Mais de meio milhão de pessoas não efetuaram os três rastreios oncológicos que permitem o diagnóstico precoce de cancros da mama, do colo do útero e do cólon e reto, devido à pandemia de Covid-19. Em 2020 apenas 665 mil utentes foram convocados, um número muito abaixo dos mais de 1,2 milhões registados em 2019.
José Dinis, diretor do Programa Nacional para as Doenças Oncológicas da Direcção-Geral da Saúde (DGS), revelou ao jornal Público que a pandemia foi um “balde de água fria” nas metas definidas pelo Plano Nacional de saúde.
O cancro do cólon e reto é o segundo mais mortal e o rastreio é o que tem maior impacto na sobrevivência dos doentes. Atualmente é o que tem uma cobertura mais assimétrica no país e que está mais atrasado.
É importante garantir que há capacidade de resposta dos hospitais, sublinha o mesmo responsável no artigo: “Há hospitais que dizem que não aderem e as ARS têm de convencer os serviços de gastroenterologia [a fazer colonoscopias]. Já foi estabelecido um preço compreensivo para garantir a realização destes exames mesmo fora do horário de trabalho, mas é preciso pagar às equipas. O grande objetivo é que este rastreio chegue a todos os cantos do país”.
A Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC) enviou apenas 276 mil convocatórias para o rastreio de cancro da mama, no ano passado – em 2019 tinham sido remetidas 542 mil. Do total enviado em 2020, apenas registaram 132 mil presenças.
O rastreio do cancro do colo do útero, que atinge mulheres mais jovens, deve ser feito de cinco em cinco anos. Apesar da adesão em 2020 ter sido superior – 87,2% -, pelo facto de os centros de saúde terem sido fechados no início da pandemia foram apenas referenciadas para consulta hospital 7.979 mulheres, em 2019 tinham sido referenciadas 12.572.
José Dinis fala ainda no impacto nas cirurgias oncológicas. No final do ano passado estavam em lista de espera para cirurgia 5.804 pessoas com neoplasias malignas, das quais cerca de 30% (1.728) nos três institutos de oncologia (IPO) do país. No IPO de Lisboa, que é o mais sobrecarregado, em 50% dos casos os tempos de resposta máxima garantida para cirurgia não eram cumpridos. No caso do Porto, tal ocorre em 37% dos casos e no IPO de Coimbra em 22%.