Para Rui Fonseca e Castro, ex-juiz e presidente do partido Ergue-te desde o final do ano passado, a imigração em Portugal deveria ser “absolutamente residual”, e cingir-se apenas a algumas profissões de mão-de-obra altamente qualificada. Embora reconheça que as migrações sempre existiram, e que são um “fenómeno natural”, diz não ver nenhuma vantagem numa “amálgama de povos em Portugal”.
Deste modo, considera que “quase todos os imigrantes actualmente em Portugal não deveriam cá estar”, e que “Portugal é a nossa casa, os portugueses são a nossa família alargada, a nossa comunidade”.
Já quanto às deportações, que constam no seu programa, o Ergue-te defende que deveriam começar pelos “ociosos”, e, depois, ser levadas a cabo com base numa “análise da actividade económica” dos imigrantes; consoante a sua adequação às necessidades do país. Por outro lado, sobre a possibilidade da perda da nacionalidade portuguesa, outra linha programática do partido, diz que “antigamente existia em Portugal”. A nacionalidade, refere, “tem sido concedida com base no critério do jus solis [local de nascimento], sobretudo a partir de 2015, em que ocorreram as alterações mais drásticas a esse critério”; algo a que o partido se opõe. No entanto, o presidente do Ergue-te rejeita acusações de xenofobia.
E salienta as diferenças entre as políticas de vários países nesta matéria. Por exemplo, argumenta que o Brasil estabelece como “condição legal” para a autorização de residência “que se demonstre que não se consegue contratar um brasileiro para as mesmas funções e com o mesmo nível de competência”. “Nós aqui não fazemos isso, mas um dos países de origem de uma das maiores comunidades imigrantes, faz isso”, afirma.
Economia e Clima
“Tem de haver uma mudança de paradigma económico. Há décadas que estamos a viver com dinheiro que não é nosso; dinheiro que é emitido por bancos centrais”, diz Rui Fonseca e Castro, para quem a resposta para o crescimento económico de que Portugal precisa está no sector da indústria. Deste modo, critica uma “desindustrialização que nos tornou um país de serviços, com uma Economia completamente ‘financializada’”. Além disso, defende o “envio dos nossos melhores alunos para as melhores universidades do mundo, para começarmos a ter quadros”.
No entanto, para a criação de riqueza, considera fundamental que haja “energia barata” – algo que só será possível se o país “abandonar o programa político da transição energética, voltar aos hidrocarbonetos e apostar também na energia nuclear”.
Com efeito, para o presidente do Ergue-te, a transição energética “visa estrangular a actividade económica dos povos”, resultando “numa transferência de riqueza do povo para o topo”.
Céptico do fenómeno das alterações climáticas antropogénicas, considera, aliás, ainda “por provar” que o Homem tenha alguma influência nos ciclos climáticos da Terra.
Sobre a União Europeia, que impõe as medidas climáticas aos Estados-membros, acredita que está a chegar ao fim e que “estamos em fim de ciclo”.
Natalidade e ideologia de género
Como forma de combater o severo inverno demográfico que Portugal enfrenta, com a conjugação do envelhecimento da população e a emigração dos jovens, o partido defende apoios do Estado às famílias, através de incentivos à natalidade, pelo menos “numa fase de transição”. Diz, também, que a maioria das mulheres optaria por não trabalhar e por se dedicar à família se tivesse condições financeiras para tal.
Ademais, em vez de estrangeiros, o líder do Ergue-te defende que se contratem portugueses para trabalhos pouco qualificados; que deverão, contudo, ser bem pagos, ao contrário do que acontece hoje com os imigrantes – de forma a que os portugueses possam constituir família e ter “a liberdade de ter filhos, com conforto, e uma família grande, se assim entenderem”.
Sobre a ideologia de género, que já tem motivado críticas e protestos muito mediáticos organizados pelo partido, Rui Fonseca e Castro ressalva que “ninguém tem nada a ver com a sexualidade das pessoas”, mas que os movimentos LGBTQIA+ são “movimentos políticos” pós-modernos que não têm “qualquer sustentáculo na realidade, na biologia e na Ciência”. Nesse sentido, defende a sua proibição, pelo menos nas escolas, bem como das “marchas” do orgulho LGBT.
Finalmente, no que respeita às aspirações do Ergue-te para o futuro, Rui Fonseca e Castro diz que o partido pretende vir a “formar governo” um dia.
O The Blind Spot convidou todos os partidos – com e sem assento parlamentar – para uma entrevista no âmbito das próximas eleições legislativas de 18 de Maio.
Desta forma, pretende conceder um tratamento igual a todas as forças partidárias, dando oportunidade aos seus líderes de apresentarem as principais propostas que têm para o país.
Até à véspera das eleições, as entrevistas serão publicadas no nosso canal do Youtube e também em edição no nosso site (www.theblindspot.pt), além de disponibilizarmos pequenos excertos nas redes sociais.
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