Não existem evidências de qualidade de que as máscaras reduzam significativamente os contágios de vírus respiratórios.
“Peritos” dizem que a quinta vaga pode já ter começado. E, bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, defende que “devemos ativar as medidas de proteção individual e coletivo. Como é o caso da utilização da máscara em espaços fechados.”
Existem muitos estudos de qualidade reduzida (retrospetivos, feitos em laboratório- de dispersão de partículas- ou apenas baseados em modelos matemáticos teóricos) com resultados contraditórios.
Mas estudos RCTs (controlados e com amostras aleatórias) e revisões sistemáticas, que constituem o topo da evidência científica, apontam numa direção mais definida.
A revisão de evidência da OMS(1), suportada por RCTs, concluí (pág. 26):
“Há uma qualidade geral moderada de evidência de que as máscaras faciais não têm um efeito substancial na transmissão do vírus influenza.”
A revisão sistemática sobre vírus respiratórios da Cochrane(2), conclui:
“Os resultados combinados de estudos randomizados não mostraram uma redução clara na infeção viral respiratória com o uso de máscaras médicas/ cirúrgicas durante a gripe sazonal.
O RCT publicado(3) até ao momento, que incidiu sobre o SARS-CoV-2, não conseguiu encontrar diferenças estatisticamente relevantes entre os grupos de máscaras (cirúrgicas de alta qualidade) e de controlo. Os autores concluíram:
“Os nossos resultados sugerem que a recomendação de usar máscara cirúrgica fora de casa, entre outras pessoas, não reduziu, em níveis convencionais de significância estatística, a incidência de infeção por SARS-CoV-2 em utilizadores de máscara num ambiente onde o distanciamento social e outras condições de saúde pública foram praticadas…”
Por outro lado, a informação e a opinião de peritos encontram-se na base da evidência científica por apresentarem elevado risco de viés e baixa fiabilidade(4). Como explica Danny Minkow, colaborador da Cochrane:
“Esta informação de fundo é importante e útil. No entanto, quando vistas por si só, este tipo de evidência pode ser fortemente influenciado por crenças, opiniões ou mesmo política. Este nível também pode incluir evidências anedóticas.”
Além disso, muitos dos que argumentam sobre o assunto não são verdadeiros peritos sobre essa matéria em concreto, por não terem formação nem trabalho científico significativos na área.
É uma situação em que a evidência de qualidade não condiz com a mensagem que tem sido ativamente divulgada pela comunicação social ou personalidades televisivas.
[1] https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/329438/9789241516839-eng.pdf?ua=1
[2] https://www.cochranelibrary.com/cdsr/doi/10.1002/14651858.CD006207.pub5/full
[3] https://www.acpjournals.org/doi/10.7326/M20-6817
[4] https://s4be.cochrane.org/blog/2014/04/29/the-evidence-based-medicine-pyramid/