O sistema de Monitorização Diária dos Serviços de Urgência do Serviço Nacional de Saúde revela uma quebra significativa no total de episódios de urgência desde meados de fevereiro de 2020, altura em que a Covid começou a ser reportada em todo o Mundo.
Os números são especialmente mais baixos durante o primeiro confinamento – altura em que muitos serviços de saúde estavam ainda mais limitados e o receio de ir aos hospitais era maior – mas permanecem ainda abaixo da média dos anos anteriores.
Este fator foi referido em distintas análises feitas aos números do ano passado. Em Abril, um inquérito do Centro de Estudos e Sondagens de Opinião da Universidade Católica indicava que por causa do coronavírus 74% dos portugueses estavam com medo de se deslocar aos serviços de saúde e 26% dos inquiridos deixaram de recorrer aos serviços médicos. Em março, os episódios de urgência caíram 45% face ao período homólogo do ano anterior, de acordo com a Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP).
Em Outubro, dados do INE mostravam um aumento da proporção de óbitos em domicílio e outro local (46,1%) – nomeadamente na semana de 16 a 23 de março, período em que o país se encontrava em confinamento. O receio de recorrerem aos serviços médicos foi um dos argumentos apontados.
Em julho, um estudo da ENSP estabeleceu uma ligação entre o número de ocorrências pré-hospitalares por prioridade e o valor diário de mortes em cada ano. Na primeira metade do ano, os portugueses procuraram menos cuidados médicos e os casos classificados como de alta prioridade (1 e 3) caíram entre 11 e 12% – uma “mudança poderá ser em parte explicada pela relutância dos doentes em acionar os meios de assistência pré-hospitalar, mesmo em casos de sintomatologia que justificaria suporte avançado de vida ou suporte imediato de vida, por medo de serem infetados com Covid-19.”
Apesar dos valores mais baixos registados em março do ano passado não se terem repetido até então, estatisticamente, a procura de serviços de urgência continua muito abaixo dos valores médios dos anos anteriores.
Queda das infeções respiratórias
Pela mesma altura, os episódios categorizados como – Outras Infeções Respiratórias – registaram igualmente uma descida significativa face aos anos anteriores. Questionámos o Ministério da saúde para nos explicar o que contemplava esta categoria e onde estavam os casos Covid, mas até ao momento não obtivemos qualquer resposta.
Em Portugal, as doenças respiratórias são uma das principais causas de morte.
Os episódios de Gripe ou Síndrome Gripal também apresentam uma curva quase plana, comparativamente aos anos anteriores. Este registo não é exclusivo de Portugal, a quase ausência de gripe sazonal verifica-se em todo o mundo.
Em dezembro, a gripe continuava com taxa de incidência zero, nove semanas após o início da época gripal. O mais recente relatório do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (semana 10) aponta para uma taxa de incidência de síndrome gripal de 3,96 por 100.000 habitantes.