Robert Kennedy Jr. quer combater “epidemia” de autismo e anuncia estudos para apurar causas

Após ter sido conhecido um relatório do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC) que mostra mais um aumento na prevalência de autismo entre as crianças americanas, Robert Kennedy Jr. anunciou novos estudos para se apurar as causas. O secretário de Saúde e dos Serviços Humanos não tem dúvidas de que os factores ambientais estão a originar esta “epidemia”. Entre 2020 e 2022, os casos diagnosticados passaram de uma em cada 36 crianças para uma em cada 31. Kennedy disse que se vai investigar “tudo” o que possa estar por trás do aumento e prometeu “algumas respostas” já para Setembro. 

Os casos de autismo nos Estados Unidos não têm parado de aumentar nos últimos anos, segundo um novo relatório do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC) divulgado na passada terça-feira. Há cinco anos, uma em cada 36 crianças americanas era diagnosticada com a doença; e em 2022, os números já tinham subido para uma em cada 31. Apenas duas décadas antes, em 2002, a prevalência era bastante menor, com um caso a ser diagnosticado em cada 150 crianças. 

Entre os rapazes, a incidência é ainda maior, com uma em cada 20 crianças a sofrer desta doença. 

Para o secretário da Saúde e dos Serviços Humanos, Robert Kennedy Jr., estes dados são “chocantes” e comprovam que o autismo é uma “epidemia” nacional. Na semana passada, numa aparição pública, Kennedy rejeitou a ideia defendida por alguns profissionais de saúde e investigadores de que aumento de casos pode ser explicado por uma maior eficácia no diagnóstico, ou por uma maior abrangência na definição do transtorno, e prometeu apurar as causas do ‘fenómeno’ através de estudos “nunca feitos antes”. 

“Esta negação da epidemia tornou-se num assunto nos grandes média e baseia-se numa falácia da indústria. E, obviamente, há pessoas que não querem que analisemos as exposições ambientais”, afirmou. 

O secretário da Saúde acredita que a prevalência de autismo se poderá dever a factores ambientais – desde o bolor a outras toxinas –, e que a doença pode mesmo ser “prevenida”. Nesse sentido, deu instruções ao Instituto Nacional de Saúde (NIH), liderado por Jay Bhattacharya, para que realize estudos sobre “tudo” aquilo que possa estar na origem do problema. 

“O autismo destrói famílias e, mais importante, destrói o nosso maior recurso, que são as nossas crianças”, e que “não deveriam estar a sofrer assim”, disse Kennedy. 

“Estas são crianças que nunca pagarão impostos, nunca terão um emprego, nunca jogarão beisebol, nunca escreverão um poema, nunca sairão para um encontro. Muitas delas nunca usarão uma casa-de-banho sem ajuda.” 

Embora outros especialistas de Saúde americanos concordem que há, de facto, um aumento significativo de pessoas a sofrer desta condição, muitos inclinam-se para outras explicações que não as ambientais, como os factores genéticos. Vários estudos, aliás, já sugeriram que o risco de autismo é determinado pela genética em cerca de 80%.  

Deste modo, a tese de Robert Kennedy colhe pouco apoio dentro da comunidade de científica, não sendo consensual também para as associações de apoio a doentes autistas. A Autism Speaks, uma organização sem fins-lucrativos, qualificou as afirmações de Kennedy como “prejudiciais” e contestou que o autismo se pudesse prevenir. 

Em todo o caso, o secretário da Saúde, que se mostrou certo de que os factores ambientais estão por trás desta maior prevalência, adiantou que os estudos irão providenciar “algumas respostas” já em Setembro deste ano e comprometeu-se a agir em conformidade com os resultados. “Vamos seguir a Ciência diga o que disser”, garantiu. 

Recorde-se que, nos últimos anos, Kennedy proferiu, em várias ocasiões, declarações polémicas sobre as vacinas e defendeu a teoria que associa a vacinação a uma maior prevalência de autismo. Estas posições valeram-lhe muitas críticas e até o rótulo de “anti-vacinas”.  

Fontes 

RFK Jr. lays out new studies on autism, shuts down ‘better diagnoses’ as a cause – ABC News