Uma análise feita a 123 pacientes com morte Covid confirmada num hospital da Suécia concluiu que, apesar de a certidão de óbito estipular a Covid-19 como causa de morte, existiam outras doenças associadas que podem ter contribuído ou mesmo ser decisivas para a morte – como doença cardíaca e pulmonar grave ou cancro em estado avançado. A análise revela que a Covid foi a principal causa de morte em 25% dos casos, um fator que contribuiu para a morte em 60% dos pacientes e não teve qualquer relação com a morte de 15% dos doentes.
O estudo, feito na região de Östergötland com o objetivo de criar um perfil dos pacientes, confirmou que 98 pessoas morreram na enfermaria e 25 na unidade de cuidados intensivos. Entre estes últimos, o novo coronavírus foi considerado como causa predominante de morte – 72%. Entre os óbitos que ocorreram na enfermaria, a Covid-19 foi maioritariamente considerada como uma das doenças que contribuiu para a morte – 60% dos casos. Para 14% dos doentes que morreram na enfermaria e para 16% que morreram na UCI a causa da morte não foi provavelmente a infeção por Covid-19.
“Em 15% das mortes ocorridas no hospital, a causa foi atribuída a outras causas que não a Covid-19, tanto no contexto de enfermaria como de unidade de cuidados intensivos”, diz Stefan Franzén, diretor médico na região de Östergötland.
Doenças associadas
Esta revisão revelou que aqueles que morreram no hospital, na grande maioria dos casos, tinham várias doenças associadas. Quatro em cada cinco óbitos registados na enfermaria tinham pelo menos três comorbilidades graves (82%). Nove em cada dez tinham fragilidades significativas ou graves (90%). Esta percentagem é mais reduzida nas UCIs – com 52% e 44%, respetivamente.
De acordo com o estudo, existia uma doença pulmonar previamente conhecida em 28% dos óbitos registados na enfermaria (principalmente DPOC e em alguns pacientes asma, fibrose pulmonar, metástase), e doença renal crónica em 32 pacientes (46%) que morreram na enfermaria. Nove tinham insuficiência renal avançada (estágio 5) com necessidade de hemodiálise. Foi identificada doença pulmonar em quatro (16%) pacientes que morreram na UCI e insuficiência renal crónica em dois pacientes.
Dois em cada três doentes que morreram na enfermaria, e metade dos óbitos nas UCI, tinham obesidade.
“Muitos dos doentes que acabaram por morrer no hospital estavam doentes e mais frágeis mesmo antes de serem infetados pelo Covid”, referiu Stefan Franzén. “Os que morreram nas unidades de cuidados intensivos apresentavam comorbilidade e fragilidades mais extensas que aqueles que morreram na enfermaria.”
“É uma doença complexa, em que quem está realmente frágil e tem muitas doenças diferentes tem mais dificuldade em responder eficazmente aos cuidados intensivos.”
Mais velhos morreram na enfermaria
A média de idades dos doentes que morreram na enfermaria foi mais alta (83 anos) que a dos que morreram nas unidades de cuidados intensivos (69 anos). Apenas nove pacientes com menos de 60 anos morreram no hospital. Stefan Franzén explica esta diferença com o facto de existirem mais comorbilidades e fragilidades nas pessoas mais velhas, que não conseguem beneficiar dos cuidados intensivos. A fragilidade significativa ou grave caracterizou a maioria dos pacientes nas enfermarias (90%), mas é menos comum nas UCIs – 11 pacientes (44%).
Esta revisão também confirma o quadro de longos períodos de tratamento nos pacientes com Covid-19 nos cuidados intensivos. O tempo médio de internamento dos pacientes que morreram na enfermaria foi de 6,8 dias, nas UCIs foi de 21,6 dias, com variação de 1 a 101 dias.
Contexto do estudo
A análise foi feita a 123 pacientes com morte confirmada Covid num dos três hospitais de Östergötland. Esta região reviu todos os registros médicos para analisar estes óbitos com base na idade, sexo, comorbilidades e fragilidades existentes antes da covid-19. O objetivo foi avaliar até que ponto a Covid-19 causou a morte do paciente. A análise foi feita a pacientes que morreram até 31 de julho.