem veiculada: “Acreditamos que a transição energética em curso é uma tendência irreversível e de longo prazo. O nosso processo de investimento fundamentalmente orientado centra-se na identificação dos vencedores e perdedores desta megatendência”.
Deste modo, o gestor diz estar apenas a reportar-se às “fraquezas” que observa actualmente no sector.
Antes de lançar este hedge fund, Gupta trabalhou na Clean Energy Transition, um fundo do mesmo género que gere cerca de 2,7 mil milhões de dólares em activos. O fundo que lançou gere 100 milhões de dólares, e por enquanto, procura ‘brechas’ no mercado onde as dinâmicas da oferta e da procura farão com que os preços aumentem.
Segundo a Bloomberg, no ano passado o investimento global na transição energética ultrapassou os 2 biliões de dólares, mas o crescimento foi de apenas 10,7% – menos do que nos anos anteriores, em que chegou a ser de 29%. Dentro da indústria, os transportes eléctricos, as energias renováveis e as redes eléctricas são as áreas de maior relevo.
O futuro da transição verde
Apesar de o cenário actual não ser favorável, o gestor acredita que “o investimento na rede vai aumentar” e que “a cadeia de fornecimentos beneficiará disso”, salientando que os investimentos na transição energética deverão subir para os 5 a 6 biliões de dólares já no final desta década.
Gupta identifica ainda algumas das empresas nas quais considera valer a pena investir: a norte-americana Ingersoll Rand e a francesa Legrand S.A. A primeira viu as suas acções valorizarem 80% nos últimos anos, e tem como principais investidores o Capital Group, a Vanguard, e a BlackRock.
Já a companhia francesa, além da BlackRock, tem também como investidores a Sun Life Financial e a Financial Services, de acordo com dados obtidos pela Bloomberg.
Fontes
Clean Energy Sector Is ‘Dead for Now’, Kanou Founder Nishant Gupta Says – Bloomberg