Os especialistas alertam para a quinta vaga da Covid 19. A ministra da Saúde, Marta Temido, admitiu que “todos os cenários” estão em aberto. Mas, o bastonário da Ordem dos Médicos não aconselha necessariamente um novo confinamento. Que consequências traria um lockdown?
Um relatório oficial do governo britânico mostra que mais de 200.000 pessoas poderiam morrer devido ao impacto do lockdown e da falta de proteção pelo Serviço Nacional de Saúde.
Especialistas do Departamento de Saúde, do Gabinete de Estatísticas Nacionais, do Departamento Atuarial do Governo e do Ministério do Interior inglês, realizaram um relatório com a previsão dos danos colaterais decorrentes dos atrasos nos cuidados de saúde e os efeitos da recessão resultantes da resposta pandémica.
Inicialmente, estimou-se que, na pior das hipóteses, cerca de 50.000 pessoas morreriam de coronavírus nos primeiros seis meses da pandemia, com medidas de mitigação em vigor.
Contudo, no relatório publicado em abril de 2020, calcularam que até 25.000 poderiam morrer devido a atrasos no tratamento no mesmo período e mais 185.000 a médio e longo prazo – o que equivale a quase um milhão de anos de vida perdida.
O documento salienta também que poderia haver mais 500 suicídios durante a primeira vaga, e entre 600 a 12.000 mortes a mais por ano, resultantes de uma recessão que teve um impacto significativo no PIB.
Preveem também cerca de mais 20 mortes devido à violência doméstica, e um aumento do número de acidentes em casa.
Na pior das hipóteses, cerca de um quarto de milhão de pessoas morreriam se a resposta para combater a pandemia voltasse a ser o lockdown.
Atraso nos diagnósticos
Diferentes estudos têm apresentado um cenário devastador e até caracterizado como uma bomba relógio, o facto de existirem atrasos no diagnóstico de doenças.
Em crianças e jovens, em Inglaterra, como podemos ver neste estudo, registaram-se quase 1.200 mortes ligadas a condições neurológicas e mais de 450 mortes entre menores de 18 anos com doenças respiratórias. Enquanto, 2.083 crianças e jovens estão à espera de tratamento de desordens alimentares.
Nos últimos meses, devido à pandemia, a Organização Europeia do Cancro evidencia que um em cada cinco doentes oncológicos ainda não está a receber tratamento de quimioterapia ou intervenção cirúrgica de que necessita e que cerca de 100 milhões de rastreios na Europa foram cancelados.
No que diz respeito à realização de cirurgias, nos países com confinamento intermédio, o atraso chegou aos 5%, enquanto nos que não fizeram confinamento, foi inferior a 1%.
O relatório em análise foi publicado em abril de 2020.