Todos os anos morrem 700 mil pessoas devido à resistência aos antibióticos, um cenário que pode complicar-se ainda mais no futuro.
A previsão é da Organização Mundial de Saúde, que alerta que se o consumo de antibióticos continuar elevado, infeções simples que existem na atualidade podem vir a ser fatais nos próximos anos e causar a morte de 10 milhões de pessoas até 2050.
Este problema de saúde pública levou a Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF) a pedir consciencialização e responsabilidade na utilização destes medicamentos por parte de médicos, farmacêuticos e da população.
“Anualmente morrem mais pessoas em Portugal devido a infeções associadas aos cuidados de saúde – falamos de bactérias resistentes – do que por acidentes de viação”, alerta Eurico Silva, da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar.
O consumo excessivo de antibióticos provoca resistência aos mesmos, e consequentes falhas no tratamento de doenças que acabam por ser fatais. Dados mostram que, 80% das dores de garganta são causadas por vírus, nas quais os antibióticos não são eficazes.
“O assunto é sério e muito preocupante e está na hora de fazermos alguma coisa para reverter esta situação. É tempo de sermos conscientes e alertar o familiar, o amigo ou o conhecido para este problema e tentar evitar o consumo de antibióticos de forma frequente e desnecessária porque, mais uma vez, relembramos que os antibióticos não são eficazes nas infeções causadas por vírus, situações onde costumam ser recorrentemente utilizados”, conclui.
Portugal não é dos países da Europa com o consumo mais elevado de antibióticos, mas está entre os que tem a resistência mais elevada a este tipo de fármacos, de acordo com José Artur Paiva, responsável pelo Programa de Prevenção e Controlo de Infeções e de Resistência aos Antimicrobianos (PPCIRA).
O consumo de antibióticos registou uma descida na ordem dos 22% nos primeiros oito meses deste ano, segundo dados do Infarmed avançados pelo Público. Esta queda segue a tendência dos últimos cinco anos, mas é significativamente maior que as anteriores. De 2018 para 2019, a redução foi de apenas 238 079 embalagens.
Entre outros fatores, as medidas de contenção da Covid e o facto de as pessoas terem recorrido menos aos hospitais e centros de saúde podem estar na origem desta redução.