A 17 de março deste ano, estavam internadas 853 pessoas nos hospitais portugueses sem qualquer justificação clínica – o que representa um custo de cerca de 16,3 milhões de euros para o Estado.
Numa altura em que a taxa de ocupação de camas dos hospitais foi muito noticiada, o mais recente Barómetro de Internamentos Sociais* revela que dos 797 doentes internados com Covid-19 à data do estudo, 63 já tinham alta clínica, mas continuavam a ocupar uma cama. Este número é, ainda assim, mais baixo que aquele registado em 2020 – 134 internamentos inapropriados num total de 796 internados.
Numa análise anual, e apesar de este número ser inferior ao registado em 2020 (-45%), os internamentos sociais têm um impacto financeiro estimado de cerca de 100 milhões de euros para o Estado português.
Para Alexandre Lourenço, Presidente da APAH:
“Durante a pandemia ficou demonstrado que a saúde e a segurança social podem trabalhar juntos. Contudo, muito existe a fazer com o intuito de evitar internamentos e assegurar transferências dos utentes em tempo útil para a comunidade – em média, um doente espera mais de mês para ter alta do hospital”.
O Norte (49%) e Lisboa e Vale do Tejo (26%) são as regiões com maior número de internamentos inapropriados – representam cerca de 75% do total dos casos e 81% do total de dias de internamento.
A nível global, a maioria dos casos envolve pessoas com idade superior a 65 anos (77%). No caso dos internamentos inapropriados de doentes Covid-19, esta percentagem sobre para os 83%.
Falta de suporte para saúde mental
Nas unidades psiquiátricas, o número de Internamentos Inapropriados está centrado na região Norte, e há 67% de doentes com idade inferior a 65 anos.
Em 2021, a falta de resposta em Estrutura de Saúde Mental para doentes crónicos surge pela primeira vez no top das causas para os Internamentos Inapropriados.
Tempos de espera
Os internamentos sociais têm impacto direto no número de camas disponível em ambiente hospitalar, mas também no aumento dos tempos de espera para internamentos programados e, consequentemente, “na respetiva degradação dos cuidados de saúde”.
Com um total de dias de internamentos inapropriados próximo dos 29.000 (menos 76% do que os cerca de 120.000 registados em 2020), os casos apresentam uma demora média nacional de 33,6 dias por episódio, menos 57% do que os contabilizados na edição anterior.
Causas para internamentos sociais
Em 2021, as principais causas do número de Internamentos Inapropriados estão relacionadas com a admissão na Rede de Cuidados Continuados (RNCCI) e na Estrutura Residencial para Pessoas Idosas (ERPI). O abandono tinha sido a segunda principal causa dos internamentos inapropriados, em 2019 e 2020.
O mesmo acontece com os internamentos covid-19 inapropriados.
“A falta de resposta da RNCCI representa o principal motivo de Internamentos sociais, incluindo os casos registados devido à Covid-19. A falta de resposta das ERPI é a primeira justificação para o número de dias dos internamentos”, diz o estudo.
O estudo
O *Barómetro de Internamentos Sociais é uma iniciativa da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH) com o suporte da EY, e conta com o apoio institucional da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna e da Associação dos Profissionais de Serviço Social. O estudo contou com a participação de 43 unidades hospitalares do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e do Serviço Regional de Saúde da Madeira (SESARAM), o que no seu conjunto representa 95,6% do total a nível nacional.
A 5ª Edição do Barómetro dos Internamentos Sociais decorreu com algumas alterações, face às edições anteriores, quer pelo contexto pandémico, quer pelas alterações introduzidas ao nível da caracterização das causas de internamento inapropriado. Nesta fase de inquérito, Portugal encontrava-se no final da terceira vaga de infeções por Covid-19.