Um dos tópicos mais referido durante a pandemia é o das possíveis sequelas da doença. Uma das mais referidas diz respeito a um tipo de inflamação cardíaca, a miocardite.
Um estudo, que analisou a prevalência de doenças cardíacas inflamatórias em atletas profissionais previamente infetados com doença coronavírus 2019, mostrou que apenas 5 (0,6%) dos 789 atletas avaliados desenvolveram doenças cardíacas inflamatórias. Os restantes não demonstraram quaisquer problemas e retomaram a atividade desportiva profissional.
O estudo foi feito no seguimento da reabertura das principais ligas desportivas profissionais dos EUA. Dada a incidência desconhecida de sequelas cardíacas adversas após a infeção por Covid-19 em atletas, estas ligas implementaram um programa conservador de testes cardíacos “return-to-play” (RTP), alinhado com as recomendações do Colégio Americano de Cardiologia, que contemplou todos os atletas que testaram positivo.
Dos 789 atletas estudados, 460 (58,3%) eram sintomáticos, 329 (41,7%) eram assintomáticos ou paucisintomáticos (muito poucos sintomas). O resultado da ressonância magnética cardíaca realizada a 5 atletas (0,6%) sugeriu doença cardíaca inflamatória (miocardite – 3; pericardite – 2). Estes atletas foram proibidos de regressar no imediato à atividade desportiva.
“A baixa prevalência de doença cardíaca inflamatória clinicamente detetável nesta população de atletas com Covid-19 oferece um contraponto às descobertas de taxas mais elevadas de miocardite e pericardite relatadas em estudos recentes observacionais baseados em ressonância magnética cardíaca e de pequena coorte“, indicam os investigadores.
“A diferença nas anomalias detetadas e relatadas entre os estudos atuais e os anteriores realçam as dificuldades inerentes à utilização de ressonância magnética cardíaca enquanto instrumento de rastreio único e autónomo na estratificação do risco cardiovascular RTP da Covid-19.”
O estudo sublinha que nenhum dos atletas neste estudo foi clinicamente avaliado como tendo uma doença grave (Covid-19). No entanto, os 5 atletas que foram identificados como tendo doença cardíaca inflamatória, tinham sintomas “que excediam as definições empíricas de doença ligeira Covid-19”, como perda de gosto e olfato, fadiga e tosse sem dispneia.
“Os nossos dados apoiam o conceito de que a carga de sintomas verificada deve ser um ponto de referência primário para orientar os próximos passos na avaliação dos atletas infetados. Os resultados deste estudo apoiam as recomendações de especialistas, que não advogam a estratificação do risco cardiovascular em atletas assintomáticos ou com doença viral ligeira que permanecem assintomáticos, após o fim do período de isolamento apropriado.”
Este estudo transversal analisou os testes cardíacos RTP, realizados entre maio e outubro de 2020, em atletas profissionais que tinham apresentado resultados positivos Covid-19. As ligas desportivas profissionais (Liga Principal de Futebol, Liga Principal de Basebol, Liga Nacional de Hóquei, Liga Nacional de Futebol Americano, e a Associação Nacional de Basquetebol Masculino e Feminino) implementaram requisitos obrigatórios de rastreio cardíaco para todos os jogadores que tinham testado positivo para a Covid-19 antes do reinício das atividades desportivas.
Outro estudo recente que analisou a prevalência e gravidade da miocardite numa população de estudantes desportistas competitivos em recuperação da Covid-19, concluiu que houve uma baixa prevalência de miocardite (1,4%) entre os estudantes atletas em recuperação – sem sintomas ou com sintomas ligeiros a moderados. Foram avaliados apenas 145 estudantes.
De salientar que as infeções virais são responsáveis pela maioria das miocardites e que é estimado que, entre 5 a 25% dos casos de morte súbita em atletas, sejam provocadas por miocardites ou pericardites.
Mesmo na população geral, é estimado que cerca de 10% das mortes súbitas sejam provocadas por este tipo de infeções.