Um estudo realizado em Wuhan, que teve por base testes realizados a quase 10 milhões de residentes, revelou que “não houve indícios de transmissão de pessoas positivas assintomáticas a contactos próximos e não houve casos positivos assintomáticos em 96,4% das comunidades residenciais”.
“As culturas de vírus foram negativas para todos os casos assintomáticos positivos e “re-positivos”, indicando a ausência de um “vírus viável” nos casos positivos detetados neste estudo.”
O estudo teve por base um programa de rastreio de ácido nucleico (RNA) do SARS-CoV-2 que contemplou todos os residentes da cidade, com idade superior a seis anos – um total de 9 899 828. Os testes foram realizados entre 14 de maio e 1 de junho de 2020.
De acordo com as conclusões agora divulgadas pela Nature, o rasteio não encontrou novos casos sintomáticos entre os 9 865 404 participantes sem historial de Covid-19, mas identificou 300 casos assintomáticos. Foram identificados 1 174 contactos próximos dos casos positivos assintomáticos – todos eles testaram negativo para a Covid-19.
O relatório deste estudo sublinha que, apesar de estudos anteriores indicarem que os indivíduos assintomáticos infetados com o vírus SARS-CoV-2 eram infeciosos, e poderem subsequentemente tornar-se sintomáticos, “comparados com os doentes sintomáticos, as pessoas infetadas assintomáticas têm geralmente uma baixa quantidade de carga viral e uma curta duração de descarga viral, o que diminui o risco de transmissão do SARS-CoV-25.”
“No presente estudo, a cultura do vírus foi realizada em amostras de casos positivos assintomáticos, e não encontrou nenhum vírus SARS-CoV-2 viável. Todos os contactos próximos dos casos positivos assintomáticos testados deram negativo, indicando que os casos positivos assintomáticos detetados neste estudo eram pouco suscetíveis de serem infeciosos.”
Anticorpos
Foram então realizados testes sanguíneos aos residentes a quem foi detetada a presença do vírus. Segundo o estudo, os testes de anticorpos contra o vírus SARS-CoV-2 foram IgG (+) (positivos para anticorpos de longa duração) em 190 dos 300 casos assintomáticos, “indicando que 63,3% dos casos assintomáticos positivos (para o vírus) foram realmente infetados”. A proporção de casos assintomáticos positivos com IgM (-) (negativos para anticorpos de curta duração) e IgG (-) foi de 36,7%, “indicando a possibilidade de janela de infeção ou resultados falsos positivos do teste do ácido nucleico”.
“A carga viral do vírus SARS-CoV-2 pode estar a enfraquecer com o tempo, pelo que as pessoas recentemente infectadas seriam mais propensas a serem assintomáticas e a transportarem uma carga viral menor, comparativamente aos casos anteriormente infectados”, diz o relatório, citando outros estudos laboratoriais e genéticos existentes.
Enquadramento do estudo
Durante os primeiros dois meses após a reabertura da cidade, houve apenas alguns casos esporádicos da Covid-19 em Wuhan (seis casos confirmados de 8 de abril a 10 de maio de 2020). No entanto, as preocupações quanto ao risco de reinfeções em Wuhan afetou a retoma da economia e da vida profissional dos residentes. A fim de determinar o estado da epidemia, o governo municipal de Wuhan efetuou um rastreio completo de ácido nucleico da infeção por SARS-CoV-2 em toda a cidade – um programa de rastreio em massa em cenários pós-lockdown. O rastreio testou um total de 9 899 828 pessoas das 10 652 513 pessoas elegíveis (taxa de participação, 92,9%). Do total de participantes, 9 865 404 não tiveram nenhum diagnóstico prévio e 34 424 foram pacientes recuperados.
O relatório explica ainda que todos os casos positivos assintomáticos e os seus contactos próximos foram isolados durante pelo menos 2 semanas até os resultados dos testes de ácido nucleico serem negativos. “Nenhum dos casos positivos detetados, ou os seus contactos próximos, se tornaram sintomáticos ou foram confirmados como casos Covid-19 durante o período de isolamento.”
Dois meses após a realização deste programa de rastreio (até 9 de agosto de 2020), não foram confirmados casos de Covid-19 em Wuhan.
