Quase mil cancros da mama, do colo do útero e do cancro colorretal não foram diagnosticados nos últimos 8 meses, devido às políticas de combate à Covid-19 impostas no nosso país.
A estimativa é da Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC) que aponta o dedo ao Governo e deixa o alerta de que este deve “melhorar a operacionalização dos Cuidados de Saúde Primários.”
A referenciação da doença oncológica, que tem início habitual nos Cuidados de Saúde Primários (centros de saúde) tem vindo a falhar por via da grande diminuição de consultas presenciais e, consequentemente, pela redução de exames de diagnóstico que permitam detetar o cancro.
De acordo com o presidente da Liga Portuguesa Contra o Cancro, Vítor Rodrigues:
“A recuperação no diagnóstico da doença oncológica não parece estar a acontecer. Os Hospitais conseguiram retomar alguma normalidade no tratamento nos últimos meses, sobretudo a partir de junho, mas não estão a conseguir recuperar o trabalho perdido. Urge retomar e recuperar, quanto possível, as consultas e exames de diagnóstico que tiveram uma queda brutal durante este período de pandemia.”
A LPCC diz que os números apurados revelam uma realidade preocupante no que diz respeito ao diagnóstico precoce e posterior tratamento da doença, lembra que o combate a esta doença deve continuar a ser uma prioridade e que não pode ficar em segundo plano face à pandemia de covid-19.
“Se medidas não forem tomadas de forma urgente, vamos continuar a ter atrasos nos diagnósticos e no tratamento de cancro, com inevitável impacto negativo na sobrevivência e na mortalidade, a médio prazo”, sublinhou Vítor Rodrigues.
De acordo com as administrações regionais de Saúde (ARS), em anos anteriores, as taxas de adesão aos rastreios rondaram os 80% no caso do colo do útero, os 60% na mama e os 50% no do colorretal. A tendência mantinha- se no início do ano, mas “diminuiu progressivamente, podendo espelhar um receio da população na ida aos serviços de saúde”.
De acordo com o estudo da Ordem dos Médicos e da APAH, entre janeiro e julho deste ano foram realizados menos 4% de rastreios do cancro da mama, menos 3% do cancro do colo do útero e menos 2% do cancro do colon e reto.
Estas percentagens parecem baixas, mas representam milhares de pessoas.
Há pouco tempo, a LPCC denunciou também que tem sido cada vez mais difícil para doentes oncológicos terem acesso à avaliação das juntas médicas. Mais de 90% dos doentes continuam à espera.
Esta avaliação, que atribui atestados de incapacidade, é essencial para quem recebe um diagnóstico de cancro e quer ter acesso a benefícios fiscais ou a uma comparticipação na compra próteses mamárias ou capilares.
A Liga Portuguesa Contra o Cancro estima que estejam a ser realizadas apenas 5 a 10% das juntas médicas para a atribuição de atestados de incapacidade aos doentes oncológicos.