As notícias dos últimos dias dão conta que os hospitais nacionais estão perto do limite, com taxas de ocupação hospitalar Covid muito elevadas, a recusar doentes e perto da rutura. Os números de ontem (14/10) indicam que estavam 135 pessoas nas UCI e 957 internadas. Estes números estão perto do limite do país?
Entre os dia 2 e 30 de abril, o número de internados esteve quase sempre acima dos 1000 casos, e entre o final de março e o início de maio, o indicador de doentes internados em UCI ultrapassou muitas vezes os 200 casos. O pico destas duas referências foi atingido em abril – 1302 internados (16/04) e 271 nas UCI (7/04).
De acordo com um inquérito que a Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) deu a conhecer em maio de 2020, durante a “1ª vaga”, a taxa de ocupação das enfermarias Covid fixou-se nos 48,8%, e a taxa dos Cuidados Intensivos Covid nos 31,6%.
Este inquérito demonstrou, de acordo com a análise do presidente da SPMI, João Araújo Correia, que os hospitais ficaram “muito longe da rutura”.
Se o país tem atualmente menos casos de internamento e nas UCIs, face aos números de abril, como se explica o cenário de “rutura” e os 80% e 100% de ocupação quando existem menos casos de internamento?
Após o período de maior impacto, o Governo assegurou que estaria a preparar o próximo inverno, para uma eventual segunda vaga, em termos humanos e técnicos. De acordo com os dados disponíveis, temos atualmente mais camas em UCI que em abril.
O The Blind Spot tentou saber junto da DGS, da ACSS e das diferentes ARS quais os recursos efetivamente disponíveis para doentes Covid, e apurar a quantas camas correspondem efetivamente às percentagens reveladas. Não obtivemos resposta.
Na conferência de imprensa de dia 9 de outubro, o presidente da ARS de Lisboa e Vale do Tejo, indicou que os 13 hospitais desta região têm 503 camas dedicadas a doentes Covid-19, e 88 para doentes em espera de confirmar o diagnóstico. À data da conferência, existiam 383 doentes internados e Luís Pisco confirmou: “ainda estamos distantes de esgotar as camas que temos para doentes Covid”.
Em relação às unidades de cuidados intensivos, na região de LVT há 98 camas para doentes Covid-19. O mesmo responsável avançou que existe nos hospitais da região de LVT um plano com três níveis de contingência conforme a situação epidemiológica. Se necessário, o número total de camas pode chegar às 917 camas e, no caso das unidades de cuidados intensivos às 185.
Os valores percentuais de ocupação revelados nos últimos dias podem não traduzir a realidade do país, mas podem ser fiéis à realidade de alguns hospitais. Ainda assim, as percentagens têm de ser lidas no contexto dos recursos disponíveis. 80% de taxa de ocupação pode não corresponder a um número elevado de doentes.
O Hospital Beatriz Ângelo, por exemplo, que serve quatro concelhos (490 mil habitantes) – Loures, Odivelas, Mafra e Sobral de Monte Agraço – tem 22 camas de cuidados intensivos, mas apenas 6 camas estão reservadas para doentes Covid. Neste caso, 80% de ocupação representa sensivelmente 5 camas.
O hospital Beatriz Ângelo, em Loures, atingiu no dia 8 de outubro a capacidade máxima nos cuidados intensivos.
Em declarações à SIC Notícias, Patrícia Pacheco, diretora do serviço de infecciologia do Hospital Francisco Fonseca, indicou que:
“O risco de rutura do sistema é real. Não estou a dizer que estamos em rutura do sistema. Claro que nesta fase não estamos em rutura do sistema, mas a rapidez com que isto pode ocorrer é que acho que está a escapar na avaliação que estão a fazer desta situação.”
O número de casos positivos Covid tem estado a aumentar nas últimas semanas, mas o número de mortes tem sofrido apenas flutuações ligeiras.