O governo sueco indicou que iria reforçar as leis de liberdade académica no seguimento de uma onda de ameaças e ataques violentos a um importante investigador sueco na internet, que levaram este profissional a abandonar publicamente o seu trabalho feito na área da Covid-19.
Jonas F Ludvigsson, pediatra do Hospital Universitário de Örebro e professor de epidemiologia clínica no Instituto Karolinska, publicou um documento no New England Journal of Medicine, a 6 de Janeiro, com dados que indicavam que apenas 15 crianças (1-16 anos) tinham sido tratadas numa unidade de cuidados intensivos com Covid-19 ou síndrome multi-inflamatória (MIS-C), ligada à Covid-19, entre 1 de março e 30 de junho de 2020.
“Isto é o equivalente a 0,77 pacientes nos cuidados intensivos – por 100 000 crianças nessa faixa etária. Quatro das crianças tinham doenças subjacentes. Nenhuma das crianças morreu no prazo de dois meses após o seu período de tratamento intensivo”, diz o investigador no documento.
Após os ataques e ameaças, Ludvigsson disse que iria abandonar todo o trabalho relacionado com a Covid, mas defendeu o documento publicado indicando este teve por base um estudo real, submetido a uma revisão externa formal por pares, incluindo revisão estatística, e revisto quatro vezes antes de ser publicado.
A ministra sueca do ensino superior e investigação, Matilda Ernkrans, disse ao BMJ:
“É profundamente preocupante quando os académicos são ameaçados ao ponto de não terem coragem de continuar o seu trabalho. Este não é um fenómeno novo, mas as ameaças têm aumentado contra os académicos que investigam o coronavírus. Quando as pessoas são silenciadas estamos perante uma ameaça contra a liberdade de expressão e a nossa democracia.”
Ludvigsson é apenas um de muitos cientistas que estão a sofrer represálias pela partilha das suas investigações, de acordo com Ole Petter Ottersen, presidente do Instituto Karolinska. “Numa situação com tantas incógnitas, é importante que as opiniões sejam expressas e os especialistas ouvidos, mesmo que as suas opiniões sejam contrárias às políticas atuais”.
“Precisamos de assegurar que os nossos investigadores compreendam o conceito e o valor da liberdade académica e a responsabilidade que lhe está associada. Aqui ainda temos um caminho a percorrer“.
As ameaças e o ódio contra a Agência de Saúde Pública também aumentaram e vários gestores e funcionários estão já com proteção policial.
“Foi tão longe que temos ameaças de morte que estão a ser investigadas pela polícia”, diz o CEO da FHM, Johan Carlson.
Anders Tegnell, Karin Tegmark Wisell e outros profissionais estão entre os mais vulneráveis. Por vezes, as ameaças são também dirigidas a membros da família.
A Suécia foi um dos poucos países a manter todas as escolas abertas durante a Primavera de 2020 e não decretou medidas como o confinamento obrigatório ou a recomendação, ou obrigatoriedade, do uso de máscaras na comunidade.