1,9% da população portuguesa desenvolveu anticorpos contra a Covid-19 até setembro deste ano, de acordo com o maior inquérito serológico realizado até à data no nosso país. O estudo – que pretendia analisar o grau de imunidade dos portugueses ao SARS-CoV-2 – foi realizado pelo Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes (iMM) e envolveu mais de 13 mil voluntários.
Apesar de esta ser uma percentagem baixa, a prevalência de 1,9% de seropositivos indica que, até setembro, pelo menos 195.000 pessoas estiveram já em contacto com o vírus, um número bastante superior aos 75.542 casos oficialmente registados até 30 de setembro em Portugal.
A prevalência da infeção encontrada foi associada à primeira vaga da pandemia, apesar de o inquérito ter decorridos entre 8 de setembro e 14 de outubro de 2020. De acordo com o documento:
“Dado que a produção de anticorpos aumenta a partir do momento da infeção e podem ser necessárias duas semanas para os detetar numa amostra de sangue através de um teste serológico, os resultados referem-se a pessoas que terão sido infetadas desde o início da pandemia até meados de Setembro.”
Maior imunidade nas cidades
A prevalência estimada é superior nas regiões de alta densidade populacional: 2,5% nas regiões de alta densidade populacional, face a 1,4% nas regiões de média densidade e 1,2% nas regiões de baixa densidade populacional.
Jovens têm mais anticorpos
O inquérito serológico mostra ainda que os jovens com menos de 18 anos têm níveis ligeiramente superiores deste tipo de imunidade à doença – 2,2% no grupo dos menores de idade, face a 2,0% entre os indivíduos com idades compreendidas entre os 18 e os 54 anos e 1,7% entre os indivíduos com mais de 54 anos. Esta diferença acentua-se quando se cruzam os grupos etários com as densidades populacionais. Neste caso, a seroprevalência nos jovens com idades inferiores a 18 anos que vivem em zonas de elevada densidade populacional é significativamente superior – 3,2%.
Bruno Silva-Santos, vice-diretor do iMM e investigador principal deste estudo refere:
“Os resultados deste estudo permitem fazer um retrato da primeira vaga de COVID-19 e mostram que o país conseguiu “achatar a curva” na primeira onda da pandemia, o que se traduz numa prevalência estimada da infeção por SARS-CoV-2 de apenas 1,9% na população. Não surpreendentemente, os números são claros a mostrar que esta prevalência aumenta com a densidade populacional, assumindo um valor estatisticamente superior nas regiões de alta densidade. Estamos ainda a trabalhar os dados dos questionários de saúde, fatores associados com a sintomatologia da COVID-19 e outras doenças, o que nos permitirá fazer uma análise mais completa sobre este retrato da primeira vaga da pandemia. A situação pandémica é hoje diferente da que retratámos neste estudo e por isso, é importante agora seguir e compreender a evolução da infeção através do acompanhamento de um subgrupo representativo destes cidadãos.”