A Cochrane, reconhecida organização que faz revisões sistemáticas de estudos de elevada qualidade, fez a atualização sobre “Intervenções físicas para interromper ou reduzir a propagação de vírus respiratórios”.
Nessa revisão sistemática, feita com estudos com o vírus influenza, conclui-se que as máscaras não revelam eficácia na redução da propagação de doenças semelhantes à gripe (ILIs), mas que a lavagem de mãos pode reduzir o número de pessoas que contraem vírus respiratórios.
Este relatório foi feito com base em 67 estudos relevantes, efetuados em países de baixo, médio e alto rendimento em todo o mundo, junto de hospitais, escolas, lares, escritórios, centros de acolhimento de crianças e comunidades durante períodos de gripe não epidémica, durante a pandemia global de gripe H1N1 em 2009, e estações epidémicas de gripe até 2016.
Estes são os resultados:
Higiene das mãos
A higienização das mãos pode reduzir o número de pessoas que apanham uma doença respiratória, do tipo gripe. A análise feita aos 16 estudos avaliados (61.372 pessoas) conclui que “a higiene das mãos é suscetível de reduzir modestamente a carga de doenças respiratórias”, um resultado mais eficaz que aquele revelado pela utilização de máscaras.
“Numa comparação das intervenções de higiene das mãos com controlo (sem intervenção), houve uma redução relativa de 16% no número de pessoas com Infeção Respiratória Aguda (IRA) no grupo que higienizava as mãos (44.129 participantes), sugerindo um benefício provável.”
No global, a análise aos 16 estudos (61.372 participantes) mostra que “a higiene das mãos pode oferecer um benefício com uma redução relativa de 11% de doenças respiratórias, mas com uma elevada heterogeneidade.”
Máscaras
O relatório sublinha ainda que há incerteza quanto aos efeitos das máscaras faciais.
“A certeza pouco moderada das provas significa que a nossa confiança na estimativa do efeito é limitada, e que o verdadeiro efeito pode ser diferente da estimativa observada do efeito. Os resultados conjuntos de ensaios aleatórios não demonstraram uma redução clara da infeção viral respiratória com a utilização de máscaras médicas/cirúrgicas durante a gripe sazonal. Não houve diferenças claras entre a utilização de máscaras médico-cirúrgicas em comparação com os respiradores N95/P2 em profissionais de saúde quando utilizados em cuidados de rotina para reduzir a infeção viral respiratória.”
- Máscaras cirúrgicas – Realizaram-se sete estudos na comunidade e dois estudos com profissionais de saúde. Comparativamente à não utilização de máscara, o uso deste equipamento pode ter feito pouca ou nenhuma diferença no número de pessoas que apanharam uma doença semelhante à gripe (9 estudos; 3507 pessoas); e provavelmente não faz diferença no número de pessoas com gripe confirmada em laboratório (6 estudos; 3005 pessoas).
- Respiradores N95/P2 – Quatro estudos foram feitos com trabalhadores da área da saúde, e um pequeno estudo foi feito na comunidade. Em comparação com o uso de máscaras médicas ou cirúrgicas, o uso de respiradores N95/P2 tem pouco ou nenhum impacto no número de pessoas que confirmaram ter gripe (5 estudos; 8407 pessoas), no número de pessoas que apanham uma doença semelhante à gripe (5 estudos; 8407 pessoas) ou doença respiratória (3 estudos; 7799 pessoas).
Conclusões dos autores
Os autores salientam o alto risco de alguns tipos de viés que “dificultam a obtenção de conclusões firmes e a generalização dos resultados para a atual pandemia de COVID-19.”
“Os resultados combinados de estudos randomizados não mostraram uma redução clara na infeção viral respiratória com o uso de máscaras médicas/ cirúrgicas durante a gripe sazonal. Não houve diferenças claras entre o uso de máscaras médicas / cirúrgicas em comparação com respiradores N95 / P2 em profissionais de saúde quando usados em cuidados de rotina para reduzir a infeção viral respiratória.”
“A higiene das mãos provavelmente reduzirá modestamente o fardo das doenças respiratórias.”
“Há uma necessidade de RCTs grandes e bem planeados que abordem a eficácia de muitas dessas intervenções em vários locais e populações, especialmente naqueles com maior risco de IRA (Infecções Respiratórias Agudas)”
Contexto da revisão sistemática
A Cochrane é uma organização com uma matriz de grande independência política e económica.
Tem como objetivo organizar descobertas de pesquisas médicas para facilitar escolhas baseadas em evidências sobre intervenções de saúde envolvendo profissionais de saúde, pacientes e formuladores de políticas.
O grupo conduz revisões sistemáticas de intervenções de saúde e testes de diagnóstico, que publica na Biblioteca Cochrane.