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70 mil manifestam-se em Praga contra aumento do preço da energia

Prague demonstration

Cerca de 70 mil pessoas manifestaram-se sábado, dia 3 de setembro, no centro de Praga contra o aumento da inflação e do preço da energia. As posições do governo checo, da União Europeia e da NATO relativamente ao conflito na Ucrânia foram alvo de críticas.

“O objetivo da nossa manifestação é exigir mudanças, principalmente para resolver o problema dos preços da eletricidade e do gás que vão destruir a nossa economia no outono“

Jiří Havel, um dos organizadores do evento. 

O protesto, intitulado “República Checa em primeiro lugar”, foi convocado por várias organizações políticas e civis, incluindo grupos de extrema direita e o partido comunista checo, que exigem a demissão do executivo dirigido por Petr Fiala.

Segundo o site checo iDNES.cz, os organizadores da manifestação querem mitigar o efeito da crise de energia e reparar os estragos. Eles exigem a libertação da economia doméstica da dependência das empresas estrangeiras, neutralidade militar e a garantia de contratos diretos com os fornecedores de gás a preços reduzidos, em especial com a Rússia. De acordo com a organização, a República Checa precisa de mudar o sistema de distribuição e de pagamentos da eletricidade para não pagar a intermediários nos mercados bolsistas.

O primeiro-ministro checo, Petr Fiala, disse que a manifestação foi organizada por “forças que têm orientações pró-russas, com posições extremistas e que estão contra o interesse da República Checa.”

O Ministro do Interior, Vít Rakušan, disse que leva a sério as preocupações dos manifestantes.

“É por isso que estamos a trabalhar para encontrar soluções que vão aliviar o medo das pessoas no futuro. Mas as soluções não passam por uma inclinação em favor da Rússia de Putin”,

Vít Rakušan, Ministro do Interior checo

Ao mesmo tempo, alertou que é necessário não permitir a divisão do público. “A divisão da sociedade é um dos objetivos da guerra híbrida que estamos a enfrentar”, escreveu Rakušan no Twitter.

O porta-voz do Ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Oleg Nikolenko, criticou a manifestação

“Condenamos os esforços dos participantes nas ações pró-russas para justificar a guerra da Rússia contra a Ucrânia. É um insulto contra a honra e a dignidade dos ucranianos que, à custa das suas vidas, defendem a liberdade na Europa”.

Oleg Nikolenko, Ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano

Segundo a polícia, a manifestação contou com cerca de 70 mil participantes e decorreu pacificamente na Praça Venceslau, em Praga.

Os protestos ocorreram no dia seguinte ao anúncio do encerramento por tempo indefinido do Nord Stream 1, o sistema responsável pelo fornecimento de gás natural da Rússia para a Europa Central. A inflação na República Checa é atualmente de 17% e o banco central do país prevê que chegue nos próximos meses aos 20%.

Os argumentos dos protestantes

A Alemanha foi um dos principais alvos de especialistas de energia e de economia que discursaram na manifestação. Ivan Noveský e Vladimír Štěpán criticaram o funcionamento e os preços elevados do European Energy Exchange, um mercado bolsista que define os preços da energia e derivados, localizado na cidade alemã de Leipzig.

Milhares de manifestantes em Praga protestam contra aumento do preço da energia e interferência europeia
Foto: AP – Petr David Josek

Miroslav Ševčík, reitor da Universidade de Economia de Praga, rejeitou os objetivos do Green Deal (projeto da Comissão Europeia para tornar a Europa o primeiro continente ambientalmente neutro) e acusou a Alemanha de querer dominar a República Checa, com a ajuda da União Europeia.

Do lado dos políticos, Zuzana Majerová, do partido de direita Tricolor, que se designa como sendo social-conservador, disse: “A República Checa precisa de um governo checo. O atual pode ser ucraniano, de Bruxelas, mas certamente que não é checo”. Segundo Majerová, “o governo deve diminuir os impostos e terminar com as sanções contra a Rússia que estão a prejudicar os empreendedores checos, como também parar com o envio de armas para a Ucrânia”. “Esta não é a nossa guerra”, disse Zuzana Majerová.

Josef Skála, do Partido Comunista, também falou aos manifestantes e apelou à cooperação das diferentes forças políticas. “Não vamos continuar com as guerras de antigamente. A direita precisa de uma esquerda civilizada. Temos que voltar a estar na primeira liga da economia mundial. Se continuarmos juntos, vamos forçar este governo e futuros governos a fazerem isso”, disse o dirigente comunista.

Créditos da foto principal: Jan Zátorský, MAFRA

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