O ECDC diz que “a utilização de respiradores em detrimento de outros tipos de máscaras faciais na comunidade não é considerada atualmente justificável, tendo em conta os potenciais custos e danos”. Na mais recente revisão feita ao relatório técnico que analisa a eficácia das máscaras usadas na comunidade na redução da transmissão do SARS-CoV-2, o ECDC refere que “o valor acrescentado previsto na utilização universal de respiradores na comunidade é muito baixo”, e sublinha alguns pontos:
- A eficácia dos respiradores depende da sua correta colocação e utilização. Se estas não forem adequadas a eficácia é reduzida.
- A respirabilidade e o conforto são reduzidos e os problemas de pele são mais frequentes com este tipo de equipamentos, nomeadamente se forem utilizados por mais tempo que o recomendado.
- Alguns respiradores com válvula desprotegida para facilitar a exalação não impedem a libertação de partículas respiratórias do utilizador para o ambiente e, como tal, podem não ser apropriados como meio de controlo em caso de infeções respiratórias.
- O custo de respiradores é significativamente mais elevado que o das máscaras faciais.
“As provas científicas muito limitadas relativas à utilização de respiradores na comunidade não apoiam a sua utilização obrigatória enquanto substitutos de outros tipos de máscaras faciais. Embora não se espere que os respiradores sejam inferiores às máscaras faciais não médicas ou médicas, devem ser tidas em conta as dificuldades para assegurar a sua adequada adaptação e utilização em ambientes comunitários, bem como os potenciais efeitos adversos relacionados com uma menor respirabilidade.”
Estudos sobre eficácia dos respiradores
Os respiradores, N95 ou PFF2, têm sido cada vez mais considerados para utilização na comunidade, em particular desde o surgimento das novas variantes alegadamente mais transmissíveis do SARS-CoV-2. Alemanha, França e Áustria são alguns dos países que obrigam à utilização destes modelos na comunidade. De acordo com o relatório, o EDCD não identificou qualquer RCT que analise o impacto dos respiradores na transmissão comunitária de qualquer infeção respiratória numa pandemia.
Um estudo realizado em ambientes domésticos, que compara respiradores, máscaras faciais médicas e não utilização de máscara para prevenção da gripe, não mostrou qualquer diferença na incidência da infeção entre os grupos que usaram respiradores e máscaras faciais médicas.
Outros estudos realizados em ambiente hospitalar/clínico mostram resultados contraditórios ou estatisticamente pouco relevantes, quando comparam os respiradores com as máscaras médicas num cenário de doenças semelhantes à gripe. Os estudos experimentais sugerem uma melhor capacidade de filtragem dos respiradores, face às máscaras médicas, mas existem inúmeras variáveis envolvidas que podem condicionar essa eficácia.
“Devido a dificuldades em assegurar uma utilização adequada e correto ajuste dos respiradores na comunidade, espera-se que qualquer possível valor acrescentado dos respiradores na prevenção de infeções respiratórias seja inferior na comunidade, quando comparado com ambientes associados aos cuidados de saúde.”
Posição do ECDC sobre as máscaras duplas
Recentemente o CDC atualizou as suas recomendações para o uso de máscaras com base num estudo experimental, e sugeriu a utilização de duas máscaras, uma de tecido sobre a máscara de pano, e a colocação de nós nos elásticos próximos da máscara. Sobre esta recomendação do CDC e sobre o estudo divulgado por este organismo, o relatório do ECDC diz que:
“Os resultados de tais estudos experimentais não podem ser diretamente extrapolados para situações da vida real, uma vez que estas opções não demonstraram diminuir a transmissão de infeções respiratórias virais, nem as máscaras faciais e outros produtos utilizados em tais experiências são representativos do que é usado na vida real. Considerações sobre a respirabilidade com o aumento do número de camadas também estão em falta.”
Posição sobre o uso de máscaras na comunidade
No seu mais recente relatório técnico, o ECDC mantém a sua recomendação de que “as máscaras faciais devem ser consideradas enquanto intervenção não-farmacêutica, em combinação com outras medidas, nos esforços de controlo da pandemia Covid-19.
No entanto, continua a assumir que “as provas relativas à eficácia das máscaras faciais médicas para a prevenção da Covid-19 na comunidade apontam para um efeito protetor pequeno a moderado, mas ainda existem incertezas significativas sobre a dimensão deste efeito. As provas relativas à eficácia das máscaras faciais não médicas, viseiras e respiradores na comunidade são escassas e de muito baixa certeza”.