Marta Temido pediu aos hospitais de Lisboa para disponibilizarem rapidamente a capacidade máxima de camas, dentro das respetivas possibilidades, para otimizarem o combate à pandemia.
O pedido da Ministra da Saúde foi feito durante a reunião de ontem com os hospitais de Lisboa e entendida, de acordo com o DN, “como um recado para os hospitais que ainda não atingiram a sua taxa de esforço” – como os do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central (CHULC) – S. José, Capuchos, Santa Marta, Dona Estefânia, Curry Cabral e Maternidade Alfredo da Costa – e do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN) – Santa Maria e Pulido Valente.
A notícia indica que estes hospitais registavam uma taxa de esforço de 25% e 32,1%, respetivamente, enquanto as outras unidades da periferia da capital já estavam com taxas acima dos 40%, 50%, 60% e 70%.
Ontem, sete hospitais pediram maior equilíbrio na distribuição de doentes entre unidades periféricas e centrais, alegando que as desigualdades geram maior pressão em determinados hospitais, enquanto outros registam taxas claramente abaixo do valor médio dos hospitais da região.
É o exemplo dos centros hospitalares universitários de Lisboa Central e Lisboa Norte, com ocupações de 25% e 32,1%. A 22 de janeiro, a média fixava-se nos 44,4%. Esta desigualdade é maioritariamente sentida no internamento em enfermaria, uma vez que nos cuidados intensivos “a situação é mais equilibrada”.
A exceção vai para o Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, que apresenta uma taxa de esforço de 50,6%.
A carta divulgada pelo jornal I, diz:
“Os Centros Hospitalares de Setúbal e Barreiro/Montijo e os Hospitais Beatriz Ângelo, Garcia de Orta, José de Almeida, Prof. Doutor Fernando Fonseca e de Vila Franca de Xira apresentam taxas de esforço do seu internamento de doentes covid-19 em enfermaria, no dia 22 de janeiro, situados entre os 45% e os 71%”.
O mesmo acontece com os centros hospitalares mais pequenos. Segundo o DN, a taxa do Centro Oeste, que integra o Hospital de Peniche e Torres Vedras, é de 43%, enquanto a do Médio Tejo, que abrange as unidades de Abrantes, Torres Novas e Tomar, é de 38,7%, e a de Santarém 39,7%.
Nos próximos dias, Lisboa Central deverá abrir mais uma enfermaria no Curry Cabral e mais camas em UCI, enquanto o CHULN deve abrir uma enfermaria com mais de 20 camas, mais camas em UCI e mais espaço na urgência Covid.
Também ontem o presidente da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP) indicou que os hospitais privados têm atualmente 894 camas afetas ao Serviço Nacional de Saúde e internados com Covid-19 – 230 doentes, 51 em cuidados intensivos.
Este pedido de reforço surge um dia depois de Marta Temido, em entrevista à RTP, ter adiantado que o Governo está a “acionar todos os mecanismos” a nível internacional, e equacionar transferir doentes para o estrangeiro, devido à grande pressão nos hospitais do país, causada pela pandemia de covid-19.
Taxas de ocupação
Apesar de não termos ainda os dados de Dezembro, a taxa de ocupação hospitalar e o número total de urgências foram, desde o início da epidemia até Novembro, muito mais baixas do que nos últimos anos segundo dados oficiais. A mortalidade fora dos hospitais também disparou, de acordo com o INE – 5 453 óbitos, mais 68,7% face à média de 2015-2019 em período idêntico.
O facto de existirem múltiplos relatos de pré-rotura, o recurso ao setor privado e o reconhecimento de dificuldades por parte de vários intervenientes tem sido justificado por diversas formas. Entre elas:
– O quadro clínico da doença e a gestão de circuitos “Covid” e “não Covid”, que consumem mais recursos e são menos eficientes.
– As diferenças de pressão entre as várias regiões (e hospitais) e a gestão da distribuição de doentes.
– A testagem através do teste PCR que pode ser demasiado sensível e detetar muitos positivos não infeciosos, o que tem consequências várias na gestão hospitalar e na capacidade de resposta.
– A utilização de critérios sem considerar a evidência científica atual, o que pode estar a impedir a alta clínica de utentes e assim a libertação de camas, o que dificulta a drenagem de doentes Covid.
– A rotura de fármacos, que também foi recentemente avançada como o fator limitante por um conselheiro do governo.